Capítulo Quinze

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Os garotos da banda demorar a convencer Pedro para pegar no violão, mas após muita insistência o moreno aceitou arranhar algumas notas nas antigas cordas que por tantos anos o acompanharam.

Vivianne sentou-se ao lado de Paola enquanto assistiam o rapaz envolto pelos amigos tocar sozinho e a visão dele tão empolgado com a música fez ambas se emocionarem.

— Faz tanto tempo que não vejo meu irmão sorrindo… — O comentário de Paola era sincero e seus olhos lacrimejavam — Ah Vivianne… Não sabe como lhe sou grata por isso — Passou um dos braços nos ombros da amiga e as duas sorriram.

— Não fiz nada, Paola. Foi Pedro quem fez o principal… Ele se dispôs a ser ajudado —Paola negou.

— Você não desistiu dele, mesmo que o próprio tenha insistido para que o fizesse. Conheço meu irmão e sei que ele não é fácil, principalmente quando contrariado. Sempre serei grata por você ter insistido nele e te deverei um favor por toda minha vida. Nós só temos um ao outro e pensei que o perderia… Agora, no entanto, o tenho de volta comigo e de quebra ganhei uma grande amiga — Vivianne retribuiu o abraço de Paola.

Ao lado dos irmãos Pelegrini se sentia amada e querida como nunca antes havia acontecido. Paola era o mais próximo de uma irmã que já tivera, uma vez que não conheceu as suas e seus irmãos eram muito mais velhos para manter qualquer relação que não seja cordial. 

— Você não me deve nada, Paola. Mas, se de fato te consola saber, estou muito feliz com esse vestido e essa maquiagem. Nunca me senti mais bonita — Vivianne fez pose e Paola concordou animada.

— Você é linda, amiga. Linda, inteligente, ótima profissional e uma mulher incrível — A noviça a encarava um tanto tímida — A única coisa que te falta é coragem para enfrentar o mundo e, principalmente, para viver a história que te espera.

Pedro e os amigos cantavam juntos na roda de violão uma canção famosa e que até mesmo Vivianne, criada dentro dos colégios religiosos, conhecia bem.

Meu caminho é cada manhã
Não procure saber onde vou
Meu destino não é de ninguém
E eu não deixo os meu passos no chão...

— Do que está falando? — Paola encarou Pedro, que tocava e as observava sem disfarçar.

— Do meu irmão… Ele está louco por você, não finja que não sabe! — Paola estreitou o olhar — E não é por nada não, mas ele é um tremendo gato e um partidão! Se você quiser, basta estalar os dedos que ele cai todinho aos seus pés. 

— Sei disso — Respondeu olhando para Pedro também e nervosa com sua maneira intensa de encará-la — Mas você sabe que eu sou…

— Boba! — Paola interveio rapidamente e Vivianne riu — Pedro quer se casar com você e o casamento também é bíblico e tudo mais. Você não vai desrespeitar Deus se desejar se casar como uma mulher normal.

Vivianne não conseguia encarar Paola, tão pouco a si mesma. Presa em suas convicções, não conseguia encontrar uma maneira de se entregar aos braços de Pelegrini sem que sua vida desmoronasse de uma só vez. Entregar-se significava abrir mão do convento, portanto, desonra para seus pais e o final de todo seu projeto de vida. Se os desobedecesse, para onde iria, afinal? O que faria sem o convento, uma vez que jamais imaginou sua vida sem ele? 

Se um dia eu pudesse ver
Meu passado inteiro
E fizesse parar de chover
Nos primeiros erros...

A canção seguia e Vivianne não soube o que dizer a Paola. Desconcertada, encarou a amiga com lágrimas nos olhos e vulnerável por toda situação. Seu conflito interno era tão pesado e evidente que comoveu o coração de Paola a ponto de fazê-la abraçar Vivianne também em lágrimas.

Enviada Pelo Céu (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora