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23 de agosto de 2020 - 14h01
Estou cansada de esperá-lo, mas não desisto. Continuo sentada no mesmo banco, vigiando cada esquina, cada canto, cada rosto que passa. As ruas estão cheias, o que é compreensível, porque é dia de semana e provavelmente a única pessoa desocupada na cidade sou eu.
Dessa vez o dia está ensolarado e, depois da chuva de ontem, é um presente bem-vindo. O frescor do cheiro de terra e grama molhadas é revitalizante. Se as coisas não estivessem dando tão errado, talvez me sobrasse tempo para explorar Vassouras. É uma cidade excepcional.
Enquanto me perco em meus devaneios, vejo pelo canto dos olhos a camisa xadrez de flanela azul que eu estava procurando. Levanto os óculos escuros do rosto e os apoio no topo da cabeça. Lá vou eu!
— Olá! — digo, entrando na frente de Vicente, o "dono" da residência Blackwater. Ele está carregando sacolas de compras com comida e produtos de limpeza em sua caminhonete.
— Achei que tivesse te mandado embora — diz ele, colocando mais um sacola no veículo. Tenho a impressão de vê-lo suspirar.
Não o culpo. Digamos que a noite passada e essa manhã não tenham me dado a oportunidade de passar uma boa impressão. Talvez eu fizesse o mesmo no lugar dele se uma estranha chegasse na minha casa no meio de um temporal, pedindo para explorar e estudar a residência porque ela estava completamente obcecada com o diário de uma ex-governanta. Eu também teria pedido para ela se retirar o mais cedo possível da minha casa na manhã seguinte, principalmente após encontrá-la gritando debaixo da cama como uma criminosa psicótica após bater a cabeça com toda a força na estrutura de madeira do leito. E não teria acreditado quando ela dissesse que não sabia como foi parar lá, mesmo que fosse verdade.
— Não, só precisava falar com a minha mãe. Estou sem sinal de celular aqui na cidade — digo, tentando ser simpática. Sou uma bibliotecária, aprendi a lidar com as pessoas. Suavizo minha voz, forçando uma intimidade que não existe: — Então... Podemos voltar?
— Para onde?
Vicente termina de carregar a caminhonete com as compras e se vira para me encarar, com a mão na cintura. Na noite anterior, eu não tinha reparado muito na aparência dele. Estava de noite e a residência dos Blackwater era tudo, menos bem iluminada, mas agora posso ver claramente os vibrantes olhos azuis, as ondulações de seu cabelo loiro-escuro e a barba clara e dourada despontando no seu queixo angular. Ele é bonito; bonito como um daqueles riquinhos de Copacabana e, ao invés de me impressionar e atrair, isso me irrita de forma profunda. Não tive boas experiências com playboys quando adolescente.
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A Casa das Rosas (Hiatus até janeiro)
Misterio / SuspensoSuspense/Romance/Mistério Após uma terrível tragédia na casa dos Blackwater, no século XIX, a propriedade ganhou uma má fama. Obcecada com a história por trás de tal reputação após receber o diário da antiga governanta da residência, Beatriz, uma bi...