Capítulo Sete

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Incontáveis fotos dos garotos Stefano e Pietro estavam espalhadas pelo chão e se mancharam pelo sangue que escorria de um dos braços de Pelegrini. O quarto resumia-se a uma pequena cama sob a janela e um pequeno armário ao lado da mesma.  

Um grande pedaço da vidraça da janela era facilmente reconhecida cravada no braço forte de Pedro, exatamente sob a tatuagem com o nome dos garotos. A camisa branca também estava suja com sangue e nitidamente o rapaz sentia muita dor.

— Pedro… — Cobriu os lábios com as mãos e aproximou-se dele em passos lentos. Sentado abaixo da janela, Pelegrini suava e Vivianne tinha certeza que parte do aguaceiro em seu rosto eram lágrimas — Pedro… Porque você fez isso?

Abaixou-se ao lado dele com calma e rapidamente buscou um pedaço de pano para limpar o sangue que escorria de seu ferimento e o suor em seu rosto. Ela jamais viu um homem tão grande parecer tão frágil sob suas mãos.

— Porque você fez isso comigo, Vivianne? Porque chegou e abriu as feridas de um jeito que ninguém antes tinha feito? Porque me deu aquela flor e… Ai! — Reclamou quando ela tocou em algum lugar em seu braço.

— Vamos limpar esse machucado… Você vai tomar pontos, ao que parece — Tentava desviar o assunto nitidamente preocupada com a gravidade do ferimento e a maneira como ele parecia sofrer — A dor precisa ser sentida, mas não desse jeito, Pedro. Não faça isso novamente… 

Pela primeira vez em anos Pedro via alguém realmente preocupada e triste pela situação dele, mas de uma maneira especial. Vivianne tinha lágrimas nos olhos, porém buscava ser segura em suas ações para deixá-lo mais calmo. Tal fato o comoveu. Tal fato o tocou tão profundamente que não pôde controlar a avalanche de sentimentos em seu coração.

— De qual jeito, então, irmã? — Questionou ao vê-la tão perto. O rosto de Vivianne estava a centímetros do dele e a sensação de proximidade o incendiou por dentro. A quanto tempo não ficava tão junto de uma mulher? — Você está me fazendo esquecer a dor por alguns momentos e isso não pode acontecer…

Pedro não se referia somente ao tratamento, mas especificamente ao fato de a noviça tomar conta de seus pensamentos constantemente. Quando fechava os olhos e apenas o que podia ver era o belo par de olhos azuis sorrindo para ele, Pedro perdia o controle.

— O que te fez esquecer? — A pergunta dela era uma resposta surpresa para a colocação dele. Vivianne não esperava tais palavras, muito menos o que veio a seguir.

O silêncio dominou entre ambos enquanto os olhos verdes de Pelegrini brilhavam em direção a ela mesmo repletos de lágrimas. O olhar profundo, admirado e apaixonado não passou despercebido pela inocente noviça, que pela primeira vez em toda sua vida sentiu o corpo todo pegando fogo pela proximidade com aquele ferido homem.

Uma das mãos dela segurava um pano no braço dele para estancar o sangue e a outra teve de se apoiar no peito largo quando o rapaz a puxou em direção a seus lábios em um encontro surpreendente e devastador.

Vivianne sequer sabia beijar e muito menos teve tempo de raciocinar ao sentir os lábios firmes nos seus pela primeira vez. Não se moveu, somente o acompanhou quando seu corpo em um reflexo aproximou-se ainda mais do peito forte de Pelegrini. Apertou os olhos para afastar os pensamentos e sentiu que algo muito forte varria para longe qualquer vontade de afastá-lo.

Jamais pensou que podia sentir algo tão poderoso quanto o desejo que a atravessou ao beijá-lo.

O pano ensanguentado caiu de suas mãos e todo o corpo estremeceu. Era como despencar de um precipício e Pedro usou as mãos fortes para ampará-la diante da fraqueza que atingiu-a. As mesmas mãos fortes a guiaram em um beijo calmo e proibido, algo tão secreto que até mesmo a escuridão da noite não podia presenciar. 

Enviada Pelo Céu (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora