Capítulo Oito

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— Pedro — 

Pedro não costumava entrar no convento e sequer sabia se tinha permissão para isso, mas naquela tarde de domingo não pôde controlar o impulso de procurá-la.

Sequer sabia como sair do hospital da Graça para adentrar a casa das freiras, mas vasculhou pelo local até conseguir uma pista de por onde deveria ir. Podia ser barrado, talvez, mas nada o impediria de finalmente estar cara a cara com Vivianne sozinho. Ela fugia dele como o diabo da cruz então cabia e Pedro procurá-la de uma vez. 

— Frida, espera — O rapaz segurou a jovem de cabelos vermelhos pelo braço e ela o empurrou de maneira nervosa —  Calma, estou em missão de paz!

— Não gosto que toquem em mim, Pelegrini, qual é! — Ajeitou-se ao notar que Pedro era conhecido — Sabe como funciona um trauma.

— Desculpe… — Sussurrou olhando ao redor e baixando o tom de voz — Por acaso sabe como faço para entrar no convento?

— É só seguir até o final e virar a direita —  Apontou o final do corredor e Pedro olhou na direção em que ela apontava um tanto curioso demais — Mas que diacho você quer fazer no convento? E que raios houve com você, cara? Pedindo desculpas… Dando uma de bom moço… Qual é?

— Preciso falar com Vivianne — Confessou ainda de maneira discreta — Ela anda me evitando, mas tenho umas coisas para acertar com ela.

— Vivianne? — A menina sorriu e torceu os lábios — Acabei de vê-la. Nós almoçamos juntas e ela não estava muito amigável quando perguntei de você. O que foi que você fez para ela ficar tão bolada?

— Melhor nem te falar… Você não acreditaria — Piscou de maneira sedutora e a menina deu de ombros — Sabe onde ela está agora?

— Na capela fazendo suas orações — Rodou os olhos no rosto — Coisas de freira.

— Quase freira — Pedro completou antes de sair da vista de Frida — Obrigado pela ajuda.

Não sabia ao certo como funcionavam as coisas no convento, porém não foi impedido de entrar e caminhar pelas áreas livres do lugar. Notou a presença de alguns rostos conhecidos por ali e isso o relaxou. Talvez por ser domingo a tarde as visitas estivessem liberadas, quem sabe? 

Parou próximo da capela e notou a presença de algumas noviças lá dentro, todas vestidas como Vivianne. Não foi difícil localizá-la ajoelhada em um dos bancos orando em silêncio. A moça usava um bonito véu branco sobre os cabelos escuros e longos enquanto sussurrava suas preces de maneira nervosa. Parecia realmente conversar com Deus e isso o tocou um tanto profundamente. 

O que estava fazendo? 

Perguntou-se Pelegrini enquanto se aproximava dela em passos lentos. Vivianne era uma noviça… Uma garota prometida… Que direito tinha dele de beijá-la? Que direito tinha ele de não permitir que ela fugisse? Que direito tinha de sonhar com ela mesmo em meio a tantas feridas?

Que direito tinha ele, um homem tão pecador e machucado, de tocar em uma criatura tão pura e bela como ela?

— Você deveria falar mais alto — Pedro disse ajoelhando-se ao lado dela. Vivianne apenas abriu os olhos e o encarou lentamente — É o que minha tia dizia… Se nós orarmos em voz alta Ele escuta melhor.

— Ele nos escuta de qualquer maneira — Respondeu secando uma lágrima que rolava em sua bochecha e o olhando de maneira confusa — O que está fazendo aqui, Pelegrini? Como chegou até aqui?

— Você foge de mim, não foge? Parece que as coisas mudaram… Antes era eu quem fugia de você — Pedro seguiu ajoelhado ao lado dela e Vivianne nada disse, apenas desviou o olhar para outra direção — Porque você mentiu para a madre ontem, Vivianne? Porque não contou o que houve e acabou com tudo isso de uma vez?

Enviada Pelo Céu (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora