3- Chloe

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Louise mantinha a guarda enquanto gingava em círculos pelo tatame, me olhava fixamente esperando que eu fosse vacilar, para ela ter a chance de acertar um golpe. Mas não era assim que eu trabalhava, não ali no centro esportivo. Os estímulos sensoriais eram transmitidos em impulsos elétricos, indo direto para o meu sistema nervoso. Eu pulsava fúria naquele momento, sendo bombardeada de todos os lados por ordens, gritos e incentivos.

Impaciente por sua própria natureza, ela insistiu em atacar, dando-me chance de pensar e reagir, afastando seu punho do meu rosto. Lancei um olhar duro para ela, não batíamos diretamente na cara, não quando o combate era demonstrativo. Ela se desculpou.

Eu era mais pesada do que Louise e talvez esse fosse o ponto de partida do meu erro. Subjuguei-a por seu tamanho, tentando igualar isso a sua força. Avancei com um chute alto, Lou desviou da força da minha perna com um passo para trás e, quando não era mais um perigo, segurou meu joelho usando toda sua força para me empurrar para trás. Me desequilibrei e ela caiu por cima.

A surpresa me fez ficar estática por um segundo, foi tudo que ela precisou para agarrar meu braço e me prender em uma chave de perna.

— Boa! — exclamou Lia, passando entre as cordas do tatame — De pé, as duas — exigiu, adotando sua voz de comando — Você tava indo bem, prudente, reservada e atenta — ela disse para mim — E você estava sendo impulsiva e impaciente — desferiu para Lou, que abaixou os olhos envergonhada — Parabéns, Louise. Você foi melhor, porque agiu com seus instintos e emoções, com o que tinha para doar — fiquei boquiaberta.

— Obrigada, mestre — Lou ruborizou.

— Vou deixar Garrett te dar uma lição — disse a instrutora depois que a minha amiga se distanciou — Não é só ter essa raiva, Chloe — ela me olhou com olhos amorosos, olhos de uma mãe de verdade — Tem que aprender a lidar com ela. Acredite em mim, digo isso com conhecimento de causa, se não controlar essa fúria, ela vai controlar você.

Assenti, olhando nos olhos cinzas de Lia, seu rabo de cavalo loiro balançou quando ela pulou para fora do tatame. Quando a conheci ela usava os cabelos bem longos, no entanto, fez um corte abaixo dos ombros, isso a fazia parecer um pouco mais velha. Garrett passou entre as cordas e se aproximou, seus lábios enfeitados com um sorrisinho sarcástico.

— Você é uma criança mesmo — zombou — Quantas vezes tenho que repetir, em? — indagou me olhando sério. Eu tremi por dentro — Foco, Chloe. Se você quer fazer alguma coisa, você tem que focar.

Ele era mais rude do que a Lia, acho que por isso faziam uma parceria tão perfeita. Quando alguém dava trabalho para ela, Garrett assumia o controle. Sua aparência inspirava medo. Talvez fosse a crueza dos seus olhos castanhos, ou seu porte alto e forte, não sei dizer, contudo, o resultado era sempre o mesmo: obediência total e incondicional dos seus alunos.

Deixou-me intimidada o suficiente para tentar impressioná-lo. Trabalhei tão duro no que estava fazendo, que não restava qualquer pensamento que não se referisse à nossa luta. Ele me levou ao limite, meus músculos gritavam quando por fim sorriu. Aquilo queria dizer que dei exatamente o que ele precisava de mim. E era nesse momento que ele me entregava direto aos cuidados de Lia.

— Ela tá em casa? — perguntou sobre Mia, enquanto bebíamos água sentados na borda do tatame.

— Hoje sim, trabalhou de manhã — procurei Lou com os olhos, ela estava perto dos meninos — Vou dormir na Louise hoje, então aproveita.

Bati em seu ombro e pulei para o chão. Pude ouvir uma risadinha dele, o que teria me deixado perplexa há alguns meses, quando eu só o via como um instrutor brutamonte e impassível, agora era uma figura cotidiana na minha vida. Will paquerava Lou quando me aproximei, notei que ela dava um jeito de balançar seu rabo de cavalo, mexendo constantemente a cabeça. Levei alguns minutos apanhando minhas coisas, quando voltei para minha amiga, ela estava sozinha.

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