Capítulo 3

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No dia seguinte, acordei com menos vontade ainda de acordar, apetecia-me ficar ali até morrer. Sem ver mais ninguém sem falar com mais ninguém, simplesmente ficar esquecida na imensidade daquele mundo, fechada a sete chaves naquele quarto a onde eu passava a maior parte do meu tempo.

Nessa manha custou-me demais sair da cama, eu por mais saber que tinha que ser, não conseguia mexer um músculo para fora dela.

Comecei a pensar no dia anterior e realmente quanto mais pensava mais ódio de mim mesma ficava, queria conseguir apagar aquele último dia da minha vida, mas não iria acontecer.

Só conseguia pensar em tudo o que ainda iria passar naquele próprio dia e isso me deixava angustiada, eu só queria ser tratada como normal, ser aceite como sou. Eu não pedi nada disto, mas no fundo eles todos pensam que foi uma escolha, que acordei um dia e olha agora sou lésbica, não, foram anos a descobrir-me como tal, foi um processo doloroso, pois, eu nunca fui uma miúda popular, sempre me apontaram o dedo por tudo e então descobrir uma coisa destas era só mais um motivo para todos me apontarem o dedo.

Eu só queria ser hétero para assim não ter de passar por tudo isto, já me chega ser colocada de lado por mil e um motivos não precisava de mais um.

Todo esse pensamento é-me trazido com ódio, raiva e rancor. Não conseguia lidar com aquilo, sentia-me cada vez mais deprimida, mais sem vontade sequer de sair de casa.

A felicidade matinal naquele dia não apareceu, fiquei simplesmente coberta por sombras demoníacas, vozes de risos e piadas por eu ser como sou.

Então limitei-me a sair da cama e ir tomar um banho, mas desta vez sem a motivação do dia anterior simplesmente fiquei ali esperando que a agua aquecesse, mal aqueceu despi-me e entrei, tomei um dos banhos mais rápidos que me lembro e me vesti com a maior rapidez que me lembro.

Desta vez estava com umas calças pretas, mas sem a parte rasgada, e uma camisola preta desta vez dos Arch Enemy. Os acessórios do costume não podiam falhar e a maquilhagem que era obrigatória, fazia-me sentir um pouco melhor comigo mesmo.

Desci, e fui tomar o pequeno almoço do costume e me dirigi para a porta, sai de casa sem dizer uma única palavra, a vontade de falar com quem seja era nula.

Então, sai e por sorte não via ninguém na rua a pé que me pudesse encarar, coloquei os earphones para ouvir as minhas músicas pesadonas e la fui eu a caminho do inferno nível dois, esperava um dia muito mais complicado do que no dia anterior.

E este dia prometia ser um dia de difícil alcance, que dificilmente iria aguentar na sua serenidade.

Chegando ao portão da escola pude logo ver um amontoado de pessoas me encarando e rindo da minha pessoa.

Como se o palhaço tivesse acabado de entrar em palco, que só o simples facto de ser um palhaço já da vontade de rir.

Comecei logo a sentir-me desamparada com aquela atitude. Nunca imaginei que na faculdade o pessoal fosse tão criança, esperava mais maturidade por todos, mas na verdade conseguiam ser piores que o pessoal de tempo de escola.

Mal entrei dentro do recinto pude perceber que eles falavam sobre mim, mas como não tirei os earphones não consegui perceber o que falavam.

Fui tentando encontrar um lugar sossegado para conseguir estar em paz, mas todos os corredores estavam cheios de pessoal, e a cada corredor que passava via um monte de caras novas olhando para mim e me encarando como se fosse a nova aberração de um freakshow. E isso me incomodava profundamente.

Cheguei finalmente a um corredor que aparentemente estava vazio e descontrai um bocado a pressão de todo aqueles olhares, ali estaria mais a vontade sem ninguém para me ver, sem ninguém para me perturbar, só eu, a minha musica, os meus pensamentos e a minha imaginação de um final feliz que poderia chegar a ter.

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