Sinto Falta Dela

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Não estava conseguindo me concentrar no jogo novo que Ciborgue comprara hoje à tarde. O sofá, tão confortável em meus cochilos, deixavam minhas costas doloridas. O lanche de tofu não passava pela minha garganta com tanta vontade. Minha mente só tinha uma imagem que, incessantemente, não parava de se repetir: Terra.

Aquela garota que por muito tempo pensava que fosse minha amiga, minha companheira de equipe, minha confidente, sumiu. Tentei por dias conversar com ela e tentar fazê-la se lembrar de sua vida passada, sua vida como uma de nós, os Titãs.

Não podia compreender. Não queria deixá-la ir. Tinha tanto para lhe dizer...

-Campeão onze vezes seguidas. Quer uma revanche para que eu consiga minha décima segunda vitória? - Ciborgue, empolgado com seu jogo, não percebia como eu estava naquele momento, só queria ficar sozinho em meu quarto e pensar. Na tela da TV, o jogo avisava que iria reiniciar a partida. Desliguei meu controle e me levantei do sofá. - Ei, amigão, aonde você vai? Se for para a cozinha, pega um lanchinho para mim? Joguei por horas e queria beliscar algo antes do jantar.- Minhas pernas pareciam pesar ao se arrastarem levando meu corpo para fora da sala.

A porta da cozinha se abre quando chego perto e vou direto para a geladeira. Dentro, vejo tudo o que se pode colocar em um sanduíche completo. Abro a prateleira e pego um prato limpo, o que já está se tornando impossível de se encontrar. Me viro para a bancada e vejo Ravena concentrada em mais um de seus livros e parece não notar minha presença. Termino de montar o grande sanduíche e sigo em direção a porta.

-Espero que você volte para fechar a geladeira. Não quero ficar com mais frio do que já estou. - Olho para a garota que não tira seus olhos das páginas velhas. Dou meia volta e fecho a geladeira.

Meus olhos param em sua direção. Queria saber o porquê de ser tão sozinha e como ela conseguia se manter de pé após grandes acontecimentos em sua vida. Percebo que a estou encarando quando a mesma se vira para mim e fecha seu livro pesado de capa preta.

-Quer perguntar alguma coisa? - me olha com os olhos pesados como se não conseguisse dormir a dias. Sua expressão parecia impaciente, como se quisesse voltar a ler o mais rápido possível.

-Como... como consegue manter a calma depois de tudo o que aconteceu? Como todos vocês conseguem continuar levando a vida, assim? - deixo o prato de sanduíche a minha frente no balcão e me sento.

Ravena parece ainda mais fria que de costume. Não consigo ler nenhuma expressão agora. Sinto cheiro de medo em seu corpo. -Deixe para lá - suspiro- Se precisarem de mim, estarei em meu quarto.- Me levanto e pego o prato.

A porta se abre e estou prestes a passar por ela.

-Mutano. -Me viro, esperançoso por uma resposta. De cabeça baixa voltada para o balcão, continua a falar. - Limpe seu quarto. Ninguém é obrigado a conviver com um porco.

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Estou deitado, olhando para o teto escuro do meu quarto, quando percebo que escureceu lá fora. Não consigo dormir, não consigo comer, não consigo jogar, não consigo rir... não consigo fazer nada do que gosto. Estou encolhido ao lado de caixas de papelão em minha forma de gato. Desse ângulo, consigo ver a caixinha em formato de coração que fiz para Terra, antes de nos trair. Ao lado de minha beliche, ela reluz sobre luz da lua vinda da janela, parece ser a única coisa com algum brilho por aqui.

Me levanto e volto ao meu corpo humano, fraco e sem motivação. Ravena tinha razão, isso aqui parece um chiqueiro. Não sei por onde começar, pego primeiro uma camiseta branca que está por cima de uma pilha de tênis, sinto seu cheiro e a jogo em outra pilha, a de roupas para lavar. Já fazem alguns dias que parei de seguir Terra, de tentar conversar com ela. Eu deveria estar feliz por termos derrotado a Irmandade Negra, grupo o qual sempre tentei destruir. Eu devia estar feliz... mas não me sinto feliz sem ela.

We Are Coming - Uma História de Jovens TitãsOnde histórias criam vida. Descubra agora