A noite da declaração do rei foi longa e exaustiva, muitas pessoas viraram a noite, indignadas na porta do castelo. Fora uma noite infernal e que finalmente chegara ao fim.
Eleanor naquela manhã, acordou bem mais cedo do que costumava, para buscar mais flores para vender na banca.
Passou pelo enorme portão de ferro e cumprimentou os soldados, que ali já estavam, espalhando sua doçura matinal, Atitude não muito comum entre os moradores do vilarejo, que acordavam amargurados e irritados.
Foi até o monte que enchia seus olhos e sentou-se na grama baixa, assistindo ao sol nascer. Depois, encheu os pulmões de ar e apressou-se para encher sua cesta de palha, com flores coloridas e cheirosas.
Passou também, na cozinha de sua casa para retirar do forno, os biscoitos que Cida havia produzido com muito carinho na noite anterior.
O cheiro dos biscoitos era inconfundível. Todas as Terças-Feiras, ás 5h35 da manhã o cheirinho se alastrava por toda praça central. A essência demasiada de Baunilha e de Cacau que pairava no ar, abriam o apetite, e pareciam aquecer o coração de quem sentia.
E essa sensação se ampliava quando Eleanor começava a passar o café, a fragrância cafeinada que a ruiva tanto gostava. Fazia questão de expirar bem fundo a fumacinha gostosa que a abafava sob seu rosto, antes de dar um gole e uma mordida na refeição mais cobiçada dos aldeões.
Depois de tomar seu café da manhã, Eleanor saiu e encontrou Cassandra, já montando a barraca que as duas trabalhavam:
— Olha o que temos aqui... Cassandra a mais trabalhadora de Montesburgo — Eleanor sorriu e abraçou a amiga
— Só cheguei cedo para Poderes convidar-me para o café, Afinal, é terça-feira — Cassandra respondeu sorrindo e apertando os ombros de Eleanor, a afastando um pouco, pois não gostava tanto de abraços demorados.
— Então, entra, é a tua casa!! Deixei-te uns biscoitos na mesa — Ela sorriu e Cassandra o fez. Entrou em casa para tomar seu café, e enquanto isso, a feira ganhava movimento.
Neste dia, não apenas frutas, verduras, legumes e alguns artesanatos tomavam a feira. Três músicos, carregando respectivamente: uma flauta doce, um saltério e um tamboril davam vida a trilha sonora do reino.
Eleanor vendia velozmente os elementos da sua bancada, e a essa altura, sem perceber, Cassandra também já tinha voltado do seu café para ajudar nas vendas.
Depois que conseguiram um tempo para relaxar, Isto é, o fluxo de compradores havia diminuído, perceberam um detalhe. Ou melhor, Cassandra percebeu, pois Eleanor permanecia centrada na contagem de moedas de ouro:
— Eleanor, ainda não vendeste sequer jarro de biscoitos — Cassandra disse observando, Intrigada.
— Pois é...
Cassandra cerrou os olhos, arqueou uma de suas sobrancelhas, e quase que instantaneamente, Eleanor reagiu:
— Espera um minuto, o quê?
A morena cruzou os braços e balançou a cabeça. Enquanto isso, Eleanor contava e recontava os jarros. Não podia acreditar que não tinha vendido nenhum. Os aldeões lutavam para comprar os biscoitos quase que diariamente e passava-se das 10h e ninguém havia comprado?
— Não entendo porque isto está a acontecer! — Eleanor coçou a cabeça e uma senhora que escolhia algumas maçãs retrucou:
— Devias revisar o preço deles, todos achamos que passa do valor!
— Este foi sempre o preço, e ninguém nunca se queixou!
— Pois agora que o homem ali abaixo concorre, devias ficar atenta, mesmo porque és tão bom quanto o teu! — A mulher pagou pelas maçãs e saiu. Eleanor encarou a amiga com cara de ponto de interrogação e Cassandra completou:
— Claro que vou descobrir contigo! — As duas pediram para o vendedor do lado ficar de olho na banca delas e desceram até o local que a senhora havia relatado.
Chegando lá, se depararam com o homem que no dia anterior havia comprado todos os jarros de biscoito de Eleanor, revendendo-os por metade do preço que a ruiva cobrava.
— Ora, seu..... — Eleanor segurou a barra do seu vestido e saiu pisando duro até o homem, que chegando lá foi cortejada:
— Se não é a bela moça que vendeste-me os jarros! E não é que o destino nos selou outra vez? — Ele sorriu enquanto empacotava mais um jarro para um cliente.
— És um trapaceiro! Não pode fazer isto! Eu é que fiz estes biscoitos! — Disse na esperança que o homem se redimisse.
— Então somos dois trapaceiros, pois Quem fez estes biscoitos foi vossa tia!
— Não mudes de assunto!!! Não podes vender minha receita de família!
—E o que farás? — Disse ele desafiador, com um sorriso malicioso nos lábios.
—POSSO PARTIR-TE A CARA AGORA MESMO — Disse Eleanor prestes a pular a bancada e ir de encontro ao homem, mas Cassandra a segurou pelo braço e indagou:
— Eleanor não vale o ódio, vamos!
— CASSANdra, espera!!
— Tem um nome sensual Eleanor, prazer, Sou Francis — Disse o homem sorridente
—Que a minha pobre e doce mãe perdoe tal barbaridade — Disse Eleanor de olhos fechados — Mas este homem não merece ter em mãos a receita dos VILLANUEVA — Eleanor jogou todos os potes de biscoitos que restavam, no chão e pisoteou
—Agora, senhor Francis, cozinhe tu mesmo, já que sabes toda receita dos biscoitos! Tenha uma boa tarde! — Ela se afastou segurando seu vestido, enquanto o homem surpreso, observava e Cassandra, segurava o riso, a seguindo.
—Você é maluca Eleanor — A amiga disse rindo.
—Foi ele quem começou — Ela sorriu e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha.
—Bom, depois disso, creio que queres ir para casa descansar, certo?
—Errado! Terminarei de vender todos os jarros e assim poderei descansar — Ela sorriu e começou a anunciar os jarros, que quase instantaneamente fez os aldeões brigarem entre si, como de costume
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A dama das flores
Historical Fiction"Nem tudo na vida são flores, mas quando for, regue!" Assim pensava Eleanor, uma jovem plebéia crescida no pequeno distrito de Valle nevado, No reino de Montesburgo. A moça fora criada por uma bondosa senhora, chamada Cida e por seu esposo Alírio...