35.

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— Lú, me traz um copo d'água e dois chocolates? — Bella Barbie choraminga na minha sala de estar, eu jogo a toalha de enxugar pratos com revolta na mesa da cozinha.

— Claro, Bellinha! — imito a voz dela, respirando fundo e tentando não surtar.

Essa criatura me ligou dizendo que tava passando mal, cheia de cólica e com fome. Mal deixou eu recusar o próprio convite dela vir pra minha casa, ela logo apareceu aqui com um notebook na mão e uma tiara brilhante na cabeça.

Se eu tivesse sete anos, cuspiria no copo e fingiria que nada aconteceu. Já tenho vinte, então eu só amassei as trufas recheadas dela e levei na maior gentileza. Por sorte *ou azar, a Barbie mal notou. Tá ocupada demais cuidando da vida dos outros na internet.

— Você tem notícias do Pedro? — ela olha pra mim com cara de sofrida.

— Por que eu teria? — franzo a testa.

— Vocês são amigos, e que eu saiba você gosta dele. — ela diz, naturalmente.

— E que eu saiba, tem um loiro gatíssimo vindo pra cá agora mesmo. — minto, lembrando da voz incrível de Rafael. — Por que não vai procurar o seu namoradinho num circo? Ele adora fazer piada. — brinco, lembrando do quanto eu e ele rimos outro dia.

— Vou tentar ligar pra ele de novo. Vou usar o banheiro, posso? — ela come uma das trufas amassadas e anda com seu telefone na orelha até a porta do banheiro.

— Quando foi que você pediu permissão pra usar as minhas coisas? — pergunto retoricamente, bebendo a água que coloquei no copo pra Bella.

Vou ao meu quarto, ajeito meu piercing no espelho e quando cruzo o corredor, meu celular toca. É o Rafael, PUTA MERDA, é o Rafael! Bem na hora.

— Oi! — exclamo, empolgada.

— Oi, você tem alguma coisa pra fazer hoje? — ele pergunta, animado também.

— Trocar meu absorvente e....só. — dou de ombros.

Ele fica em silêncio, e eu gargalho.

— To brincando, Rafacléu. O que quer fazer? — sorrio sozinha, fazendo uma voz estranha *talvez porque a pergunta soou estranha.

— Ir num show, talvez. To pensando ainda, mas você pode escolher o programa, se preferir. — ele diz, claramente nervoso.

— Tá bom, qualquer coisa pra ficar longe da-

— Lúcia! — Bella brota DO NADA atrás de mim, e fica abaixada no chão, com a mão na barriga. — Com quem você tava falando? — ela diz, naturalmente, mas ainda tentando soar como uma pré-falecida.

— Com o porteiro. — digo sem pensar.

— Eu ouvi você falando "Rafael". — ela balança a cabeça.

— Não, eu falei "Rafacléu". É o nome do porteiro.

— Não mente, Lúcia... — ela resmunga baixo. — Não precisa esconder essas coisas de mim. Somos amigas.

— Não to escondendo. — garanto. — To preservando. — corrijo.

Ela faz uma cara estranha antes de gemer de dor. Eu me aproximo da frescurenta, colocando seu braço em volta do meu pescoço e levando ela até a sala. Pronto, agora fodeu legal!

darth vader [orochinho]Onde histórias criam vida. Descubra agora