1. Euphoria

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Fui em um último rolê com as minhas amigas, iria me mudar para outra cidade dentro de um pouco mais de um mês. Não estávamos em um lugar especial nem nada apenas fomos a um barzinho beber coca cola e comer batatas fritas.

Como somos menores de idade nossas bebidas foram limitadas a água, sucos e refrigerantes. E sinceramente, não ligo. Fico bem feliz tomando a minha coca cola com gelo e limão. Era quase meia noite quando resolvi desabafar, eu não costumava falar exatamente tudo o que sentia, às vezes falava, outras omitia algumas pequenas partes.

Não tinha problemas em confiar nelas para guardar meus "segredos" — que não eram lá grandes coisas. Tinha problema com a insegurança de pensar sobre o que as pessoas falariam de mim caso soubessem exatamente tudo o que sinto e penso.

Apenas falei o quão chateada estava por causa de um incidente que aconteceu no Instagram: onde comecei a seguir um @ que não tinha um nome exato e a foto de perfil era uma animação. Não tinha entrado na conta nem nada, apareceu nos recomendados. Achei que fosse a conta de um desenhista  já que seguia vários perfis do tipo por gostar de desenhar no tempo vago e, buscar sempre algo para me basear e até mesmo inspirar para criar novos desenhos.

Segui vendo meu feed e logo as publicações de wherearetheavocados começaram a aparecer. Fiz uma nota mental para dar unfollow por não ser nada do que estava pensando que seria, eram apenas fotos de uma garota. Mas acabou que sempre esquecia e deixava ela lá.

 Passaram dois meses quando comecei a dar importância para os stories que a mesma postava e então liguei os pontos como luzes de Natal. Ela tinha muitos seguidores, comentários, curtidas e estava sempre respondendo stories que mostravam seus shows. Procurei e acabei descobrindo seu nome: Billie Eilish. Coloquei no Youtube e aí,  eu me fodi.

Depois de quatro meses da minha descoberta, durante o meu tempo vago tenho desenhado ouvindo a voz calma, doce e às vezes um pouco rouca cantar em meus ouvidos suas melodias cheias de letras profundas e reflexivas.

Tudo estaria perfeitamente bem se eu não me conhecesse o suficiente. Não acredito que desenvolvi uma paixão platônica! Não era como se nunca tivesse criado uma paixãozinha pelo meu ídolo do momento, era só que parecia diferente.

Meu coração não batia forte só quando via uma foto sua, mas sim sempre que seu rosto e expressão me vem à cabeça. Isso me gera euforia, ansiedade como se estivesse esperando por algo como talvez conhecê-la, só que isso não irá acontecer.

Não tenho problemas com concentração, consigo me concentrar na tarefa que estou fazendo até acabá-la. Mas nas últimas semanas está tudo muito complicado, Billie me atrapalha e ajuda, são só suas músicas para me pôr na cama a noite.

Sinceramente, não quero acreditar que virei uma criança de 10 anos apaixonada pelo próprio ídolo, então irei atribuir tudo à minha mudança para uma cidade duas vezes maior que a atual onde vivo. São essas coisas que acabam me gerando ansiedade e insegurança, não uma garota de outro continente.

Uma das minhas amigas testou pedir cerveja ao garçom, ela era mais nova que eu com seus quinze anos, mas com sua altura, jeito de falar e se vestir passava tranquilamente por dezoito. A mesma pediu e o garçom trouxe exatas três cervejas. Uma era minha e apesar de nunca ter bebido nada além de champanhe no réveillon, me permiti tomar aquela lata por ser minha despedida. Foi o meu primeiro contato com bebida alcóolica, o gosto não era bom e nem insuportável, bebi toda lata. Não senti nada.

Continuamos conversando e por volta das duas da manhã dividimos o Uber, cada uma foi para a sua respectiva casa. Não sei se o sono acumulou com a bebida, estava me sentindo zonza.  Talvez achando o creme dental na escova de dentes bem humorado.

Depois de me ajeitar para dormir, deitei e mandei mensagem para as meninas perguntando se elas haviam chegado seguras em casa. Como um ritual de todas as noites, conectei meus fones de ouvido e Ocean Eyes começou a soar. Diferente de todas as outras vezes ela não me trouxe tranquilidade e sim uma crise de choro que demonstrava certa decepção.

Decepção por sempre desejar ser o que não era, decepção por sempre desejar alguém que nunca poderia ter. Decepção por desejar pertencer a alguém que nunca me pertenceria.

Nunca entendi o ato de estar ouvindo uma música enquanto pensava em outra. Foi então que abri o direct de wherearetheavocados e enviei:

 wherearetheavocados

Giving you every piece of me

I don't want love I can't afford

Can't you see I'm getting bored?

Depois disso eu apaguei.

{···}
Nota da autora:

Hey,

Essa fanfic foi escrita há muito tempo, na Era do wherearetheavocados  e a animação da Billie em sua foto de perfil no Instagram. Saudades.

Cuidem-se.

Pirata • Billie Eilish [SENDO REESCRITA]Onde histórias criam vida. Descubra agora