Capítulo 11

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SEM REVISÃO

Quando soube que o pai da Marília havia falecido, percebi o quão engraçada pode ser a vida, em um dia você está ali, saudável, e no outro, descobre que tem uma doença que vai tirando sua vida aos poucos.

Minha amiga com certeza sentiu muito a perda do pai, principalmente pelo remorso que tem no coração por não ter ficado com ele. Marília se julga inconsequente por ter abandonado o pai para morar no exterior. De acordo com ela, o desgosto que ele sentia por ela estar longe, fazia com que ele piorasse cada vez mais.

  A dor de perder alguém que se ama é sufocante, talvez ninguém nunca saiba como você realmente se sente, apenas imagine, por que aquela dor, aquela sensação horrível que você sente quando vê a pessoa indo embora, a sensação de que sua vida está acabando também, só você sabe como é. Cada um sofre de maneira diferente a perda, alguns gritam e deixam as emoções saírem, outros apenas se calam, e se trancam no seu próprio mundinho, convivendo sozinho com a dor, que vai corroendo o coração aos poucos. Marília decidiu lidar com a sua perda, recomeçando tudo aquilo a que um dia ela renunciou, com a determinação que ela sempre teve, jurou para si mesma reconstruir o que um dia já foi o império de sua família e com isso, decidiu também continuar aqui no Brasil.

Eu realmente não sei bem o que pensar, ficar ou não ficar? Nesse tempo em que estivemos aqui, minha filha se apegou a todas as pessoas, principalmente a prima Amanda, que tem sido a companhia que ela tem para brincar. Seria egoísmo da minha parte, afastar minha princesa novamente da família que ela tanto se apegou?

  Ao contrário do que é pra ela, os dias pra mim tem se tornado cada vez piores aqui nesse lugar, os pesadelos estão cada vez mais frequentes, me fazendo lembrar partes da minha infância que eu queria poder deletar para sempre, momentos que eu queria que nunca tivessem acontecido.
Termino de colocar minha roupa para descer para o café, minha filha, ansiosa como sempre, não quis me esperar e já desceu para ver a vó. Catarina tem acompanhado alguns de meus pesadelos, o que eu não gosto nem um pouco, me preocupa que eu possa traumatizar minha filha com isso, mas o que fazer se eu não consigo controlar? Se essa casa desperta em mim as piores sensações. O que fazer?!

Quando desço as escadas percebo que todos já estão na mesa a minha espera. Júnior também está aqui, sentado na mesa e conversando com a minha filha que sorri animada pra ele. Mas o que é que esse cara tem que conquista todas as pessoas desse jeito? Não é possível.

- Bom dia. - digo me aproximando e todos me encaram com o olhar de sempre, preocupação? Pena? Eu não sei, mas sempre que tenho pesadelos, eles me olham dessa maneira.

- Bom dia. - respondem em uníssono

- Bom dia mamãe. - minha filha se levanta e vem se sentar ao meu lado sorridente. Suas bochechas estão meio rosadas por que está um pouco frio, o que a deixa ainda mais fofa.

- Eu já disse que odeio essa casa? - verdade seja dita, esse não é o meu lugar favorito no mundo, era, quando eu era bem pequena, e Jen ainda não tinha feito as atrocidades comigo, mas depois, esse lugar passou a ser pra mim a minha prisão particular, onde eu sofria as piores coisas, pela pior e mais improvável pessoa.

- Muitas vezes, mas fique a vontade, vamos tomar café. - Júnior diz e eu o encaro

- Você não está frequentando muito esta casa Júnior? Por acaso você não tem a sua própria não? Não aguento mais ver essa sua cara perambulando por aqui.  Tenha dó.

Mamãe me olha com olhar de repreendimento e eu ignoro, não estou falando nenhuma mentira.

- É muito bom ver você também Suzana, eu também adoro a sua presença. - cínico!

Completamente Minha - SÉRIE: INSANOS - LIVRO 2Onde histórias criam vida. Descubra agora