Capítulo 20

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No dia seguinte fomos informados que não haveria aulas, avisou-nos só depois de já estarmos todos nas nossas salas de aula, em vez disso os professores decidiram juntar a faculdade toda e seguirem para o funeral da Stephanie que decorreria naquele mesmo dia.

Apesar da pessoa de merda que era para os outros alunos, ela era muito querida pelos professores e toda a parte docente da faculdade.

Ou seja, eu seria obrigada a ir ao funeral da pessoa que sem querer matara uns dias antes.

Chegaram relatórios que a polícia ainda não tinha apanhado o criminoso, mas a família estava com presa para encerrar a vida de Stephanie de uma maneira digna sem mais demoras.

Sinceramente com isso se iria dificultar mais a investigação porque não puderam analisar o corpo mais a fundo.

O que para mim é uma coisa boa, visto que assim não vão analisar melhor. E assim será mais difícil de me apanharem, espero eu que isso nunca aconteça.

A igreja era perto da faculdade, portanto todos nós fomos a pé ate la, durante o caminho só pensava de como foi o último dia da vida dela, aquela tortura toda que eu provocara por causa da Rachel, olhando para o lado la estava ela, Rachel, sendo invisível como sempre perante todos menos eu. No momento que olho para ela, ela retorna o olhar e sorri, sorri como se fossemos simplesmente dar um passeio, como se ela em parte não tivesse culpa do que acontecera no dia anterior. Por um lado, sentia-me bem porque estava cada vez mais perto de descobrir quem é realmente a Rachel, algum tipo de fantasma? Ou algum tipo de demónio? Talvez um anjo? Sabemos que é algo que veio dos mortos e que consegue ser invisível perante toda a gente.

O caminho decorreu em silencio, ninguém se atrevia abrir a boca, tudo tão silencioso. Mesmo os mais irrequietos e os piores alunos se mantinham unidos num momento destes e simplesmente se mantiveram em silencio e sem palhaçadas.

Chegando la o caixão estava completamente fechado, os pais contaram o estado horrível em que ela estava então acharam melhor nem o manter aberto, toda quebrada, pior do que visto em qualquer filme de terror. Quem dera que fosse um filme de terror pensariam eles. Pelo menos saberíamos que era tudo encenado. Mas aqui é a vida real, sem segundas oportunidades, sem regravações, sem ensaios. Vivemos completamente em um filme improvisado que tudo o que fazemos será exibido para que todos os outros nos julguem por tudo o que fazemos, por todas as nossas decisões erradas que deram certo, por todas as decisões certas que deram errado. Por tudo, simplesmente nos julgar como se de um filme realmente se tratasse, sem importar com o que esta por trás das câmeras, sem importar o porque de termos tomado aquela decisão naquele momento.

Sinceramente não queria estar ali, não me sentia bem fingir que nada tivesse acontecido e que estaria tão triste como os outros.

Aparentemente só eu e a Rachel que não queria-mos saber daquilo para nada.

Decidi afastar-me um bocado do grupo amontoado de gente e ir por um instante a um sítio mais reservado.

-Rachel como estas com isto tudo?

-Eu estou bem isto não me interessa nem um bocadinho, queria ir embora, queria voltar para tua casa, isto é aborrecido demais.

-Rachel tudo bem que ambas não gostávamos dela, mas não é razão para se ser tão fria, eu estou aqui a sentir-me mal pelo que fiz.

-Mas o que esta feito esta feito, vais ficar por aí chorando por uma merda que não da para corrigir ou seguir a tua vida em frente? O passado já era, o que fizeste nunca mais poderá ser desfeito. Então segue o resto da vida sem arrependimentos.

-Mas...

-Mas nada tas tão perto de descobrir o que eu realmente sou e vais perder tempo choramingar por uma canalha morta que te fez a vida numa miséria, fez-me suicidar? Ela teve foi a paga por ter-me feito o que fez. Por nos ter feito todo aquele mal.

-Tem calma, tu esta diferente.

-Simplesmente me cansei de ser boazinha e me preocupar com todos e tudo, neste momento só me preocupo com o que é realmente importante para mim, eu, tu e descobrires quem eu sou, nada mas importa e digo mais que se fodam todos e mais alguns.

Olhando para ela via fogo nos olhos, via uma aura que nunca tinha reparado antes, uma aura vermelha, uma aura de raiva. Entendia como ela se sentia, eu sentia-o também, mas não o demonstrava. Simplesmente todo o mundo sempre me virou as costas e eu feita parva ia acreditando neles e os ajudava ate não poder mais.

Comecei a ouvir um barulho estranho, parecia vir da capela, ao chegar la reparei que quase toda a faculdade estava a chorar, a chorar pela perda de uma das alunas supostamente mais importantes da escola. Que todos queriam comer, que todos tinham medo, que era um exemplo de pessoa segundo os professores e todos a seguiam como se fosse a abelha rainha, ainda bem então que derrubei o trono dela, deixando estas abelhas todas livres de tudo o que era fez a eles.

Por outro lado, ali não parava de chegar gente, todos os minutos pelo menos uma pessoa aparecia. Como era possível uma pessoa tão má como ela ser tão querida por tanta gente.

Mas bem pelo menos é menos uma cabra neste mundo, ou seja, um mundo um bocadinho melhor. Este pensamento me deixou um pouco mais aliviada.

Ainda penso como tive a coragem de fazer o que fiz, nunca na vida pensei ser capaz de matar uma pessoa.

E tão cedo espero não matar mais ninguém porque no final fiquei com um sabor desagradável. Não queria voltar a passar nunca mais por aquilo.

Aquele nervosismo, aquela sensação que a cada momento a polícia lhe iria ligar e ela iria ser presa, provavelmente para sempre por ter sido um crime tão impiedoso.

O meu coração começou a bater forte, começou a acelerar ate não aguentar mais, não estava a conseguir aguentar aquele batimento forte.

O ar parecia recusar-se a entrar por mais força que fizesse, estava a sentir me com falta de ar.

A consciência pesada demais, me perguntava "porque?" "Ashley porque que foste tão longe?" "porque que tiveste que matar?" "e se fores apanhada?"

Comecei a transpirar como se de uma maratona se tratasse eu estaria preste a chegar a meta.

A visão começou ficando turva, não conseguia ver nada direito, os meus olhos logo se inundaram de lágrimas. Comecei vendo parecendo estar dentro de um aquário olhando para o lado de fora sem entender nada.

Comecei a desesperar, os batimentos só aumentavam, o peso da culpa só aumentava. Não conseguia fazer com que acalma-se.

Queria deitar aquilo tudo para trás das costas, mas não consigo, comecei sentindo-me zonza.

Cabeça começou a andar a roda, pareci ter bebido litros de vinho do melhor que havia.

Não me conseguia mexer, sentia que ao mínimo músculo que mexesse iria me desmontar.

Porque que isto tudo esta agora a acontecer? Me perguntava sem resposta.

O pessoal reparou no meu estado

-Ashley estas bem? Estas tão pálida.

Eu não consegui responder.

-Ashley tas a ouvir?

E nesse momento um deles me toca.

-Ashley estas a arder, quase que queimei a mão.

Nesse preciso momento senti que sobrecarreguei e todo o meu sistema se desligou, cai redonda no chão sem conseguir fazer nada, desmaiei parcialmente.

Parcialmente porque não sabia o que estava a acontecer, mas tenho algumas sensações. Senti-me a ser transportada por uma ambulância.

Senti que estava numa cama do hospital.

Senti que estava sendo internada para saberem o que se passara comigo por ter desmaiado do nada ali e não ter acordado de jeito nenhum sem que ninguém conseguisse-me acordar e fazer eu voltar a mim por completo, só mesmo parcialmente.

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