Capítulo Doze

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A madre superiora aceitou com normalidade o pedido de Vivianne para ir ao passeio de dois dias com Pedro e sua irmã Paola na casa de campo da família deles no interior de São Paulo. Obviamente passou algumas orientações referentes ao passeio, ofereceu ajuda em alguns aspectos, mas nada muito novo em relação ao que já estava acostumada.

Vivianne não conseguia compreender como a madre havia sido tão fácil de se deixar convencer por Paola. 

A superiora costumava ser rígida com as meninas, principalmente as noviças que ainda não haviam se ordenado, no entanto, aceitou com tranquilidade a saída de uma delas do convento ao lado de um homem.

A única coisa plausível ao entendimento de Vivianne era a confiança que a madre tinha nela e a maneira como acreditava em sua vocação para o celibato. Por outro lado, Pelegrini nunca foi um homem desrespeitoso com as mulheres dentro do hospital e não havia contra ele qualquer queixa de violência contra o sexo oposto. A ferida de Pedro estava sarando e nada tinha a ver com condutas duvidosas neste aspecto. Paola estaria lá, também, e o fato era primordial para que a madre aceitasse sua ida. 

Vivianne recebeu uma ligação de casa e falou com Victor, um de seus irmãos mais velhos. O irmão deu notícias sobre sua esposa, - que havia acabado de ganhar um bebê menino - Valentim, o outro irmão de ambos que se casaria em breve, e os pais. Irma estava bem e Joseph andava muito doente. 

— Você não vem para o casamento de Valentim? — Questionou e Vivianne pensou por algum tempo.

— Acha que papai e mamãe concordariam? 

— Quem tem que saber é você, Vivianne, não eles. Até quando vai viver a vida do jeito que nossos pais querem? — A moça não escondeu a surpresa pela resposta — Você já está trancada em um convento desde pequena porque eles mandaram, será que isso não é suficiente?

— Victor, você sabe que…

— Que você nunca teve pulso firme suficiente para se impor. Você não é uma boneca manipulável, menina. Desde pequena nossos pais fazem de você o que querem e você, por dó ou pena, aceita calada. Mas a sua vontade importa também e são eles quem devem compreender isso de uma vez. 

Jamais ouviu um de seus irmãos falarem de tal maneira e aquilo a impactou profundamente. Tudo parecia estar acontecendo ao mesmo tempo em sua vida. Era como se fosse o momento de seus olhos serem abertos e suas amarras desprendidas.

 — Você vai viajar sozinha com o Pelegrini? — Frida disse entre risadas e Vivianne corou ao ouvir a amiga — Olha Anne, acho que é a hora de conversarmos sobre preservativos e…

— Frida, por favor! — Repreendeu olhando ao redor enquanto a moça seguia gargalhando de sua expressão nervosa — Se alguém escutar você falando assim estou perdida! Por favor!

— Vivianne… Por favor digo eu! — Abaixou o tom e se aproximou dela — Você está gostando dele. 

— Frida!

— Assume de uma vez, vai! Está escrito na sua testa! — Falou seriamente — Ficar escondendo é pior, apenas digo que deve assumir para si mesma antes que tudo fique ainda mais complicado para você — A noviça se calou diante das palavras da menina porque as conhecia intimamente. Aquelas palavras eram suas — Foi você que sempre me aconselhou a ser quem sou, ser feliz com tudo que tenho e jamais esconder algo de mim mesma. Estou decepcionada vendo que uma das pessoa que mais admiro em minha vida está com medo de ser quem é.

— Mas Frida, não é assim… Eu… — Abaixou ainda mais o tom de voz — Você conhece a minha história. Sabe tudo que passei… — Respirou profundamente — Não posso me entregar. 

Enviada Pelo Céu (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora