Ignorando

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Simon Alvarez

O dia do jantar coincide por coincidência com o dia em que a pulseira está pronta. Me olho no espelho e verifico se a camisa que eu tinha escolhido estava bem passada e se eu estava apresentável. Tinha, inclusive, penteado o meu cabelo de uma forma que ele não ficasse a usual bagunça de sempre. Respiro fundo e desço, me despedindo da minha mãe a avisando que a encontraria na mansão, e saio em direção a joalheria. Quando chego, John sorri e me diz que quase não consegue mais que tudo deu certo e a pulseira está nova me entregando a caixinha preta e comprida. Pago ele e, antes de sair, peço um pedaço de papel e uma caneta. Ele me entrega e me deixa sozinho para que eu possa escrever.

Penso por alguns minutos sem saber o que dizer até que chego a conclusão que a honestidade é a melhor coisa.

"Quebrei sua pulseira sem saber que ela era importante para você, achando que era apenas mais alguma coisa fútil. Estava enganado. Acabei descobrindo que ela tem mais valor pra você do que qualquer outra coisa e foi por saber disso que eu precisei consertá-la (obvio que com a ajuda do Matteo e da Luna).

Você tem razão quando diz que não consegue me entender porque eu também não consigo.

Enfim, sua pulseira está como nova e seu pai não está morto: ele vive em seu coração.

Simon"

Guardo o papel bem dobrado dentro da caixinha e agradeço John uma ultima vez antes de sair e ir para a mansão Benson. Quando estaciono na entrada, vejo que todos já estão lá. Toco a campainha nervoso sentindo o peso da caixinha no bolso do meu casaco e a emprega me recebe e me leva ate aonde está sendo a "festa".

- Ele chegou. – Minha mãe diz animada e eu beijo sua testa. – Aonde estava?

- Fui resolver algo importante. – Falo sorrindo para ela enquanto faço um toque com as mãos com o meu pai. – Demorou um pouco mais do que eu esperava. – Olho para Delfina que está sentada ao lado de Pedro. – Bastarda. – Ela se levanta e me abraça.

- Resto de aborto. – Rio e a aperto ate ela gemer em meus braços.

Cumprimento a todos deixando Âmbar por ultimo. Quando chega em sua vez ela me olha como se me analisasse.

- Boa noite Âmbar. – Dou um beijo em sua bochecha.

- Senhor Alvarez. – Ela se afasta sorrindo falsamente.

Âmbar está linda. O cropped florido que ela usa combina com a saia rodada preta. Seus cabelos estão presos em um rabo de cavalo e ela usa uma maquiagem leve além de usar um all star preto de cano alto nos pés.

- Estavamos aqui falando sobre o ótimo desempenho de vocês com o resumo de Odisseia. – Meu pai fala. – E Âmbar nos falou que foi ótimo fazer um trabalho com você. – Olho para Âmbar que conversa algo com Luna.

- É uma pena que ainda não tenha saído o resultado porque eu também achei ótimo trabalhar com Âmbar. – Falo me sentando próximo dos meus pais.

- Claro que saiu. – Matteo fala sorrindo. – Amigão, fontes me informaram que vocês dois foram os único a tirar nota máxima.

- A gente tirou nota máxima? – Pergunto incrédulo. Nunca tinha tirado nota máxima em nada.

- Claro. – Matteo me deu dois tapinhas nas costas e um copo com uma dose de whisky. – Você merece.

Tomo o liquido amadeirado sentindo ele queimar minhas entranhas. Puxo Matteo sutilmente e digo que precisaria que ele colocasse a pulseira no quarto de Âmbar novamente.

- Primeira porta a direita. – Ele me diz apenas isso em um tom aonde apenas eu posso escutar. – Simon, vamos lá no meu quarto, preciso te mostrar algo.

Matteo me puxa escada acima e para no inicio do corredor.

- Ela me mataria se eu entrasse em seu quarto e ela me pegasse.- Ele diz baixo.

- E qual o plano? – Pergunto inocente.

- Você entra e devolve. – Ele diz parando no inicio do corredor - Primeira porta a direita. – Ele diz antes de sair caminhando e entrar em uma das portas. – Primeira gaveta da penteadeira.

Entro na primeira porta do corredor e me deparo com um quarto em tom de salmon cheio que fotos penduradas. Sorrio ao ver meu amigo em diversas delas e paro para admirar uma onde Âmbar ri enquanto o vento joga seu cabelo em seu rosto. Olho para a grande penteadeira e guardo a caixinha. Me permito olhar mais algumas fotos antes de sair. O problema é que dou de cara com Âmbar que continua me olhando como se me analisasse.

Ela meio que me mede dos pés a cabeça e abre a porta na qual estou encostado passando por ela e fechando logo depois. Então eu sinto raiva e abro a porta entrando logo em seguida.

- Serio mesmo que você vai continuar me ignorando? – Pergunto deixando claro que estou com raiva.

- Senhor Alvarez poderia, por gentileza, se retirar do meu quarto? – Ela me pede em um falso tom doce.

- Para de me chamar de Senhor Alvarez, Georgia! – Eu falo como se fosse um ponto fraco dela.

- Só pra constar, eu gosto do meu nome do meio Senhor Alvarez. – Ela sorri vendo o quanto o apelido me deixa irritado – E eu disse que eu só ia falar com você quando fosse obrigada e, bem, nesse momento eu não estou sendo obrigada a manter uma conversa com você. – Ela dá as costas para mim.

- Definitivamente você está! – Eu vou ate ela e a viro para mim. – Fale comigo Âmbar.

- Você não gosta de mim, Simon. – Ela fecha os olhos como se sentisse dor. – Pare de fingir que tem alguma importância se eu falo com você sim ou não. – Ela abre os olhos e eu sou envolvido pela sua imensidão azul. – Você já deixou bem claro seus sentimentos sobre mim.

- Âmbar...

- Fique tranqüilo que na frente das nossas famílias eu serei completamente sociável. – Ela engole seco e se afasta de mim. – Fora isso não precisamos fingir que somos amigos. Agora se puder me deixar sozinha, eu agradeço.

Eu respiro fundo antes de sair do quarto dela. Desço e encontro Matteo sentado na sala como se nada tivesse acontecido.

- Demorou Simon. – Delfina fala e todos olham para mim. Vejo em seu rosto que ela quer me meter em problemas. Desgraçada!

- Âmbar e eu estávamos conversando sobre alguns assunto escolares Fifi. – A chamo pelo antigo apelido o que a faz revirar os olhos.

Monica, a mãe adotiva de Luna, nos informa que o jantar está servido e nos guia ate a sala de jantar. Matteo fica para trás me olhando divertido.

- Desculpa cara. – Ele ri. – Ela ia fazer muitas perguntas então corri para o meu quarto. Achei que tinha você tinha descido por isso desci.

- Tudo bem. – Respiro fundo. – Eu e ela tivemos apenas algumas conversas esclarecedoras.

- Ainda não consegue gostar dela? – Matteo me pergunta e Âmbar entra na sala do jantar por outra entrada.

- Ai é que está o problema, Matteo. – Olho para ele e depois para ela suspirando. – Eu já não sei de mais nada.

Matteo me dá um aperto no ombro enquanto nos sentamos lado a lado na grande mesa de mogno e de frente para Âmbar e Luna. Eu como olhando Âmbar que conversa sobre seus livros com meus pais. Vejo como ela se empolga e como seus olhos brilham enquanto ela fala seus planos para o futuro e como sua família a olha admirados e então faço algo que está virando minha rotina ao observar Âmbar: listo uma diferença dela e da minha Ex Abusiva.

Âmbar tem um amor e carinho de sua família. Ela não é uma garota popular na escola por impor medo, ela é popular porque sua personalidade e carisma são contagiantes. E também, eu poderia ficar horas a admirando enquanto ela fala de algo que ela realmente ama. 

Prove You WrongOnde histórias criam vida. Descubra agora