The Grounders

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Quando eu era mais nova, quando eu era adolescente e até pouco tempo atrás eu costumava acreditar que era uma “mulher de verdade”. Eu achava que mulheres inteligentes e de atitude eram mulheres de verdade, e as outras eram umas tontas, fracas e sem gana.

Poucas coisas me envergonham tanto quanto ter pensado isso um dia. Mas me perdoo, pois somos criadas para competir umas com as outras e desconstruir isso é muito difícil.

O mundo, na minha cabeça, era dividido entre “nós” e as outras. Pior, o critério que eu usava, sem pensar muito a respeito, era de como as mulheres eram vistas pelos homens e se portavam diante do mundo deles. Legal mesmo era ser aceita pelos homens, ser “um dos caras” e diferente das “outras”. Minha construção como mulher se deu dessa forma: me afastando do que eu entendia que era ser mulher. Mulherzinha.

Eu que era mulher de verdade.

Os homens me respeitavam, respeitavam o que eu sabia, respeitavam que eu sabia me impor. Eu não era como elas. Ficava orgulhosíssima quando eles se referiam a mim dessa forma. Mulher de verdade. Me orgulhei quando, em meu primeiro grande negócio, disseram que eu administrava tão bem que “comandava minha empresa como um homem”. Que vergonha imensa. Ainda bem que dá pra mudar nesta vida.

Temos também a variação, o “isso sim que é mulher”, igualmente equivocada.

Há alguns anos, eu tive um namorado muito otário que gostava de fazer comentários sobre outras mulheres dessa forma. Não me importaria de ele dizer “que gata” ou qualquer coisa do tipo, mas era sempre nesse tom:" isso sim que é mulher! Isso sim que é peitão. Isso sim que é bunda.",E eu ficava olhando pra mim mesma e pensando:"ué, e isso aqui não? ",Mas nem falava nada pois não queria pagar de maluca ciumenta e nem era ciúme o que eu estava sentindo, apenas um desconforto que eu não sabia identificar. Um dia, ele falou de uma garota com o corpo muito parecido com o meu, e eu perguntei, mas vem cá, eu super sou assim também. Ele disse que meus peitos eram mais pequenos, então não era não. Aquilo que era peito! E eu senti, ao mesmo tempo: raiva, asco, vergonha e vontade de ir pra minha casa com meus peitos pequenos.

E a lista é infinita.

Isso que é mulher, não aquelas funkeiras.

Isso que é mulher, não aquelas feministas.

Isso que é mulher, não aquelas que mostram as tetas.

Isso que é mulher, não aquelas que não se dão ao respeito.

Com o tempo eu aperfeiçoei minha aparência,meu corpo e meu comportamento,com o tempo eu me deixei ser envolvida e moldada dentro dos padrões artifíciais da sociedade,mas passei por uma metamorfose muito importante em minha vida.

Me tornei uma mulher de verdade, seguindo meus instintos em conciliação com minha inteligência e sentimentos, não importa como seja sua capa ou seu conteúdo,eu sou uma mulher de verdade assim como minha secretária ou a minha faxineira.

Com tempo eu amadureci, descobri minhas vontades e desejos, descobri lados perversos e confesso que até um pouco monstruosos,mas afinal,essa é a minha mente, é a minha essência.

Negar meus desejos é negar quem eu sou,uma mulher de verdade, não apenas mais um peão artificial dentro do jogo "sociedade".

-- meu corpo é meu templo _ repito enquanto rodeio a cama pequena onde minha vítima se encontrava amarrada,o tédio me tomava junto a decepção _ minha mente é a minha religião.

Minha vida toda eu sempre gostei de dominar as situações,as pessoas,tudo e qualquer coisa,sempre tive prazer com isso,sempre amei tudo isso.

Ao contrário de causar dor,eu sempre gostei imensamente de causar aflição,meu estilo de bondage é diferencial e pessoal.

Durante muito tempo eu rodei de clube em clube, aprendendo tudo sobre um mundo totalmente diferente do que conhecemos, aprendi muito sobre mim mesma,sobre o que me faz feliz e plena,saciada e satisfeita,mas não completamente,ainda,pois me falta um objeto,uma pessoa a quem chamar de minha.

De clubes em clubes,eu acabei neste particularmente diferenciado,um clube completo, juntando de tudo o que esse "mundo novo" pode oferecer.

The grounders era um clube feminino de luxo,sempre com um "cardápio" variado e desejável, disso eu nunca duvidei.

Durante o dia, eu era a "Clarke" uma empresária forte e decidida,reprimindo todos os meus desejos e vontades, sentimentos não eram importantes também,nada importava além de minha postura imponente e poderosa.

Uma mulher tem mais poder do que se possa imaginar,uma mulher utiliza de toda sua inteligência e competência no dia a dia,seja no trabalho ou em casa,cada ato,cada profissão,cada gesto e conduta, máscara por um rótulo artificial,a mulher é muito além de mãe,dona de casa e uma boa amante,a mulher é essencial e sedutora em cada passo de sua vida,a sensualidade é natural não importa a aparência e sim o conteúdo,a segurança e eu era e sou uma mulher incrível e perigosa em qualquer um de meus papéis.

Durante a noite, essa Clarke dava lugar há mim,uma mulher completamente diferente,aqui não havia regras ou restrições,aqui eu libertava minha mente e meus desejos.

-- ei leoa _ Mary chama por mim,Mary é uma das sócias desse lugar _ acabou cedo com sua vítima da vez.

-- ele não serve _ respondi clara e sincera,já havia dias que não me sentia satisfeita _ esse mês foi péssimo,nenhum deles ou delas serviu, Mary,me traga uma novidade.

-- bom, fico realmente chateada por ouvir isso _ declara Mary enquanto me serve uma bebida,por mais estranho que eu a considero uma amiga ,claro,nesse "mundo novo" _ olha, nós contratamos novos dançarinos para o Lincoln fazer o show dele, alguns são jovens e ansiosos por novidades,mas há um deles que particularmente me intriga.

-- o que há de errado com ele? _ pergunto de cara,sempre há algo errado quando ela fala assim _ passado negro?

-- nada _ declara Mary incrédula _ não há nada sobre ele,apenas um nome e sobrenome, ambos verdadeiros segundo nossos contatos,fora isso não há nada,moradias, formação acadêmica,nada.

-- hum, isso é realmente intrigante _ comentei enquanto sentia minha mente fervendo em curiosidade,eu geralmente não sou uma mulher curiosa, então quando algo me atiça assim,eu claramente dou atenção imediata _ quando começa o show dele?

-- ficou interessada né _ comentou Mary enquanto discretamente ria _ daqui há alguns minutos, só Lincoln pode lhe responder com exatidão.

-- certo,eu irei aguardar _ digo enquanto finalizava meu drink,logo Mary se encarregou de me dar outro _ me diga ,qual o nome dele?

-- Alexandre _ responde Mary enquanto discretamente servia um drink para ela mesma _ o nome é forte,e ele é um Deus da beleza e sensualidade,eu o vi treinando com os rapazes algumas vezes,hoje será o show de estreia dele.

Désir Sombre (Clexa G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora