O Teu Fantasma

Capítulo 8

Na segunda feira, decidi voltar as aulas. Tinha que ser. Esperava que já tivesse tudo muito mais calma e já não se metessem comigo como até agora.

Apesar que agora pouco me importava porque tinha sempre a Rachel comigo, acontecesse o que acontecesse.

Ela não me deixaria por nada deste mundo, tenho a certeza disso. E é com essa certeza que consigo ter força para mais um dia, para mais uma aventura, desvendando mares feito pirata. Seria eu Cristóvão Colombo? Pedro Álvares Cabral? Ou seria uma lenda como o pirata Barba Negra?

Não importava quem eu fosse, eu a partir daquele dia iria conquistar o mundo, iria conquistar o meu lugar sem que ninguém tenha nada a haver com isso.

Sai do quarto e foi tomar o meu duche como sempre, sempre a mesma velha historia, sempre o mesmo ritual padronizado que eu tanto seguia à risca.

Teria de ir maravilhosa, a rainha das trevas daquele lugar, todos iriam me temer um dia.

- Para todo o pessoal da faculdade, um trilião de anos de puro desespero. Assim entenderão o que eu rainha das trevas, rainha de todo o inferno sofreu nas mãos imundas desses reles humanos que me imploram por misericórdia. Não existe tal sentimento no coração da vossa rainha. E quanto mais pedem mais aumentarei o tempo e mais pesado será o castigo.

Comecei me rindo, ao ver a minha figura quando declamava esse meu discurso a frente do espelho, seria tão bom se um dia fosse possível vier a ser isso e poder me vingar de todos os que sempre me maltrataram. Mas infelizmente quando eu morrer o único que vou ter é um sono profundo debaixo de quilos de terra. Pelo menos vou emagrecer muito.

Desci para a cozinha, tomei o mesmo pequeno almoço de sempre e me dirigi para a saída. Mais uma vez passando pelo o portal que muda completamente a minha disposição. Mas desta vez seria apenas uma porta, uma porta para a minha continuidade de bem disposição que ninguém iria abater. E quem tentasse era melhor ter o caixão já encomendado.

Comecei a reparar como sou malvada e como sou tão negra, tão macabra. Mas gostava da maneira que isso suava e gostava de ser assim, então, não iria mudar isso por nada deste mundo.

Eu me dirigi então para a faculdade como todo os outros dias, ia passando pelas pessoas que sempre me olham de lado e eu só conseguia imaginar eu passando e elas automaticamente pegando foto à medida que eu ia passando, queimando em agonia até não restar mais ossos.

Começava a ficar preocupada tinha uma mente demasiada sombria, mas isso era tão bom, adorava esses pensamentos doentios.

Chegando a faculdade vi uma multidão de pessoas em roda, parecia que estava a haver uma rija de alunos, cheguei perto para ver.

Ao chegar la perto reparei na cena mais horrível que imaginava, um grupo de três rapazes agredindo um único rapaz indefeso.

Durante esses embates poderia ouvir os três rapazes dizerem.

"sai daqui preto de merda"

"desaparece, volta para a tua terra"

"vocês nem deveriam de existir"

"pretos não são aqui bem-vindos"

Eu comecei a pensar o que também é bem-vindo nesta faculdade?

Mas não pude deixar o rapaz sofrer esses abusos, tinha de o ir ajudar, furei o grupo e ao chegar a primeira fila a onde muitos apreciavam, só faltava as pipocas e a poltrona do cinema e talvez uns óculos e realidade virtual para parecer mais real ainda.

Decidi avançar, nesse momento alguém me agarrou pelo braço. Olhei para a pessoa e ela acenou com a cabeça de um lado para o outro repentinamente como quem diz, não faças isso. Não quis saber, fiz força com o braço para ele me largar e continuei, entrei no círculo de feras. Ver qual será o primeiro leão a me atacar.