23- Chloe

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— Chloe, eu sei que estamos fazendo tudo no seu ritmo — disse a dra. Stuart — Mas se você colaborar, prometo que vai ser mais rápido — ela sorriu — Admita!

Engoli em seco. Na sessão de sexta-feira, dra. Stuart me fez viajar por vales sombrios. Me fez contar do meu passado e do meu padrasto. Contei de Josh e de Dan, como tinha sido meu relacionamento com ele, e tantas outras coisas. Jéssica apontou para mim e disse o que eu sou, o que eu sempre fui e nunca quis admitir.

— Admita! — ela incentivou novamente e eu neguei com a cabeça.

Eu não queria falar, parecia que se eu dissesse a palavra, tudo seria tão definitivo. Não teria cura? Eu não queria ser daquele jeito.

— Assexual — solucei — Eu sou assexual.

Admitir aquilo em voz alta, foi o mesmo que dizer isso para mim. Era uma verdade intrínseca que sempre esteve ali, mas me recusei a pensar, sobretudo a admitir. Porra. Quem quer passar pela vida e não desejar ninguém? Não sentir prazer ou satisfação? E não tinha cura, era quem eu seria para sempre.

Respirei fundo e senti os olhos ardendo, mas não chorei. Dra. Stuart tinha me visto me desmanchar em lágrimas na semana passada, hoje eu aceitaria minha sentença e ouviria o que ela tinha para aconselhar.

— Isso, diga isso para si, sempre — ela sorriu — As pessoas acham que assexuais tiveram algum trauma no passado, ou tem baixa libido, mas não, Chloe, é como ser hétero ou homossexual, nasce assim e não escolhe. Você não tem que sentir vergonha, ou achar que não será feliz. Será sim! Isso não define quem você é, define apenas sua orientação sexual, ponto final.

Jéssica discursou e foi bom, já que eu não tinha mais nada para falar. Me explicou tantas coisas. Eu não me sentia atraída sexualmente por Josh, ou Dan. Eram atrações secundárias, atraída por sua inteligência, seu humor, seu físico. Me explicou sobre área cinza, assexuais arromanticos e os românticos. Computei tudo o que ela disse, como a doutora fez com todas as coisas que eu contei. Guardei na memória.

Não sai de lá inteira e piorou o fato da Mia não estar lá me esperando. Mandei uma mensagem para ela. Acho que uma parte da Amélia sempre queria ver como eu estaria depois de cada sessão. Ela estava lá, ainda que sua presença fosse silenciosa às vezes, ou quando questionava sobre tantos assuntos. Ela estava lá, mas hoje a Mia faltou.

Esperei impaciente, estava frustrada e quebrada demais para permanecer no lobby do hotel por mais tempo que o necessário. A Mia não tinha consideração. Como me deixava plantada ali, sem enviar a merda de uma mensagem?

Sabia que as coisas no trabalho não iam bem, ela me contou. Se estava atolada era mais fácil me avisar, então eu podia tomar um ônibus, mas não, sua displicência e seu mania de ser mais irresponsável e adolescente do que eu, foram incapaz de fazê-la pensar.

— Srta. Harrison? — o motorista do Matthew apareceu na minha frente, eu já tinha o visto antes. Ele sempre estava acompanhando Matthew nos lugares — Sou Reed Blake, a senhorita se lembra? — anui com a cabeça — Vou te levar até a Mia — sua voz falhou ao dizer o nome dela.

— O que tá acontecendo? — não era comum ele me pegar.

— Ela... — ele pigarreou — Bem, foi... atingida por uma arma de fogo no trabalho... eu sinto muito.

Toda a minha irritação foi dissolvida e só permaneceu a tristeza. Fui ao fundo do poço e, dessa vez, o fundo parecia ser incapaz de nadar, eu não alcançava o topo.

 Fui ao fundo do poço e, dessa vez, o fundo parecia ser incapaz de nadar, eu não alcançava o topo

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