2- Mia

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"Grupo de pessoas com ancestralidade comum." — Sete letras na vertical.

Beberiquei um gole do café, esperando que o efeito da cafeína fosse o suficiente para clarear minhas ideias. Reli a cruzada, tentando lembrar das palavras que se encaixavam nos espaços em branco.

— Tá bonita, onde vai? — indagou Chloe.

— Nós vamos — respondi distraída — É domingo, almoço na casa da minha mãe — recordei, olhando diretamente sua reação.

Ela encheu uma xícara de café e acrescentou creme e leite. Chloe tinha os cabelos ruivos cortados abaixo dos ombros, que agora estava preso em um coque desgrenhado, seus olhos eram azuis escuros, beirando o preto, ela se considerava acima do peso, mas para mim, Chloe era perfeita da cabeça aos pés.

— Sério? Aff, um domingo com os Forbes, Deus me ajude! — respondeu dramática, mas o sorrisinho oculto era a prova de que ela amava aquilo.

— Você tem quinze minutos para ficar pronta, vou trabalhar ainda hoje, e ainda tenho que pegar o Gabe.

— Têm algum lugar que você vai e não leva aquele pirralho? — cruzou os braços, me olhando bem humorada.

— Têm — respondi, desistindo da minha cruzada — Pro trabalho — sorri e levantei a xícara em um brinde silencioso.

— Porque não pode — ela deu uma risadinha.

Chloe levou mais de trinta minutos para ficar pronta e engolir as pressas seu cereal, já que eu fiquei apressando-a. Reclamou que não deu tempo de arrumar os cabelos, e eu respondi que se ela ficasse menos tempo mandando mensagem, conseguiria fazer tudo no tempo que eu estipulei. Dirigimos até a casa de Christian e Lia — meus melhores amigos e pais de Gabe, meu afilhado. Desde que me mudei para o antigo apartamento de Lia — quando Ruan, um criminoso psicopata com rixa antiga com a família Snow, incendiou o meu —, eu conseguia chegar mais rápido nos lugares. Boystown era um excelente bairro e apesar do meu lar ser pequeno para duas garotas, fazíamos funcionar.

Deixei Chloe comandar as músicas por enquanto, já que assim que Gabe subisse no carro, o aparelho de som seria dele e de suas músicas infantis irritantes, mas que eu o deixava ouvir.

— MI! — ele gritou quando chegamos no galpão onde eles moravam.

— Já falei que é titia — ralhei sem irritação alguma.

Talvez fosse seus olhinhos cinzentos que sorriem mais que sua boca cheia de dentes recém nascidos, ou a bochechas gordinhas e rosadas, ou quem sabe a sua voz doce que sempre me fazia virar uma amoeba em suas mãos pequenas. Abaixei para pegá-lo no colo, fiquei surpresa com o fato de estar mais pesado a cada dia. Christian estava parado ao nosso lado, observando tudo com um sorriso débil.

O cara que conheci há mais de dez anos nunca ficaria com aquela expressão abobalhada por uma criatura tão pequena, seus olhos escuros exibiam a sabedoria de um investigador, sobretudo o amor de um homem que fazia isso abertamente.

Apertei Gabe até ele dar risadinhas e depois o coloquei no colo de Chloe, que estava empenhada em ensiná-lo a cumprimentar com um toque bem elaborado.

— Entra ai, acabei de passar um café.

Eu nunca recusava um café fresquinho, então o acompanhei para dentro, passando pelo galpão aberto que antigamente era uma academia improvisada, mas com os anos se transformou em um playground para Gabe, com um escorregador de plástico e uma pequena piscina de bolinhas. Ri por dentro. Gabe era como um furacão, havia mudado a vida de todas as pessoas ao seu redor.

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