— Pedro —
Aulas comportamentais eram a parte mais complicada para Pedro em todo tratamento.
Tomar as medicações, praticar atividades físicas, ajudar em trabalhos sociais e as sessões com Vivianne eram fichinha perto de cinco horas por semana tendo que ouvir um padre ou uma freira falando sobre reintegração social.
— Só algumas horas, Pedro. Só algumas horas horas… — Sussurrou para si mesmo enquanto sentava um pouco mais a vontade nas cadeiras do auditório de aulas.
Precisava cumprir algumas horas entediantes para finalmente estar livre de tudo isso e poder provar a si mesmo que era melhor do que sua atual situação. Não somente por ele, mas por Vivianne, que também acreditava nele.
Um sonho que teve após o beijo com Vivianne fez brotar nele novamente a vontade de viver. Não pela paixão que vinha sentido nascer no peito somente, mas pela certeza de que Stefano e Pietro não iriam querer que sua vida acabasse desse modo. Seus filhos desejariam que ele voltasse a viver.
Sonhou claramente naquela noite que os garotos corriam em sua direção sem dizer nada e lhe entregavam flores. Girassóis como Vivianne Grace, a noviça, havia dado a ele. Stefano e Pietro sorriam alegremente e os olhos verdes dos garotos - como os dele - transmitiam paz e tranquilidade. Os dois brincavam em um belo jardim e estava junto a luzes de bons sentimentos.
Estavam bem.
Estavam em paz.
Estavam com Deus.
Após os meninos se afastarem lhe dando tchau de longe, Pedro ouviu uma voz muito clara ecoando em meio ao belo jardim.
“Não desista, Pedro. Coisas boas ainda tenho para você. Nunca desista”.
Despertou naquela manhã sabendo que não deveria parar e tendo a certeza de que Vivianne Grace fazia parte dos planos que o dono da voz tinha para sua vida. Talvez o dono da voz fosse Deus. Talvez Vivianne estivesse lá sendo usada para reerguê-lo.
Impaciente, rodou os olhos pelo lugar novamente em busca da presença do palestrante do dia, que sempre era um dos padres ou uma das freiras mais antigas do lugar. Não gostava das palestras justamente por isso… Não concordava com muitas coisas impostas pela Igreja Católica e algumas vezes tinha de ouvi-las quieto e cabisbaixo simplesmente para agradar ao convento.
— Pelegrini… Que surpresa hein, cara? — Assustou-se ao ouvir seu nome sendo chamado justamente em tal lugar.
Não tinha amizade com ninguém ali dentro, muito menos com os demais pacientes. Sempre que conversava com alguém arrumava confusão porque era grosseiro com os homens e costumava ignorar as mulheres que tentavam alguma coisa a mais. Ainda não compreendia porque diabos deixavam os dois sexos se misturando naquele hospital.
Sabia de quem era a voz, por isso virou-se em busca de Frida com o desdém corriqueiro. A garota de cabelos vermelhos gostava de provocá-lo com ironias e por ela até que tinha um pouco de estima. Somente não contava em encontrar os doces olhos de Vivianne Grace bem ao seu lado.
— Ô garota… Hoje não é um bom dia para você vim me provocar — A voz morreu em seus lábios quando avisou Vivianne em pé ao lado de Frida no corredor central. A noviça carregava alguns livros, como sempre, usava o uniforme do convento e parecia aflita com sua presença. Porque estaria tão nervosa? — Olá.
Colocou-se de pé e foi tudo que conseguiu dizer diante dela. Não se lembrava de estar próximo da noviça com alguém entre eles e a destemida Frida parecia muito consciente da maneira cúmplice como Vivianne e Pedro se encaravam.
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Enviada Pelo Céu (Degustação)
RomancePedro Pelegrini é um compositor de trinta e um anos que teve a vida destruída por uma tragédia que tirou a vida de seus filhos. Culpando-se pela morte dos garotos, afundou-se em álcool, drogas e se perdeu em depressão. Após ser detido por desacato a...