Capítulo Três

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— Vivianne, querida! — A madre chamou em alto e bom som quando avistou a moça caminhando pelo corredor — Venha!

A moça corou e sorriu educadamente. 

Já vinha fugindo do encontro com a madre durante a última semana, evitando assim ter que dar a ela o relatório completo sobre as sessões com Pelegrini. Certamente seria interrogada naquele instante e vasculhou a mente atrás de alguma mentira para ser contada.

“Perdoa-me por cometer o pecado da mentira, Senhor”.

Sussurrava em mente enquanto cumprimentava a sorridente e baixinha senhora.

— Como vai minha querida? Você anda tão ocupada e tão elogiada por esse lugar... — Acariciava o longo cabelo negro de Vivianne com carinho — É difícil conseguir falar com você.

— Me desculpe madre. Ando realmente atarefada com os projetos e sessões com os pacientes — Sempre doce, a moça sorria.

— Sei disso, mas te chamo apenas para saber sobre alguém em especial... Pelegrini — Sussurrou chegando mais perto da moça — Como estão as coisas com ele? Já faz quase duas semanas que vocês estão trabalhando e não recebi qualquer retorno ainda. Não me diga que está indo tudo bem?

Vivianne engoliu em seco e sorriu um tanto desanimada.

— Aos poucos estamos progredindo, madre. 

— Aos poucos?

— Bem aos poucos... — Admitiu abaixando o olhar.

— Mas você vê algum progresso?

— Claro! — Mentiu, mas não foi capaz de realmente contar como as coisas iam — Pedro está começando a confiar em mim e em breve teremos bons resultados.

Não, ele não estava.

Pedro nunca disse qualquer palavra diante de seus questionamentos e muito menos respondia a qualquer proposta lançada por ela. Vivianne se frustrava a cada vez que se encontravam e o rapaz apenas se mantinha calado deitado no divã. Era quase uma tortura passar uma hora e meia por dia vendo-o dormir na espreguiçadeira. 

Mais tortura ainda era saber em seu íntimo que já quase podia ilustrar em sua mente as tatuagens espalhadas pelo belo corpo masculino. Já sabia também que ele tinha covinhas no sorriso e as mãos eram grandes e fortes.

“Perdoe-me, Senhor, pelo pecado da luxúria”. 

Era a oração que repetia em mente todas as vezes que ele entrava e saia de sua sala. 

— Teremos uma reunião com o advogado dele e o representante do Estado para decidirmos sobre o destino de Pedro em breve. Você será peça chave em tudo isso, Vivianne. O seu parecer irá nortear a minha opinião para com eles.

As palavras da madre a pressionaram grandemente. Dependia dela o futuro de Pelegrini, o homem debochado e sem expectativas que a desafiava todos os dias. Se dissesse que ele estava apto, Pelegrini voltaria para sua casa e cumpriria pena leve. Se contrário o fosse, seu destino seria decidido pelo Estado e provavelmente iria pegar algum tempo atrás das grades ou seguiria internado em alguma instituição para drogados e viciados.

— Você tem ideia de quanto tempo pode levar madre? — Questionou engolindo em seco.

— Talvez seis ou oito semanas. 

— Acredito que não seja tanto tempo assim para que eu consiga um resultado tão satisfatório, mas irei me esforçar — Sorriu docemente e a madre tocou sua bochecha rosada.

— Você é um anjo, Vivianne. Todos seus pacientes saem daqui com uma evolução incrível, mesmo sendo você praticamente recém-formada — A moça deu de ombros — Sempre digo que seu talento para ajudar a mente das pessoas vem de Deus, é algo divino. 

Enviada Pelo Céu (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora