Capítulo 4

33 4 0
                                    

Naquele sítio me sentia mais segura, eu não conhecia nada, por incrível que pareça eu não conhecia aquela parte da cidade de todo.

Depois de tanto correr e de tanto desesperar, me sentia cansada, me sentei no passeio a beira de um estabelecimento e levei o meu peito até as minhas pernas dobradas e ali fiquei chorando uma vez mais, não acreditava como era possível o mundo ser tão cruel com uma pessoa que apenas tenta ser feliz da maneira que é, não uma falsa felicidade escondendo todo o seu ser.

Fiquei ali, pensando em como era possível aquilo tudo me estar a acontecer, por amor de Deus estamos em pleno século vinte e um, como é possível ainda existir tanto preconceito por uma pessoa simplesmente ser lésbica?

Isso me revoltava, me fazia lembrar do tempos em que estudava história, lembrava-me de episódios como a caça às bruxas, em que qualquer coisa que uma pessoa pudesse ter que fosse indicio de bruxaria seria queimada em praça publica, a mim pouco faltou para acontecer o mesmo.

Me lembro também do tempo dos descobrimentos e como o povo português começou a escravizar os africanos por a sua diferença de cor e isso é algo inadmissível hoje em dia. Então porque que a mim só por ser lésbica me tratam desta maneira?

Mais pensamentos desses vinham na minha cabeça e cada vez com menos vontade de voltar atrás e cada vez chorava mais e mais sem parar, não conseguia suportar tudo aquilo, principalmente sozinha, precisava do apoio de alguém para conseguir aguentar, não estava a aguentar mais ficar aqui sozinha este tempo todo.

Não sabia o que fazer mais, pois, não falara com quase ninguém e os poucos que falava provavelmente não me irão responder mais por causa desta história de eu ser lésbica, ainda não entendi que mal isso tem e porquê que as pessoas se preocupam tanto com a vida dos outros, explicam-me que diferença faz para vocês se eu dou para um homem ou para uma mulher? por acaso são vocês que vão fazer de colchão? São vocês que vão participar numa orgia comigo e com a outra pessoa? Então se não vou participar de maneira nenhuma calem-se e preocupem-se com a vossa vida e deixem a minha em paz, simplesmente fingem que eu não existo se a minha sexualidade vos incomoda assim tanto.

Neste momento ouvi uma voz, uma voz de mulher mais ou menos da minha idade, mas a voz era bem suave e querida.

-Passa-se alguma coisa contigo? Pareces demasiada triste para estar aí sozinha, anda comigo.

Antes que pudesse responder, ela me agarrou pela mão puxou-me para cima e começou a correr sem largar a minha mão, o que significava que eu teria de correr com ela. Imaginei aquela cena em câmara lenta, os cabelos castanhos compridos dela esvoaçando ao vento com aquela roupa que parecia que um unicórnio tinha vomitado em cima dela, uma camisola rosa com uns bolos desenhado, uma saia também rosa com uns desenhos de unicórnios, ela ia olhando para trás para ver como eu estava, e reparei nos seus pequenos olhos cor avelã, que brilhavam com a intensidade daquele sol.

Ela me levou para umas ruas que eu nunca estive, umas ruas bem calmas e ali ela se começou a apresentar:

- A propósito ainda não me apresentei, eu sou a Rachel e tu como te chamas?

- Ashley, porque que me trouxeste para aqui?

- Para conversarmos melhor, afinal conta-me lá o que se passa? Eu vi que estavas muito triste e não podia deixar-te naquele estado.

- Eu nem te conheço, como posso confiar em ti.

- Segue a tua intuição e ela te dirá se deves ou não confiar em mim.

Por alguma razão, a minha intuição dizia que podia confiar nela a cem por centro, então comecei lhe contando a história desde o início.

- Bom foi o seguinte, a faculdade inteira ficou a saber que eu sou lésbica.

O Teu FantasmaOnde histórias criam vida. Descubra agora