24- Mia

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Acho que eu morri. Eu devo ter morrido. Eu vi Monroe e ele está morto, portanto eu também estou. Minha mãe sempre disse que existe vida após a morte, que nossas dores não passam apenas porque morremos, então eu estava certa de que eu morri. A dor começava e eu gritava muito, e depois vinha um alívio tão maravilhoso, que no fim das contas eu estava feliz por estar morta. Assim eu não tinha que sentir mais nada.

Fiquei pensando na minha avó, se eu estava morta, queria ver minha vó. Merda. Eu estava cagando para o Monroe, então por que eu só vi ele? Devia ter perguntado para minha mãe se dá para controlar essas coisas, eu também ia querer ver meu pai. Meu cachorro Dexter, que morreu com um tumor no estômago e eu sofri demais, acho que eu tinha uns dez anos na época. Se eu não posso ver as pessoas que eu amo, então é uma merda estar morta.

— Amélia — eu ouço bem baixo, como se viesse do outro lado da linha, de uma ligação bem ruim — Ei, Mia. Vamos, abre esses olhos — a voz estava embargada, isso eu tinha certeza, mas estava distorcida. Um pouco rouca e, às vezes, bem aguda.

— Me deixa em paz — sussurrei, eu não reconhecia aquela voz, mas meu sono de morte estava tão tranquilo.

— Ah, você é mesmo muito dramática — era Christian? Ou Matthew? Merda, será que eles estão mortos também?

Eu abri os olhos com dificuldade, parecia que tinha dois sacos de areia sobre minhas pálpebras. A vista estava desfocada, luz e escuridão se misturando e borrões coloridos aqui e ali. Pisquei furiosamente, a dor estava lá e eu gemi frustrada, nem na morte a dor passa. Eu vi a minha mãe, Jackson, Leon, Patrick, Lia, Annie, Chloe, Matthew, Christian e Garrett. Estavam todos lá, de novo.

— Oi — disse, conferindo se dessa vez eu falava — Eu falo — conclui sorrindo. Minha mãe riu e chorou.

— Se você continuar se metendo nessas, eu vou te deixar trancada dentro de casa — ela ameaçou.

— Era o Monroe, o cara morto, ele atirou em mim — contei, deixando todos confusos.

— Não, aquele é o Martin, irmão gêmeo do Charlie Monroe — esclareceu Christian.

— Que? — franzi o cenho — Que merda, não acredito que perdi isso! — me queixei e o pessoal protestou — Fiquei apagada por quanto tempo dessa vez? — indaguei.

— Dois anos — disse Chloe e eu arregalei os olhos — Tô brincando, foi dois dias — ela se aproximou e me abraçou apertado.

— Nossa, esse quarto tá bem cheio — disse um médico — A mãe e o namorado, o restante podem sair — ele disse.

Meus familiares protestaram, xingando o médico baixinho, eu ri. Chloe e minha mãe ficaram do meu lado e o médico começou a explicar para mim o que tinha acontecido. Eu me lembrava, estava na casa do Monroe e ele atirou em mim, ou melhor, Martin, o irmão gêmeo ruim. Eu sabia que essa história cheirava mal, não fazia ideia de que era tão mal assim.

— As transfusões de sangue te salvaram — disse o doutor — Conseguimos controlar a sua hemorragia e se continuar nesse ritmo terá alta até o fim da semana.

— Que bom, não quero passar o natal internada.

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