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    — Que porra é essa!?

   Roger largou a rede, olhando para o homem peixe ainda incrédulo, de repente, a cauda do estranho se transformou em pernas, ele começou a se debater para se livrar da rede.

   — Me ajude por favor! — Ele pediu, e ele tinha uma voz linda.

   — Não, não, não! Isso não está acontecendo. — O loiro se afastou. — Você vai me puxar pro mar não é mesmo?!

   — Por favor, eu não consigo sair. — Novamente pediu o estranho, coberto de algas marinhas.

   — E você não vai sair mesmo, acha que eu sou idiota?! Se-seu monstro!

   Brian não queria enfeitiçá-lo, mas não iria conseguir sair daquela rede sozinho. O tritão respirou fundo, antes de começar a falar cantarolando.

   — Me ajuda por favorzinho? — Ele disse suave e melodioso, aquilo quase soou como música.

   Imediatamente Roger mudou, ele não sabia mais o que estava fazendo, ou o porquê de estar fazendo aquilo, mas ele começou a ajudar o estranho a se livrar da rede. Não demorou muito e Brian já estava liberto, como ele não havia cantado, o efeito passou rápido, e o loiro se jogou para trás em um susto.

   — Viu só?! Você já entrou na minha mente!

   — Por favor, não se assuste... — Brian tentou se aproximar, e levou um chute.

   — Não chega perto de mim! Seu mons...

   E Roger olhou para o rosto dele, ficando sem fala por pouco tempo. Ele tinha lindos olhos verdes, lábios bonitos, o rosto levemente quadrado lhe dava um ar mais masculino, e seus longos cabelos molhados eram um toque a mais na obra de arte que era seu rosto.

   Brian havia passado praticamente o dia inteiro preso, seus pais deveriam estar preocupados, ele estava fraco, com fome, cansado e agora com dor por causa do belo chute que levou.

   Talvez devesse usar o loiro um pouquinho.

   — Eu preciso de ajuda. — Disse de forma ainda mais melodiosa, atraindo a atenção de Roger para si.

   — Do que precisa? — Respondeu o loiro, com uma voz um pouco mais mecânica.

   — De comida, e descansar um pouco, as cordas me machucaram.

   Sem que ele pedisse, Roger o ajudou a se levantar, e para que o efeito durasse mais, Brian resolveu ousar um pouco, afinal, ele não era de fazer aquilo, costumava a controlar os homens apenas cantarolando, e já que nasceu como tritão, tinha a vantagem de controlar mulheres pela voz também.

   Porém sua voz não estava no seu melhor estado, ele estava fraco, então teve que partir para outra forma de conseguir pelo menos chegar até sua casa sem desmaiar de fome.

   Ele se aproximou do pescador, ficou completamente seco com um estralar de dedos e deixou um selar nos lábios dele, vendo o loiro sorrir bobo logo em seguida, totalmente sedado por seu beijo enfeitiçado.

   — Eu vou dar comida pra você. — Sorriu Taylor, largando tudo o que estava fazendo no cais e levando o tritão até sua casa.

   A caminhada não durou muito, o loiro entrou na cozinha juntamente com Brian, o tritão sentou no balcão, enquanto esperava Roger esquentar o que pareciam ser panquecas feitas no dia anterior.

   — Qual é seu nome? — Perguntou o tritão.

   — Roger Meddows-Taylor. — Respondeu novamente com a voz mecânica.

   — Não tem ninguém aqui? Além de nós?

   — Meus pais estão dormindo, não vamos fazer barulho.

  O loiro tirou as panquecas do micro-ondas, colocando o prato na frente de Brian, por mais que não estivesse demonstrando, o tritão estava incrivelmente nervoso. Estava quase desmaiando, se não, não estaria na casa de um estranho comendo panquecas enquanto ele estava completamente enfeitiçado por seu beijo.

   — Você é bonito... — Disse o pescador, ainda sorrindo bobo, sem tirar os olhos de Brian.

   — Eu agradeço. — O tritão sorriu, era engraçado, ele realmente não estava pensando direito.

   — Cabelo legal. — Elogiou novamente o loiro, piscando sedutoramente para Brian.

   — Que bom que gostou, as pessoas geralmente acham estranho. — Brian sabia que aqueles elogios eram por causa do feitiço, mas não queria deixar o rapaz falando sozinho.

   — Você é realmente muito bonito... — O loiro disse manhoso, colocando o cotovelo no balcão, apoiando seu rosto em uma das mãos, suspirando logo em seguida, sem tirar os olhos de Brian.

   Depois que o tritão acabou de comer, ele foi até a pia para lavar seu prato, já fazia um tempo que ele aprendeu a não se transformar automaticamente quando encostava em água, sua vida ficou incrivelmente mais fácil depois disso.

   Assim que viu que conseguiria se virar sozinho dali pra frente, ele levou Roger para fora de sua casa e beijou novamente seus lábios, o tirando do transe.

   A última coisa que Roger se lembrava era de estar no cais, então foi um choque para ele ver que estava na porta de sua casa e que o tal estranho estava o beijando, ele se afastou, sentindo uma mistura de panquecas e água salgada em sua boca.

   — Vai se foder! — Roger xingou. — Você simplesmente me beija assim?

   — Sinto muito por isso, eu estava...

   — De todos os pescadores que viram sereias, por que logo comigo... Tinha que ser um cara!

   — Perdão? — Brian torceu o nariz.

   — Sempre eram mulheres lindas, com peitos grandes, cabelos longos, e comigo... Veio um homem!

   — Ah pois, não era eu quem estava suspirando apaixonado na cozinha!

    — Eu estava enfeitiçado seu... Seu... — Roger respirou fundo, colocando as mãos no rosto. — O que você fez enquanto eu estava em transe?

   — Eu pedi comida, e você me deu panquecas, eu agradeço muito por isso... — Brian sorriu, falando com sua voz mansa e gentil. — É sério, muito obrigado pela comida, e me perdoe, eu te beijei porque eu vi que você não iria me ajudar...

   A voz dele fez com que Roger quisesse desculpá-lo de uma maneira bem carinhosa, mas ele se conteve um pouco.

   — Está tudo bem... — Ele suspirou novamente. — Brian não é?

   — Por favor, não conte meu segredo, eu imploro. — Disse ele, cantarolando um pouco, só para garantir.

   — Não vou contar. — Respondeu o loiro com um sorriso, em seguida, ele voltou ao seu estado normal.

   — Eu tenho que ir, meus pais devem estar preocupados comigo... — Ele olhou para o loiro. — Acho que nos despedimos aqui, não é?

   — Vamos fingir que isso não aconteceu e cada um segue com sua vida, está bom assim? — Sugeriu Roger.

   — Está tudo bem, Roger Meddows-Taylor. — Sorriu o tritão. — Muito obrigada.

   — De nada...

   Respondeu o loiro, antes do tritão usando regata e bermudas jeans sair andando. Roger entrou em casa ainda incrédulo, mas respirou fundo antes de voltar ao mundo real, eles nunca mais se veriam de novo.

   Bom, apenas na cabeça de Roger.

Beyond The Sea • MaylorOnde histórias criam vida. Descubra agora