Epílogo

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Elena
14:22 quinta–feira

— oo mãe, a máquina parou de funcionar— grito eufórica

Odeio lavar roupa, bem que o ser humano podia ser que nem Adão e Eva, e andar peladão por aí, eu ia amar, odeio sutiã aperta pra caralho

— sua tonga, óbvio que não vai funcionar, tá fora da tomada né— jogou os pano na minha cara e saiu rebolando.

Separei as roupas por cores e coloquei o montinho de blusas na maquina, me lembrei que tinha deixado a chapinha ligada em cima da cama, e corri pelo corredor até meu quarto.

— merda— resmunguei.

— o que foi dessa vez Elena— gritou da cozinha.

— nada não dona Vanda me erra vai— sussurro a última parte pra ela não sentar a chinela em mim.

Tirei a chapinha da tomada revoltada, porque grudou no meu rimeu, e tá uma meleca danada derretida, bosta.

— o Ele trás o papel pra mim— gritou do banheiro.

Revirei os olhos, é sempre assim, ele diz que irmão mas novo só nasceu pra servi de escravo, sem contar quando ele diz que, eu sou adotada e que mamãe me achou numa lata de lixo fedendo a ferida.

— SE VIRA OTÁRIO

— O MÃE A ELENA NÃO QUER PEGAR O PAPEL PRA MIM

— to nem aí— entrou no meu quarto com um mine short— cadê teu batom aquele rosa me empresta aí

Peguei na gaveta e joguei pra ela

— vai pra onde toda arrumada assim

— vou pro samba né gata, desestressar não aguento vocês não

— e meu pai cadê?— pergunto, tentando tirar o plástico grudado na chapinha

— tá lá já, ele foi levar umas encomendas pro chef— respirei fundo, odeio meu pai envolvido nessas coisas

Semana passada a polícia venho aqui em casa fez mo arrastão, levou arma e tudo a sorte é que ninguém estava em casa

— eu já encosto lá também, vou só vestir uma calça

— que calça oque minha filha, eu não te coloquei no mundo pra tu ficar se escondendo não, pode colocar um short nisso— se virou ajeitando o salto no pé

— que isso mãe eu em— fui até meu armário e peguei um blusão da puma e um shortinho desfiado básico, coloquei meu relógio que ganhei de aniversário e me vesti rapidinho, passei perfume

— já to indo beijo — saiu do quarto logo escutei ela berrar com meu irmão e segurei o riso— sai desse banheiro Jean se não te pucho dai por esse palito de fósforo que tu chama de Pinto— esmurrou a porta de novo— ANDA SEU FILHO DA PUTA— não contive a risada e me desbrucei na cama rindo

Meu celular apitou peguei imediatamente lendo a mensagem mais esperada do dia

Amor❤🥰

Oi vida, bom dia to com saudades (kaique)

Oiie, também estou, vem aqui em casa hoje (Elena)

Não sei po, vou ver (kaique)

Isso não foi um pedido, foi uma ordem, te quero aqui agora😡(Elena)

Porra assim tu me complica (kaique)

A é assim, já que complico sua vida então tchau (Elena).

Isso é oque mais me irrita no kaique, ele só quer as coisas do jeito dele, conheci ele ano passado, sinceramente não sei como durou isso tudo, mas...

Ele trabalha numa loja de móveis com os tios, menino super direito, mas muito controlador, ele tem dezoito anos e eu dezessete , antigamente eu tinha um dilema, só pego cara mais velho que é mais maduro, tomei bonito no cu, e agora to aqui, iludidassa por esse canhão que eu chamo de amor.

— se vai pro samba com essa roupa— me encarou de cima a baixo balançando a cabeça em negativa

— É eu vou, cuida da tua vida — ajeitei meu salto de tiras preto quatorze— já to indo tu vai — ele negou — então tchau Jean— ele beijou o topo da minha cabeça e sai, colocando meu celular na cintura

Não demoro já chego no local, da esquina já era possível ouvir a música que rolava solta, do lado de fora já vi uns 3 soldados vendendo drogas em pontos específicos.

Tampei meu nariz com a mão assim que senti o cheiro forte de maconha me atingir, odeio, comecei a tussir pra ver se o bofe do meu lado se tocava que tava me incomodando, entrei correndo no sombrodamo assim que ele me encarou conseguindo ficar mais feio que já é coitado.

Lá, laia lá ia, Lá, laia lá ia, Lá, laia lá ia,Lá, laia lá ia, Liberdade, liberdade abre as asas nós, grita a voz da igualdade, seja sempre nossa voz🎶

Já entrei sambando, amo muito isso é minha vida, vi de longe meu pai no palco, que me puxou pra cima pra que todos me vissem, fechei meus olhos e deixei a energia maravilhosa fluir, quando menos espero já estou saltitando como se minhas pernas não tivessem vida.

— nesta Pátria mãe querida, o império decadente, muito rico e coerente— cantei abrindo os braços e rodopiando ao som da bateria.— brilhando na Sapucaí— dei uma passada pra frente rebolando, meu pai me seguiu no som do pandeiro.

— pedi pra para parou— dei um delizada com o salto fazendo uma pose, todos bateram palmas e assobiou

— tu me surpreende a cada dia minha neguinha— meu pai me abraçou com um sorriso de orelha orelha

Eu nasci pra isso, não tenho dúvidas, é como se meu lugar fosse aqui pra sempre em Caxias do Sul.

Deslumbrei o lugar sentindo um aperto no peito tão grande que me fez chorar, uma agonia nunca sentida antes, desci do palco discretamente, e me encostei na pilastra atrás dos instrumentos e chorei, chorei muito.

Meu Deus oque é isso, porque sinto que é a última vez que piso neste lugar.

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