Somos breve, somos finitos, somos apenas mais um, num mundo cheio de pessoas. Vivemos num complexo onde cada passo da existência de uma vida é programado. É estabelecido o que você deve ser, fazer ou querer. Nascemos, crescemos, evoluímos, reproduzimos e morremos. É nessa ordem desde... sempre.
A lei da causa e consequência diz que seja o que for que criamos neste universo, ele sempre o trará de volta. Se você planta amor; colhe amor, se planta ódio; colhe ódio.
Contudo, eu não acreditava nisso. Não colhi apenas o que plantei, eu nunca desejaria a minha infância e adolescência para ninguém. Fui vítima das circunstâncias, de uma mãe ferrada e sem estruturas para criar um filho, que se tornou dependente de um homem ardiloso e abusivo. Eu não mereci e era por isso que eu não acreditava nessa baboseira de ação e reação.
Levou tempo para eu me curar, mas eu consegui. Me cerquei de pessoas que me amavam. Tive minha emancipação concedida aos dezesseis anos, parte disso foi graças à Amélia Forbes, que eu considerava uma irmã. Ela me ofertou todos e quaisquer sentimentos bons que possuía na alma, como latente combustível que sacudido e esparramado era capaz de ser o antídoto mais genuíno que esse mundo já viu, era o seu amor.
Tudo começou quando conheci Lia. Ela era instrutora voluntária de muay thai no centro esportivo PJP - projeto para jovens da periferia -, lembro-me que quando Louise, minha melhor amiga, me falou sobre isso, relutei para aceitar ir. Quando finalmente deixei ela me convencer de que era legal, eu vi um mundo de possibilidades se abrindo para mim, afinal, eu precisava saber me proteger, era necessário para aguentar o tipo de merda que acontecia na minha casa. Um dia no qual eu não suportava mais uma noite mal dormida, pedi ajuda para Lia. Ela e Mia são amigas, e foram as duas que me ajudaram a ter uma chance de ter o controle sobre a minha vida.
As férias de verão finalmente acabaram e hoje era dia de voltar para a rotina. Antigamente, eu teria amaldiçoado esse dia, pois nas férias eu conseguia dormir bastante durante o dia, quando as aulas começavam meu sono ficava atrasado. Era uma realidade fodida, me encher de cafeína e energéticos apenas para não apagar, porque quando eu dormia o inferno começava.
- Acorda!
Mia jogou uma almofada na minha cara. Ela sempre me acordava com atitudes semelhantes, nunca me tratou como se eu fosse quebrar a qualquer momento apenas porque eu sobrevivi ao abuso. Era uma das coisas que eu mais apreciava nela, sua espontaneidade. Eu era só mais uma pessoa normal com quem ela se preocupava, ponto.
- Bom dia para você também - resmunguei, mostrando a língua para ela.
- Tô de péssimo humor - avisou, preparando sua dose diária de cafeína - Você acredita que o Garrett me deu um perdido ontem?
Mia estava ficando com Garrett há uns meses, não é tipo um namoro, já que ela ainda não o apresentou para sua mãe. Ele também é instrutor no centro esportivo, que agora se chama Lado a Lado, é o melhor amigo de Lia, e foi daí que se conheceram.
- Vocês não iam naquele show de rock?
- Pois é, fiquei o maior tempão na frente da casa noturna, liguei para ele e ele não se dignou a mandar a porra de uma mensagem - agora eu entendia sua cara fechada.
- Ele não estava na academia ontem - relatei, nunca escondo nada da Mia.
- Olha, não tô nem aí se ele tá saindo com outra pessoa, só o que eu exijo que pelo menos me respeite. E me avise, para eu cair fora.
Eu não sabia se podia acreditar em suas palavras, Mia falava muita merda quando estava estressada.
- Fala com ele, o cara não parece do tipo imbecil.
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RomanceMeu nome é Chloe Harrison, tenho 17 anos e curso o último ano do ensino médio. Minhas prioridades eram terminar a escola, entrar em uma faculdade e conhecer um cara legal, mas, sobretudo, era encontrar qualquer coisa que me trouxesse alguma satisfaç...