Beyond The Sea • Maylor

22

   Brian não sabia o que fazer, não podia contar para ele, mas ele não iria sair dali sem respostas, e poderia contar para alguém...

   Estava sentindo um fogo subir em seu interior, até fechou o punho para tentar se controlar.

   — Vamos, não quer me dizer nada? — Ele insistiu. — Prefere... Contar com mais pessoas por perto?

   Inconscientemente, Brian puxou água do oceano usando seus poderes, usando a mesma para apertar o pescoço do homem.

   — Não precisamos ser tão extremos... — Ele disse tentando respirar. — Você não mataria alguém por isso... Não é?

   — Você está se metendo na minha vida e nos meus segredos... — Brian apertou um pouco mais a água.

   — Esquece o que eu disse sobre mais pessoas! Por favor!

   Brian normalmente o soltaria pela condição de que ele guardasse o segredo, mas ele não estava em seu estado normal.

   — Eu vou te afogar. — Ele apertou ainda mais a água. — Já saciou sua curiosidade? Então agora fique longe de mim e do Roger!

   Em um ato de raiva ele atirou o homem no mar, estava tão enfurecido e preocupado que  esqueceu de que não deveria matar pessoas e estava usando seus poderes para manter Paul debaixo da água.

   Alguma coisa estava o consumindo.

   “No início, os habitantes de Estera Maris eram proibidos de praticar feitiços maiores para que eles não fossem consumidos pelo poder, usando todo esse poder para ultrapassar o líder e as leis.”

   Brian passou a vida inteira treinando seus poderes, agora que ele havia acabado de chegar na idade adulta, seus poderes estavam no auge.

   Roger e seu pai saíram do barco, se deparando com a cena de Brian manipulando água para matar alguém

   — O que é isso? — O pai de Roger perguntou assustado.

   Brian virou para trás com os olhos azuis brilhantes, puxou outra corrente de água que agarrou o pai de Roger e o jogou na água.

   — Brian o que você está fazendo?!

   — Ele te fez mal não é? — Brian respondeu, sua voz melodiosa estava ficando cada vez mais alta. — Eles são ameaças!

   Os ventos começaram a ficar mais fortes, a cor do céu começou a mudar, os barcos na área de pesca estavam balançado...

   — Brian chega! Você não pode matar as pessoas!

   — Os pescadores podiam matar minha família?!

   A voz de Brian engrossou, uma onda saiu da água e atingiu Roger, o jogando contra o chão de madeira com certa violência.

   — Roger?! — Os olhos de Brian voltaram ao tom verde. — Eu te machuquei?!

   — Brian... — Roger sentou no chão lentamente, com um arranhão cobrindo todo o braço.

   — O que foi que eu fiz... — Brian olhou para as próprias mãos com medo, correu até a ponta do cais e se jogou na água.

   — Brian! — Roger tentou ir atrás, mas tinha outra coisa para se preocupar, seu pai estava se afogando. — Pai!  

   Quando o tritão se afastou, a água parou de prender os dois homens e eles conseguiam subir no pier, Roger foi correndo até seu pai.

   — Roger... O que foi isso?

   — Pai, o Brian não é humano, ele é um tritão, e eu não sei o que aconteceu com ele... — O loiro parou e agarrou Paul pela gola da camisa. — O que você fez?!

   — Fui confirmar minhas suspeitas. — Ele respondeu, tentando respirar.

   — Não deveria ter mexido no segredo dele, ele se sentiu ameaçado! — Roger o jogou no chão, olhando para um rastro azul brilhante na água, eram as lágrimas de Brian. — Eu preciso trazê-lo de volta...

   — Aquela coisa é perigosa. — Robert insistiu em alertar seu filho.

   — Aquela coisa é meu namorado! E ele não é uma coisa! — Roger saiu correndo.

   O céu ficou escuro como se fosse noite, raios cortavam o céu e trovões soavam altos, o vento era tão forte que as árvores estavam quase se curvando, Roger não imaginou que Brian tivesse tanto poder...

   Ele precisava de ajuda, precisava de muita ajuda...

   — Roger! — E ele ouviu a voz de Lury, a mulher loira foi até ele correndo, acompanhanda de B'hen. — O que houve com o Brian?

   — Eu queria saber também!

   — A magia da família líder é milhares de vezes mais poderosa do que a de um tritão normal, ele passou a vida inteira aqui sem um treinamento adequado... Ele não tem controle do que está fazendo, ele fez algum feitiço acima da média hoje?

   — Fez, ele ficou furioso e tentou matar duas pessoas deixando a água impossível de ultrapassar, aí ele ficou estranho e me jogou contra o pier, quase que as barras não aguentam e eu caio no mar...

   — Precisamos ir atrás dele, Wym e Alleec estão tentando manter as coisas em Estera Maris, o mar está muito agitado por lá! — Lury segurou o pulso de Roger, correndo com ele até as pedras mais afastadas da praia, mesmo tendo que fugir de um salva vidas dizendo que o mar estava muito perigoso.

   — Tem alguma ideia para onde ele deve ter ido? — Perguntou B'hen, entrando na água e deixando sua cauda à mostra.

   — Sei, eu posso seguir o rastro das lágrimas dele, elas começam no mesmo lugar onde vocês deixaram a gente da última vez.

  — B'hen você leva ele. — Disse a patrulheira, também se transformando.

    — Lury se nós três não conseguirmos, Wym vai mandar um exército até onde ele estiver. — Foi a vez do loiro falar, enquanto Roger se segurava nele.

   — O exército não vai deixar ele ainda mais nervoso? — Roger arqueou uma sombrancelha.

   — Por isso mesmo que nós precisamos conseguir. — Lury suspirou. — Vamos seguir o rastro azul brilhante.

   — Segure firme e prenda a respiração. — Advertiu B'hen.

   Os três mergulharam, os dois tritãos nadando em alta velocidade, seguindo o rastro das lágrimas, enquanto Roger tentava manter o fôlego. A trilha das lágrimas acabou em um paredão de pedra.

   Eles colocaram a cabeça para fora da água, vendo que o muro não era assim tão alto, e estava cercando uma ilha minúscula, como se fosse uma praia.

   — É o nosso lugar... — Roger suspirou. — Nós sempre viemos aqui...

   — Você tem pernas, você vai subir o muro e atravessar. — B'hen o ajudou a subir em cima do muro. — Qualquer coisa é só gritar!

    Roger passou pelo muro e caiu em uma parte rasa da água, o rastro de lágrimas ainda estavam ali. Aquele lugar sempre estava lindo quando os dois estavam lá, o loiro olhou para a praia particular deles, agora cercada, o mar violento, o céu escuro, os raios... As coisas não deveriam estar daquela maneira.

   Estava quase tremendo de frio por causa dos ventos, caminhou pela areia, à procura de seu namorado, mas não viu nada, foi até as pedras mais ao fundo, torcendo para encontrá-lo.

   Quando estava se aproximando, ouviu o canto mais lindo e suave que já ouvira em toda a sua vida, e reconheceu o dono da voz.

   — Brian!