Jantar Indigesto

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Simon Alvarez

Eu estou arrependido de dizer que iria a todos os jantares formais que a minha mãe vai a partir do momento que o convite para o segundo chega porque eu lembro que a vida social dos meus pais é mais agitada do que a minha. Ajusto a blazer preto em meu corpo enquanto me observo no espelho e sorrio. Eu estava lindo e tudo para a minha mãe.

Desço as escadas aonde eu a encontro deslumbrante em um vestido verde que realçava o tom branco de sua pele.

- Vamos Senhorita? – Estendo a mão para ela que ri.

- Você está lindo filho. – Ela beija minha bochecha delicadamente antes de pegar a bolsa e segurar minha mão.

O motorista solicitado para nos levar já nos esperar na porta e eu corro na frente da minha mãe para abrir a porta para ela que agradece enquanto entra. Depois de entrarmos, saímos em direção e, ao chegar lá, vejo o lugar muito bem decorado.

Enrosco o meu braço no da minha mãe enquanto entramos e somos guiados para a nossa mesa. De longe vejo uma figura loira acompanhada por um senhor sentada na mesa indicada para nós.

- Alfredo! – Minha mãe se solta de mim para abraçar o senhor que se levanta.

- Rose! – Ele a abraça afetuosamente e se afasta a olhando. – Você está deslumbrante.

- E você um charme como sempre. – Minha mãe sorri.

- Logico! Estou acompanhado da mulher mais linda que eu conheço. – Alfredo sorri. – Âmbar, venha cá.

Então a figura loira se levanta e eu cerro meus dentes. Não posso negar que Âmbar está linda com o vestido em um leve tom de rosa e algumas estampas que vai até um pouco mais abaixo de seus joelhos e ela está alguns centímetros mais alta devido ao par de saltos que usa. Seus olhos azuis estão delineados delicadamente além de conter algumas camadas de rimel e seus lábios estão com um batom rosa claro além de seus cabelos loiros estarem presos em um coque baixo com alguns fios soltos que ressaltava o colar fino de prata com um berloque de livro.

- Rosie, quero que conheça minha neta do meio, a filha de Sharon, Âmbar. – Alfredo as introduz. – Âmbar essa é Rosalie Alvarez.

- Apenas Rosie, querida. – Minha mãe fala carinhosamente com Âmbar.

- É um prazer Rosie. – Âmbar aperta carinhosamente a mão da minha mãe que a puxa para um abraço.

- O prazer é meu. – Minha mãe se afasta dela e a olha sorrindo. – Seus olhos são magníficos.

- Ah, - Âmbar bate os cílios – são apenas um adorno para que eu possa enxergar embora, ultimamente, eu esteja acreditando que preciso de óculos.

- Mesmo com uma lente na frente seus olhos ainda são magníficos. – Minha mãe fala toda boba. Eu dou uma cotovelada nela. – Ah, perdão filho. Alfredo, esse é o meu filho caçula, Simon.

- Prazer, seu Alfredo. – Digo com a voz seria enquanto seguro sua mão firme.

- Muito prazer, Simon. – Alfredo sacode minha mão. – Você parece com Thiago. Ira herdar os negócios da família?

- Não. – Falo com um sorriso forçado. – Delfina é quem assumirá.

- Delfina é esplendida! – Alfredo sorri.

- Vovô, - O tom carinhoso de Âmbar me deu náuseas. – sabia que Delfina é a namorada do Pedro?

- Não brinca! – Alfredo fala sorrindo. – Rosie, olha só.

- Pedro é um doce de garoto. – Minha mãe fala sorrindo

Os três se sentam na mesa reservada para nós. Quando encosto na minha cadeira, eu avisto o bar e vou em direção a ele. Precisava de uma bebida forte para ser minimamente simpático essa noite e, dentre as opções do menu, peço uma gin com Tonica. Volto para a mesa me sentando entre minha mãe e Alfredo.

- Simon, Rosie me contou que é musica. – Alfredo diz e eu sorrio.

- Sou compositor e produtor. Tenho um mini estúdio em casa. – Respondo tomando um gole da minha bebida.

- Ele canta super bem também mais diz ser tímido. – Minha mãe diz e Âmbar dá um leve riso. A observo sob o copo e vejo que ela não olha em minha direção.

- Âmbar vai ser uma escritora. – Alfredo sorri se enchendo de orgulho para falar da neta. – Daquelas bem famosas. Eu li o primeiro livro que ela escreveu e é completamente fabuloso. Quando ela o lançar, venderá milhões de cópias ao redor do mundo.

- Ela já escreveu um livro? – Pergunto um tanto quanto incrédulo.

- Sim. – Ela responde ainda sem olhar para mim. – Na verdade já escrevi dois. – Ela toma um gole de sua taça de champagne. – Estou quase terminando o terceiro.

- Isso é maravilhoso. – Minha mãe a olha em um misto de surpresa e felicidade. – Eu gostaria muito de ler-los.

- Posso enviar uma cópia por email para você. – Âmbar sorri animada com alguém lendo seus livros.

- Claro! – Minha mãe diz. – Seria perfeito. Alfredo depois passará o meu email.

- Perfeito. – Âmbar diz dando um doce sorriso. – Amanhã mesmo estará em seu email.

Engolo o resto da minha gin Tonica e me levanto ao mesmo tempo que Âmbar e caminho junto a ela até o balcão do bar.

- Um mojito, por gentileza. – Ela sorri para o barman que assente sorrindo.

- Uma gin Tonica para mim. – Eu peço e o mesmo barman resmunga algo.

- Então você escreveu um daqueles livros para menininhas que acabaram de virar adolescentes? – Pergunto com ela ainda de costas para mim.

- Então você compõe musiquinhas para garotinhos com o coração quebrado? – Ela pergunta e eu cerro meus punhos.

- Não fale das minhas musicas.

- Não fale dos meus livros. – O barman deixa o copo com o mojito no balcão e ela pega e se vira para mim. – E se eu não me engano você pediu para que eu não falasse com você e não sei se percebeu eu tenho me empenhado muito nisso essa noite então se você puder deixar de ser desagradável eu ficaria grata. – Ela me empurra mais eu seguro seu pulso e acabo quebrando a pulseira que ela usa. – O que você fez? – Vejo ela se abaixar e pegar a pulseira. A tomo da mão dela e vejo um dos elos quebrados.

- Eu pagarei outra. – Digo pegando a minha gin Tonica e devolvendo a pulseira a ela.

- Eu não quero outra. – Ela diz com os olhos marejados. – Essa era única. Meu pai que me deu.

- Ele pode comprar outra para a filhinha mimadinha dele. – Falo tomando um gole da minha bebida e dando as costas para ela.

- Não, ele não pode. – Ela me puxa pelo ombro e me vira para ela. – E sabe por que? – Ela me olha com raiva e seus olhos azuis se tornaram cinzas - Porque ele está morto. Enterrado debaixo de sete palmos de terra e provavelmente os vermes já comeram todo o seu corpo.

Âmbar me entregou sua bebida e saiu andando por entre as pessoas ate que eu não pudesse vê-la. Respirei fundo e retornei para a mesa aonde minha mãe e Alfredo conversavam sobre algo que não prestei atenção. Quando Âmbar voltou, parecia que nada tinha acontecido com exceção de seus olhos que continuavam cinzas. Ela não me olhou e nem falou comigo o resto da noite. E quando o jantar foi servido, eu não consegui comer porque as palavras de Âmbar sobre seu pai morto ainda deixavam meu estomago pesado.

Quando íamos embora, eu a segurei para que ficasse atrás.

- Desculpe pela pulseira. – Falo sincero. Odiava Âmbar mais odiava mais ainda ter quebrado algo que significava tanto para ela.

- Eu vou continuar distante e sem falar com você como você já tinha me solicitado anteriormente. Tenha uma boa noite Senhor Alvarez. – Ela disse tudo sem me olhar uma única vez.

Âmbar se despediu rapidamente da minha mãe e entrou no carro que a aguardava junto de Alfredo. E foi ali que eu percebi que Âmbar tinha algo diferente de Emma: ela estava sozinha no mundo.

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