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— Percebam que as pinceladas de leve são o mais importante pra esse tipo de pintura. Os detalhes em degradê verde, as bordas... — David, o professor do curso de artes, fala como se tivesse ensaiando pra uma peça teatral *gostei.

— Acha que vai ser fácil pra gente fazer isso? — uma menina pergunta, em choque.

— Claro que não. Mas nada é fácil nessa vida, não é mesmo? Ao trabalho! — ele grita, rebolando até sua cadeira *que por sinal, é mais confortável que a de todas nós.

— Posso usar rosa no lugar do verde? Acho que é mais a minha cara. — Bella sorri.

— Claro que é. — resmungo baixo, e a menina que sentou do meu lado ri.

— Lúcia, dá pra parar?! — a Barbie levanta de sua cadeira, revoltadíssima. — Sei que me odeia, mas não atrapalha o meu sonho!

— Seu sonho?! Desde quando isso é o seu sonho?! — debocho, me levantando também.

— D-Desde sempre, ué! — ela gagueja.

— Tá bom, então. — gargalho, sarcástica. — E o meu sonho é ser um coala que voa e caga margaridas.

— Acho bom as duas sentarem antes que eu realize o meu sonho, que é expulsa-las daqui! — o professor interfere.

— Hã? — todo mundo pergunta ao mesmo tempo.

— Fala sério! Essas duas só brigam! Se tem alguma coisa pra resolver, que resolvam lá fora! — David aponta pra porta, estressado.

— Não temos nada pra resolver. — Bella vira a cabeça.

— Quem vai resolver é você, fazendo o que sempre faz pra aliviar seus problemas: dando bucetada! — exclamo.

— Chega! Saiam da minha sala, agora! Hoje vocês não assistem mais a aula! — David grita.

— Saco. — reclamo, me levantando e indo desajeitada até a porta.

Bella me segue e nós vamos até a recepção, ignorando uma à outra. Fiquei com vontade de rir no elevador, mas consegui me manter séria *coisa inovadora, por causa da tristeza que me deu em saber que ela estragou a minha aula. Simplesmente estragou.

Podia ter ficado no canto dela, calada e sonsa como sempre? Podia, mas bem hoje a garota resolveu soltar a franga louca que existe dentro dela.

*Darth Vader é eu e eu sou Darth Vader.

— Rafael? — minha boca fala por si só quando encontro o menino em pé encostado no balcão da recepção.

— Lúcia, a gente pode conversar rapidão? — ele diz em nervosismo. — Você tem que voltar pra aula, né?

Bella senta numa poltrona e se inclina pro lado contrário.

— Na verdade, não. Graças à uma pessoa, eu não posso mais participar da aula de hoje! — olho pra Barbie.

— Tá. Enfim... — ele balança o rosto. — Desculpa ter mentido pra você esse tempo todo. Não vou tentar justificar o meu erro, porque é inevitável ser um filho da puta, às vezes. — ele conclui, seriamente.

— Fala sério, por que você veio? — reclamo, querendo xingar todo mundo. — E ainda me pede desculpas com uma voz gostosa e essa cara de sedução.

Ele junta as sobrancelhas, sem mais expressões.

— Então a gente voltou a namorar? — ele pergunta, sem dar muita importância ao que eu disse anteriormente.

— Não, eu... — respiro fundo, pensando no Pedrinho Arrombadinho e seu sorriso irresistível.

Antes que pudesse continuar, vejo Pedro se aproximar do prédio pelas grandes portas de vidro em volta do lugar. Bella Barbie também viu, e correu pra fora antes que ele abrisse a porta. Abraçou o menino *quase enforcando ele, e depois se beijaram por um tempo até que bem longo pra quem não sente nada de mais.

Fiquei muito magoada, não nego.

— Ei. — Rafael cutuca meu ombro.

— Sim. Voltamos à namorar. — sorrio sem graça, ainda observando discretamente o casalzinho se agarrando na frente do prédio.

— Tá. — a voz dele falha. — Então eu já vou indo. Depois a gente se fala. — eu me inclino pra beijar ele *como despedida, mas o garoto anda mais rápido que sei lá o que.

Ai, essa ansiedade dele me lembra os surtos que a Giovana tinha na escola, quando gostava de um menino e ele mal falava com ela *coisa rara.

darth vader [orochinho]Onde histórias criam vida. Descubra agora