Capítulo número 7

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Saí da agua e fui para a casa alugada de Lilian. Ela estava a dormir, como eu esperava.

Sentei-me no sofá, que era mais uma sombra no meio da escuridão da casa.

Em cima de uma cômoda estava uma carta com o meu nome. Peguei nela, curiosa. Abri-a com cuidado para não rasgar. Estava uma mensagem escrita com letra fina e elegante. Estavam escritas no papel todas as informações que Jacob tinha recolhido durante a semana. Perguntava-me como é que ele conseguira descobrir tanto em tão pouco tempo.

Voltei a pousar o envelope na mesa. O cansaço começava a invadir-me. Deitei-me no sofá negro, agora mais familiar e posicionei-me como tinha visto Lilian a fazer no dia anterior. O sono ainda não estava completamente ativo, mas as minhas pálpebras ensistiam em fechar-se; perdi a luta e não dei mais resistência. Imobilizei-me e acabei por adormecer tranquilamente, apesar dos sucedidos que eu gostava de tirar da cabeça. Deixei-me vencer pelo cansaço.

Acordei agitada, ao som de uma voz histérica a gritar que estavamos atrasadas. Tinha-me esquecido completamente que ia ter de ir para a escola! E agora? Não tinha material nenhum para puder levar! Enquanto Lilian procurava, descontroladamente uma peça de roupa que se ajustasse para ir para a secundária, eu procurava em desespero um caderno dela que ela não fosse dar pela falta.

Qundo já estavamos minimamente prontas, saimos as duas a correr. Eu seguia atrás dela, porque não sabia o caminho, e as minhas pernas ainda não estavam totalmente habituadas a este esforço e correr
era difícil, estranho e diferente.

Chegamos um pouco tarde. Eu entrei na sala, junto com a minha amiga. O professor era gordo e atarracado. Tinha cabelo grisalho e pele morena e rogosa. Os seus olhos eram autoritários e bem escuros. Ele estava a pegar numa régua enorme e a apontar para um poster com numeros e letras misturadas, devia ser uma matéria complicada. Ele lançou-nos um olhar fulminante e apontou para duas carteiras, uma ao lado da outra, que estavam livres. Reparei que todos os alunos olhavam para mim. Os de trás fixavam a carteira do canto onde eu estava e os da frente, sem sequer disfarçarem o seu interesse, olhavam para trás. Tirei, da sacola que também levara de Lilian, o seu caderno roxo. Ela reparou que eu estava a usar o seu caderno e olhou-me com pena. Não percebi a razão, devia estar a pensar coisas.

A aula foi bem monótona. Enquanto o professor Joseph (ele tinha escrito o seu nome no canto do quadro) falava, eu desenhava sereias e tritões com um pedaço de madeira que devia ser mágica.

Um toque estridente soou. Levei as mãos às orelhas bicudas e tapei os ouvidos. Ella, uma rapariga sentada perto de mim e que eu ouvira alguém a chamar pelo seu nome, olhava para mim com estranhesa, diferença, desprezo. Não sei se me devia sentir ofendida. Afinal de contas, eu era diferente, diferente para melhor.

Saí da sala. Jacob esperava-me do outro lado. Lilian reparou e observou o meu comportamento enquanto o bonito rapaz me sussurrava algumas informações. Ele passou-me discretamente um papel, que eu guardei no bolso das calças. Depois afastei-me dele. Conseguia perceber insinuações no olhar surpreso de Lilian.

- Antes que digas algo que não deves, ele só me deu as boas vindas - comecei eu. Normalmente era boa a inventar desculpas e mentiras, mas esta não saiu muito convincente.

Ela deu sinal de não ter acreditado em nenhuma palavra, mas eu continuei a andar a seu lado no corredor, sem ligar às suas expressões de 'UmmmUhmmm'.

Arranjei um pretexto e fui até uma sala, que estava vazia, porque era intervalo. Lá tirei o papel que Jacob me tinha passado. Na mesma caligrafia da carta que me tinha sido entregue, o papel tinha escrito o seguinte:

"Vai até a cave abandonada por trás da praia. Lá devem estar alguns capangas de Theodore (o meio-irmão do Rei). O amuleto do Coração do Mar deve estar lá escondido. Por favor, tem cuidado
Jacob"

Olhei em frente. Sentia as minhas feições a endurecer. Tinha uma verdadeira missão em mãos. Era o momento de demonstrar que podiam confiar em mim.

Estava com esta expressão quando saí da sala, mas o meu ar serio desmoreceu-se quando vi Toby no fundo do corredor. Tudo à nossa volta desapareceu, eram meros promenores. Os nossos olhos encontraram-se e eu senti uma magia desconhecida, uma ligação especial que me ligava a ele. Corri na sua direção. Sentia os olhares das outras pessoas incidirem sobre mim, mas eu não queria saber. Então, a maior vergonha da minha vida estava a aproximar-se. Eu tropecei a poucos metros dele. Um público formou-se à minha volta. Todos se começaram a rir de mim, da minha cara, da minha figura. Eu levantei-me incomodada e saí dali a correr.

Aline, Destino Imprevisível Onde histórias criam vida. Descubra agora