Deitada no chão daquela sala fria, a vela era a única companhia da ruiva em meio a total escuridão. Eleanor ouvia sua própria respiração e o vento que chiava do lado de fora, fazia a madeira da janela rangir. Estava tão cansada que seu corpo não encontrava uma boa posição para adormecer e acompanhado de uma náusea e dor nas pernas, a noite foi longa até pregar os olhos.
Cochilou por alguns instantes, e logo depois acordou com um rangido um pouco mais alto. Eleanor abriu os olhos e levantou-se do colchão, apoiando seu corpo com um dos braços, enquanto segurava o pires que sustentava a vela na frente dos seus olhos, na esperança de enxergar um palmo a sua frente.
O rangido veio mais forte, e desta vez mais arrastado. Eleanor cerrou os olhos e foi levantando devagar, procurando pela origem do som, que vinha de trás dela em sentido a cozinha. A ruiva ajeitou o vestido fino que usava e começou a caminhar devagar.
Seus pés descalços tocavam o chão gelado e um arrepio interno percorreu seu corpo, descendo até o fim da sua espinha, Se aproximou um pouco mais e viu duas bolinhas cintilantes e espelhadas, um pouco avermelhadas no meio do nada pareciam observar Eleanor. Aquilo foi o suficiente para mantê-la paralisada por alguns instantes, e quando se deu conta, o ruído tinha acabado, em compensação estava sendo observada por o que quer que seja, no meio da escuridão.
Tentou recuar bem devagar. Deus dois passos para trás e respirou. "Ótimo, você está indo bem Eleanor". Quando ia dar o terceiro passo e correr, um miado estridente tomou conta do ambiente e as bolinhas vermelhas assemelharam-se a olhos normais. Stuart passou no meio da pernas de Eleanor e ela pode sentir os pelinhos acariciarem sua pele. Suspirou aliviada e quase riu de si mesma, o ruído não era nada além da refeição matutina do gato da casa, que na verdade começou bem cedo naquele dia.
Voltou para a sala e largou a vela no criado mudo, quando ia pegar no sono de novo, pode ouvir a voz rouca de Cassandra a chamar baixinho:
- Eleanor... Sobe aqui um instante...- E os passos de Cassandra se distanciaram do topo da escada. Eleanor bufou e subiu, segurando no corrimão. Pode ver o vulto de Cassandra mais a frente, entrar no quarto de Lancellot, e franziu as sobrancelhas.
- Eu não sei mais o que fazer, precisa me ajudar - Cassandra estava sentada ao lado de Lancellot, que estava só de cueca, mas suava e tremia muito - Ele está muito quente e até agora não me respondeu
Eleanor aproximou-se, e pegou a bacia de água que Cassandra deixara na cabeceira
- Volto já, abra as janelas do quarto e deixe o local bem arejado - E saiu com a bacia.
Desceu as escadas e foi até a parte de fora da casa, os primeiros raios de sol iluminavam o céu, mas ainda sim, não estava tão claro. Eleanor sentia o vento frio da manhã percorrer seus braços e se arrepiou toda. Caminhou até o riacho que havia perto da casa da amiga, ajoelhou-se na beira do mesmo, sujando sua combinação branca de terra e encheu a bacia com água corrente, e extremante gelada.
Voltou para casa carregando a mesma cautelosamente, para não levar todo seu esforço ao chão. Demorou, mais conseguiu subir as escadas e chegar ao quarto
- Pegue muitos panos Cassandra, por favor - A amiga rapidamente foi até o outro quarto, enquanto Eleanor tirava outros panos da barriga e pescoço de Lancellot, respectivamente. A amiga chegou com os outros panos, e Eleanor, sem perder tempo, afundou na água gelada, e sem torcer muito, colocou um em cada pulso de Lancellot, em seguida na sua testa. O homem começava a se arrepiar e a ruiva sabia que ele logo voltaria ao normal.
- Tá tudo bem, em breve ele vai acordar - Cruzou os braços e respirou fundo sentindo o vento balançar a roupa de cama, e seus cabelos. Quando olhou para baixo percebeu que estava de combinação, e ainda por cima suja.
- Preciso me trocar antes que Lancellot acorde, fique de olho por mim - Ela sorriu e Cassandra concordou. Eleanor foi até o banheiro, retirando o vestido de seda, tomou um banho bem rápido e se trocou adequadamente, com seu vestido tradicional. Quando chegou no quarto, Lancellot já estava com os olhos abertos, mesmo bem debilitado
- Bom dia Lancellot - A ruiva sorriu e o mesmo direcionou o olhar a ela
- Bom dia - Deu uma tossida e respirou fundo - Desculpe por todo trabalho - Ele disse rouco e sem forças
Eleanor deu um breve sorriso e Cassandra, que estava na varanda, viu o mensageiro se aproximar na praça central
- Eleanor.... Viste isso? O mensageiro está aqui
A ruiva foi até a varanda com a amiga, e o mensageiro começou a recitar:
- Caros aldeões, é com grande pesar que vos informo, que os homens do reino de Montesburgo, e todos seus distritos, sendo eles, Valle Nevado, Convales Cristalinos, Monte Floral, Serra Constelada, Lago donairoso e Bosque Eclipsado, São convocados para uma expedição organizada pelo rei Sebastian Vettel, amanhã a partir das 08:30h com finalidade de descoberta de novas terras para reabastecer a econômica local. Os convocados estão nessa lista que será exposta na parede principal do castelo.
- Uma expedição? - Eleanor arregalou os olhos e direcionou a Lancellot - E se ele foi convocado?
Cassandra ficou séria por alguns instantes, levou as mãos aos cabelos e saiu do quarto apressada. Eleanor encarou Lancellot que fechava os olhos devagar e saiu.
Um grande número de pessoas tentava olhar a lista, e Cassandra e Eleanor demoraram até conseguir visualizar. Procuraram feito loucas, no meio do empurra-empurra e perceberam que, sim
Lancellot havia sido convocado
- Ele não tem condições para ir Cassandra, ele não pode ir de jeito nenhum
- Eu sei disso, por isso nós temos um plano B.
- Plano B? Que plano B? - As duas conversavam em tom mais baixo para que ninguém ouvisse, mesmo com todo aquele alvoroço
- Vamos substituir Lancellot, alguém vai no lugar dele!
- Ah claro, e quem seria o idiota que gostaria de ir para uma expedição no lugar de um homem no leito de morte? - Eleanor retrucou
- Eu vou no lugar dele!
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A dama das flores
Historical Fiction"Nem tudo na vida são flores, mas quando for, regue!" Assim pensava Eleanor, uma jovem plebéia crescida no pequeno distrito de Valle nevado, No reino de Montesburgo. A moça fora criada por uma bondosa senhora, chamada Cida e por seu esposo Alírio...