Capítulo Dez

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Vivianne não sabia até que ponto Pedro estava disposto a chegar em nome de sua liberdade, tão pouco podia mensurar quanto ela significava em meio a tudo isso. 

A única coisa da qual a bela noviça tinha total convicção é de que se Pedro Pelegrini continuasse a encará-la da maneira sedutora como fazia em frente aos demais as coisas tomariam um rumo perigoso para sua ordenação e isso de maneira alguma poderia ser colocado em risco. Pensou em várias coisas a serem ditas quando se encontrassem novamente dentro do consultório, mas as palavras certas lhe faltaram quando se deparou uma vez mais com o lindo par de olhos verdes do rapaz.

— Boa tarde noviça Vivianne — Cumprimentou após passar pela porta. A moça a encostou um tanto receosa, mas buscando manter-se firme em sua posição.

— Olá Pedro — Respondeu vendo-o caminhar em direção ao divã um tanto mais calmo do que nos outros dias — Está tomando as medicações prescritas pelo doutor José Luiz?

— Claro. Foi assim que você estipulou e é assim que eu faço — Sentou-se no divã sem muitas delongas e ela se colocou na cadeira ao lado um tanto desconfortável — Parece que você tem minha vida em suas mãos agora.

Pedro tinha uma boa aparência naquela tarde cinzenta e parecia menos cauteloso. Vivianne analisou sua camiseta vermelha e perdeu o foco quando avistou as tatuagens desenhando seu braço forte. Engoliu em seco e voltou a atenção para a prancheta.

— Apenas quero tornar nossos momentos proveitosos para te ajudar — Deu de ombros e ele sorriu para ela. As covinhas nas bochechas do rapaz faziam as pernas da noviça bambearem.

— Sabe que nunca pensei que diria isso, mas de fato você tem feitos milagres em mim, Vivianne Grace — Ele acomodou as mãos atrás da cabeça em uma postura relaxada no divã. A noviça respirou profundamente para disfarçar o desconforto por sua posição. Os braços fortes pareciam convidá-la — Nunca pensei que me daria por vencido desse jeito. A madre tinha razão em dizer que você é…

— Sua única esperança — Completou e ele concordou.

— Exatamente. 

— Porque está dizendo isso agora? O que aconteceu para que mudasse de opinião? — A resposta poderia ser o beijo que ambos trocaram, mas Pedro não pegou Vivianne tão por baixo.

Levantou-se do divã e sentou de frente para ela em uma postura mais séria. Queria contar o que tinha a dizer de maneira sincera e sem o tom irônico de sempre. Diante dos olhos azuis de Vivianne Grace seu mundo desabava e apenas o melhor dele conseguia ficar de pé. 

— Depois daquele dia que nós… — O olhar de Vivianne se constrangeu, porém seguiu encarando-o — Bom… Naquela noite tive um sonho com… — Demorou a conseguir falar — Com meus filhos. 

— Você não consegue dizer o nome deles? — Vivianne questionou inocentemente, sentindo em sua pele a dor refletida no olhar de Pelegrini.

Demorou um tempo a mais para que o rapaz reunisse coragem suficiente para verbalizar o nome dos meninos.

— Pietro e Stefano — A voz dele estremeceu ao proferir os nomes. Os olhos de Pelegrini se inundaram em lágrimas, mas as segurou com toda sua força — Foi a primeira vez que sonhei com eles após o acidente. A primeira vez que meu coração sentiu um pouco de conforto depois de todo esse tempo. E eu acho que tudo isso tem a ver com você, Vivianne. 

Um nó se fez na garganta da noviça ao ouvir tais palavras. Não pôde esconder a emoção que também tomou conta dela. Não era comum emocionar-se com os pacientes, mas a história de Pedro era especial pela maneira profunda como ocorreu. 

Enviada Pelo Céu (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora