Jeongguk não fazia ideia de que horas eram quando abriu os olhos e percebeu que Jimin não estava ao seu lado.
As cortinas permaneciam fechadas, mas era fácil perceber que o sol já brilhava com a sua força majestosa.
Espreguiçou-se após soltar um bocejo e se levantou meio trôpego. Ao abrir a cortina e depois a janela, semicerrou as pálpebras para proteger os olhos, e se deparou com a rua tomada por carros de diversas cores.
A agitação parecia não ter fim.
Ele amou.
Amou a visível correria das pessoas, o clássico som dos pneus contra o asfalto, os zumbidos dos motores, conversas alheias e alguém gargalhando em algum lugar não muito distante. Uma gargalhada feliz, contagiante. Há quanto tempo Jeongguk não escutava uma gargalhada? Nem se lembrava.
Era interessante observar a cidade cheia de vida.
Ele também se sentia dessa maneira.
Vivo.
Após escovar os dentes e jogar água no rosto para que pudesse despertar, percebeu que teria que juntar um pouco mais de coragem para tomar o banho de gelo. Pensou em retornar para a cama e esperar por Jimin. Não fazia ideia de onde ele estava. Pela primeira vez em sua vida, entendeu como era torturante se preocupar com alguém. Precisavam fazer algum tipo de acordo: deixar bilhetes assim que saíssem para que a preocupação não aparecesse.
Jimin sabia se cuidar muito bem, mas Jeongguk, com o cenho franzido, experimentava um desconforto — uma nova sensação no estômago.
Não era tão difícil de entender sua situação, eles não tinham o costume de sair perambulando pelas ruas desconhecidas, considerando que todo o "lazer" que tinham no orfanato, era o jardim.
Eles precisavam estar juntos naquela nova vida. Dependiam um do outro. E por um momento, o garoto se sentiu sozinho naquele quarto.
Sentou-se na cama com as pernas cruzadas e fitou algum ponto no teto quando a sua mente foi invadida pela triste lembrança que sempre tentava esquecer.
A morte de Yoongi.
Quando se está completamente sozinho no mundo, pensamentos sobre a morte costumam surgir na mente dos solitários e insatisfeitos. Yoongi completou quinze anos quando deu ouvidos aos pensamentos mais sombrios. Sem se sentir à vontade para conversar, sem saber em quem confiar, rasgou os pulsos com uma navalha enferrujada no banheiro do orfanato.
Talvez ele tivesse um futuro bonito ao ser adotado, mas a angústia era tão violenta que ele não conseguiu acreditar que teria um final feliz.
Não valia a pena esperar por algo hipotético.
Enquanto Yoongi colocava um ponto final em sua vida, por ironia do destino, Jeongguk, com nove anos na época, precisou ir ao banheiro para lavar as mãos sujas de tinta. Tinha acabado de fazer um desenho bonito cheio de casas, uma montanha e um sol brilhante no meio do papel. Demorou horas até terminá-lo. Yoona disse que o garoto deveria ter caprichado mais, o sol não era um círculo perfeito. Ele guardou o comentário para que o próximo desenho ficasse impecável, tentando ignorar a sensação de que não era bom o bastante.
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Preciosa Liberdade • jjk + pjm
FanfictionCansados de tantos maus-tratos, Jeongguk e Jimin resolvem fugir do lugar esquecido pelo resto da humanidade; o orfanato solitário no centro da cidade. Entre descobertas e desafios, os garotos começam a perceber que o mundo real não era exatamente co...