6- Mia

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Eu tinha a merda de um relógio biológico que sempre me acordava antes das dez da manhã. Eu achava isso ótimo nos dias que eu tinha que trabalhar, mas hoje estava finalmente de folga e me iludi achando que dormiria até tarde. Cansei de virar de um lado para o outro na cama, eu levantei para preparar meu café puro e forte, encontrei Chloe ainda dormindo no sofá. Não me importei, era sábado, ela não tinha aula.

Vesti uma roupa de caminhada, tentando me convencer que eu devia ser menos sedentária, mas minha ideia de relaxar não consistia em sair andando sem rumo. Por isso, descalcei os tênis e peguei meu jornal da semana passada para concluir mais uma palavra cruzada. Ia chamar Chloe para ir até um salão de beleza, podíamos fazer as unhas e fofocar sobre meninos. Ou talvez pegar um cineminha no fim da tarde e nos empanturrar com lanches do Mc Donald's.

O interfone tocou limitando a onda de pensamentos.

— Srta. Forbes, Jackson Forbes está aqui para vê-la — avisou o porteiro.

— Bom dia, Sr. Ramirez, pode deixar o pentelho subir — ele deu uma risadinha antes de desligar.

Jackson apareceu na minha porta alguns minutos depois. Ele era diferente dos meus outros irmãos e de mim, seu cabelo era mais claro e crespo — igual do nosso falecido pai — e seus olhos castanhos claros destacava-se em sua pele bronzeada. Ele tinha um sorriso enorme enfeitando seus lábios, andava com uma confiança que eu comparava a de Garrett.

— Mana! — exclamou me abraçando apertado.

— E ai? — eu o cumprimentei retribuindo o abraço.

Ele entrou na minha casa e assoviou olhando ao redor.

— Bem melhor esse lugar, mana — ele viu Chloe dormindo no sofá — Vamos dar uma volta para não atrapalhar o sono da menina.

Eu tinha mesmo que ir comprar o café da manhã, então concordei. Ele e Chloe não tiveram muito tempo para se conhecer ainda, ela tinha uma amizade melhor com Patrick, eu o achava bem difícil de fazer amigos. Vá entender!

— Desembucha! — falei para Jack, que devorava um croissant num café perto de casa.

— Eu acho que... a Nick tá grávida — confessou — Ainda não fizemos o teste para ter certeza, mas é possível que esteja.

— Puta que pariu, Jackson — xinguei alto, atraindo atenção dos clientes — Já contou pra mamãe? — completei no mesmo tom.

— Ainda não, como eu disse, não temos certeza — ele franziu a testa — Por favor, Mia. Me ajuda!

Eu o vi como meu irmãozinho pequeno quando ele disse isso, fiquei com pena, mas como ele sabia que bastaria um olhar de cão que caiu da mudança e me teria na palma de sua mão. Sacudi a cabeça e bebi meu café, tentando clarear os pensamentos.

— Você tem vinte anos, cara. O que pode oferecer para essa criança? — ralhei.

Ele me fitou com uma determinação que eu nunca tinha visto.

— Mia, eu não sei, tá legal!? Mas tenho oito ou nove meses para descobrir — ele largou o restante do seu croissant no prato — Rodei essa semana procurando um emprego e não achei nada. Fui até naquela oficina que o cara me chutou para fora daquela vez, mas nem lá consegui um trampo.

— E você quer que eu te ajude — afirmei. Ele teve a cara de pau de ruborizar.

— Sei lá, eu estava sentado no ponto de ônibus, e tinha uma construção na frente — começou a divagar — Estava escrito numa placa indicando a obra: "Construtoras Lancaster", achei que podia ser um sinal.

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