As vitrines atraiam a atenção de Vivianne enquanto caminhava com as demais noviças e algumas irmãs responsáveis do convento pelo centro comercial da cidade. As garotas não eram acostumadas a sair dos arredores do convento, mas a proximidade do aniversário da madre Superiora as fez abrir uma exceção para irem atrás de um belo presente para a autoridade.
Vivianne não conseguia de fato prestar atenção em tudo ao seu redor, uma vez que sua mente estava presa no Hospital da Graça em um único nome específico.
Ele.
Pedro Pelegrini.
— O que acha desse ramo de flores para presentearmos a madre Superiora? — Júlia, sua colega mais próxima do convento, apontava a sua frente um belo arranjo de flores lilás. Vivianne, no entanto, parecia completamente fora de área naquele instante — Anne? Olá? Está tudo bem com você?
Vivianne piscou algumas vezes e voltou-se para amiga tentando compreender o que se passava.
— Oi? — Encarou o arranjo a sorriu abertamente — Oh, é um lindo arranjo! Poderíamos dá-lo de presente para a madre Superiora, não é? Lilás é a cor favorita dela.
Júlia torceu os lábios e se aproximou ainda mais da colega.
— Está tudo bem mesmo, Anne? Você parece estranha… Anda muito calada e diferente do habitual — Vivianne tentou disfarçar o constrangimento e fingiu observar melhor as flores na vitrine da loja de arranjos.
— Apenas estou cheia de trabalho, Júlia. Sabe como é… Muitos casos e cada vez mais pacientes — Explicou sem muitos rodeios.
— Não sei como você consegue dar conta de tantos casos complicados aliados a rotina de orações e obrigações do convento — As duas caminhavam entre as prateleiras coloridas e Vivianne buscava a todo custo aprofundar a conversa de modo a não chegar no nome de Pedro. Não queria deixar evidente para ninguém o quanto aquele homem mexia com seu coração — Principalmente depois de pegar o caso do Pelegrini.
— Ele também é filho de Deus e merece uma chance. Acaso se esqueceu de que Deus o ama como ama a mim e a você, Júlia? — Relembrou fazendo sua amiga rodar os olhos no rosto. Júlia já era freira, uma vez que já havia realizado os votos e era um tanto mais velha que Vivianne.
— Você está certa, como sempre. Mas ainda sou da opinião de que Pelegrini é um homem muito ferido para ser consertado.
— Tenho fé nele — A curta frase de Vivianne fez a moça encará-la com certa curiosidade.
— Por qual motivo? A única coisa que Pelegrini sabe fazer é arranjar confusão com quem quer que seja — Vivianne nada respondeu, apenas a encarou de lado enquanto apalpava entre os dedos uma das pétalas de um belo e grandioso girassol a sua frente — Não vai me dizer que ele conseguiu te conquistar com seu belo par de olhos claros?
Júlia lançou a pergunta inocentemente, por isso sequer encarou Vivianne e por sorte não notou a maneira como a noviça corou e mordeu os lábios.
— Por favor, irmã. Não diga absurdos… — Suspirou timidamente, buscando sair da vista de Júlia por enquanto — Pelegrini é um paciente que quero muito ajudar. Tornou-se um objetivo profissional que almejo alcançar — Vivianne retirou o grandioso girassol do lugar e o cheirou próximo ao rosto.
— Desafio profissional… Vivianne… Sua primeira prioridade deve ser Deus e se ordenar! — Júlia, que era a freira que acompanhava Vivianne de perto nas obrigações do convento, a repreendeu educadamente — Por esse motivo eu disse a madre que era um erro deixar você se formar antes de se ordenar. O lado profissional acaba sendo mais importante do que as coisas de Deus.
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Enviada Pelo Céu (Degustação)
RomancePedro Pelegrini é um compositor de trinta e um anos que teve a vida destruída por uma tragédia que tirou a vida de seus filhos. Culpando-se pela morte dos garotos, afundou-se em álcool, drogas e se perdeu em depressão. Após ser detido por desacato a...