22- Mia

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Eu odiava esperar, disso eu já sabia, porém, ficar do lado de fora do hotel, ou no bar, enquanto Chloe era atendida por Jéssica Stuart, me deixava com os nervos à flor da pele. Bebi uma margarita, comi uns amendoins e até caminhei sem rumo pelo lobby espaçoso do InterContinental, mas, merda, eu não conseguia parar de pensar em Chloe, de me preocupar com ela.

Quando adolescente, eu achava que era uma ninja, se tratando de esconder as coisas da minha mãe, mas ela sempre sabia. Eu nunca me considerei mãe de Chloe, tampouco ela queria isso, contudo, eu notava tudo. Como depois de cada sessão ela parecia mais perdida, aérea, no carro, presa em seus pensamentos. Ela não me falava nada, sorria amenizadora e dizia estar tudo bem, que estava progredindo.

A Mia curiosa queria perguntar isso a sua terapeuta, mas isso seria demais, até mesmo para mim. Eu tinha que respeitar as vontades de Chloe e continuar prestando atenção nela.

Uma hora e meia de sessão, então Chloe sai de dentro do hotel. Ela estava com a ponta do nariz vermelho e meu sorriso morreu assim que eu notei que ela tinha chorado. Ela passou por mim como um foguete e entrou pela porta do passageiro.

- Suponho que não queira conversar sobre isso? - indaguei receosa, não queria forçar a barra.

Ela acenou com a cabeça, em negativa, colocou os fones de ouvido e fechou os olhos.

Porra!

Odiava ver Chloe daquele jeito, se soubesse nunca teria incentivado a terapia. Ela parecia tão feliz há duas semanas, estava confiante, pensando no futuro, cantando em pubs com karaokê. Eu não há via daquele jeito, desolada, desde que ela veio morar comigo. O que diabos está acontecendo?

Não queria, mas tive que deixar Chloe sozinha em casa e fui para o laboratório, tinha que trabalhar.

Os arquivos que o detetive particular me mandou, continha uma dezena de fotos de um mesmo homem. O rosto sem nome, o assassino de Victor, Roger e Monroe, foi localizado há quatro dias. Não tínhamos nada que o ligasse ao crime, apenas as imagens do detetive. Não tínhamos motivos, arma do crime, nada!

Ele foi solto por falta de provas concretas, o que fez meu chefe, Alec Smith, comer meu fígado, ou pelo menos tentar. O que me deixava com tanta raiva e tão focada em descobrir os motivos por trás daquele crime. Timothy Campbell, o nosso principal suspeito, ficou detido por vinte e quatro horas. Nesse dia, vasculhamos o quarto de hotel dele, as contas bancárias, email, celular e computador. Nada. Ele limpou tudo, cada pequeno detalhe.

Estava analisando o dossiê da nossa primeira vítima, ele tinha se casado aos dezenove anos com uma mulher, o casamento gerou um filho, Max, que tinha acabado de completar dezoito anos. Eles moravam em Wisconsin, ainda não tinham se apresentado para o depoimento. Franzi o cenho, intrigada, há quase um mês investigamos essa morte, contudo, o filho e a ex esposa ainda não vieram, nem prestar depoimento e nem tratar do futuro funeral.

Victor Leroy era bissexual, o que pode ter gerado a antipatia do filho e da ex mulher, quero dizer, é comum por aí essas coisas acontecerem. Não é todo dia que descobrimos que estamos nos divorciando, para nosso marido ficar com um homem, ou nossa esposa ficar com uma mulher. Se Victor tivesse morrido há oito anos, saberíamos que foi vingança, ou ciúmes. Crime passional. Mas, dessa vez, a morte dele cheirava muito mal.

Timothy não tinha residência fixa em Chicago, ele nos contou que era amigo do Roger e foi até a casa dele prestar condolências pela morte do marido, contudo, ao chegar lá se deparou com Monroe e entendeu que Roger já tinha superado e partido para a próxima. Foi embora, mas permaneceu na cidade para um possível reencontro com o amigo. Um almoço, ele disse. Parecia triste, mas eu não estava convencida, ele tinha que fazer melhor do que aquilo para eu acreditar na sua inocência.

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