Capítulo Cinco

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Vivianne ouviu atentamente cada palavra narrada por Paola sem sequer piscar os olhos.

Pedro Pelegrini nasceu em uma família tradicional onde o pai era vocalista de uma banda de punk-rock e trabalhava na noite paulistana. Sua mãe, um pouco mais reservada, era tatuadora profissional e esteticista. Paola nasceu três anos depois dele e ambos foram criados com uma vida tranquila, mas regada de muito rock pesado e influências voltadas para a música.

— Meu pai era exatamente como Pedro... Briguento, turrão e orgulhoso. Em uma noite em que estava cantando em um bar se envolveu em uma briga porque um rapaz mexeu com a minha mãe e acabou baleado no final da história — Os olhos de Paola se encheram de lágrimas — Ele morreu dois dias depois e após isso minha mãe entrou em depressão profunda. Não demorou nem um ano para que a doença a consumisse e ela falecesse após consumir muitos remédios. Pedro tinha quinze anos.

— Sinto muito, Paola — Vivianne sussurrou.

— Fomos morar com nossa única tia viva e Pedro saiu de lá assim que pôde. Ele sempre foi muito esperto e era talentoso desde muito pequeno. Papai o ensinou muito sobre música e as composições dele começaram a bombar logo que começou a comercializar e buscar contatos. O sucesso dele foi rápido e estrondoso. Tudo qual é artista queria adquirir uma de suas canções e ele não escondia o orgulho de ninguém. Sempre me mandava dinheiro na casa de nossa tia e me comprou um apartamento quando ela morreu. Pedro era o típico garoto festeiro, alegre e rodeado de mulheres. Dinheiro é até hoje algo que não lhe falta devido aos direitos autorais das canções e meu irmão curtia a vida como se não houvesse amanhã.

— Não posso crer que estejamos falando da mesma pessoa — Vivianne sentia vontade de chorar ao ouvir as palavras de Paola.

Mesmo que fosse uma história de sucesso, Pelegrini carregava muitas dores desde a infância. A alegria perdida, no entanto, era o que mais falava ao coração de Vivianne. Algo lhe dizia que Pedro não havia sido totalmente feliz como a irmã narrava.

— Pois é... A vida dele era regada de bebidas, música e festa até conhecer Fernanda, a presidente de seu fã clube. Na época ele estava à frente de uma banda, você sabe qual é... — Vivianne concordou. Não ouvia muito o estilo dele, mas conhecia algumas de suas composições — E aquela sem noção facilmente conseguiu se meter na cama dele. Era uma oferecida, diga-se de passagem. Não podia ver um homem que já ia levantando a saia e fez de tudo para fisgá-lo. Ela disse que era virgem — Usou tom irônico — E o tapado do meu irmão logo se sentiu na responsabilidade de ficar com ela. Para mim tudo não passou de uma desculpa deslavada para pegar o otário e... — Paola tapou a boca com as mãos. Vivianne corou, mas seguiu encarando-a — Me perdoe! Esqueci que estava falando com uma freira... Quer dizer, noviça!

— Tudo bem — Respondeu com um sorriso tímido — Continue.

— Então... Fernanda e Pedro começaram a ter um namoro, o primeiro da vida dele. Não demorou sequer um ano para ela aparecer de barriga dizendo que os gêmeos eram dele. Pedro sempre prezou muito pela família e não deixou por menos... Casou-se com ela rapidamente e Fernanda conseguiu ser a senhora Pelegrini, mas nunca de fato controlou meu irmão. Ele não saia mais com as garotas, mas não deixava de farrear com os amigos e fazer o que bem entendesse. 

— E sobre os meninos? — Paola sorriu, mas Vivianne pôde ver lágrimas se formando em seus olhos — Me desculpe por perguntar, é que...

— Stefano e Pietro eram os grandes amores da vida de Pedro. Eram dois garotos lindos, inteligentes e muito apaixonados pelo pai — Narrava com a voz embaçada — Fernanda podia não ser a mulher que ele amava, mas os meninos eram seu grande trunfo e ela não hesitava em usá-los para manipular Pedro. Ele jamais deixou de dar uma vida luxuosa para todos e cuidar das crianças, mas confesso que nunca foi um exemplo de marido. Os dois brigavam em demasia.

Enviada Pelo Céu (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora