O Corvo

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Estou a dias sem dormir direito, apenas tirando leves cochilos e sei que isso não é algo bom para meu humor, por isso prefiro trabalhar sozinha nesse encantamento.

-Azarath lithus memoriae - as palavras mais uma vez proferidas e sem nenhum efeito. Solto o ar com pesar e folheio mais uma vez o velho livro que já li centenas de vezes, imaginando que talvez apareça algo que eu não tenha visto e me ajude a entender o que está acontecendo.

O cheiro de páginas velhas e bastante gastas eram um conforto para mim naquele momento, meu quarto parecia ainda mais escuro e sombrio do que já estava acostumada. Meus olhos pesavam e ardiam, eu estava trocando a noite pelo dia sem perceber e estava começando a afetar minha saúde mental. Respostas, era isso o que eu precisava, o sono podia esperar. Ainda faltavam peças que não se encaixavam, livros ainda não lidos e feitiços não ditos...

Visitávamos Terra pelo menos uma vez por mês durante seis meses, levávamos flores, conversávamos como se ela ainda pudesse nos ouvir, por várias vezes fui sozinha até seu túmulo e desabafei sobre meu passado e meu futuro que eu pensava já estar traçado. Ela era nossa amiga e merecia ser lembrada: seu quarto continuava do mesmo jeito que deixara antes de se juntar a Slade, sua pilha de coleção de HQs continuava ao lado da pilha do Mutano, sua foto continuava na parede do saguão principal. Sempre pensávamos que talvez, por algum milagre, Terra voltasse correndo e nos abraçaria dizendo que éramos sua família, mas agora, só queremos distância dessa garota. Quem era ela? Por que se parecia tanto com Terra? E se for mesmo a Terra, por que não se lembra de nós? 

Estou exausta, sinto que minha cabeça pode explodir a qualquer momento. Paro de levitar e deixo os livros que antes estavam no ar, caírem. Estou perdendo o controle nesse momento e isso nunca pode acontecer. O centro da minha testa começa a latejar e coloco a mão sobre a pedra cor de rubi. Escuto uma voz abafada que corta meus ouvidos e faz com que eu arranhe a minha garganta seca tentando gritar internamente.

-Cale a boca! - rosno para a criatura que vêm me atormentando desde o dia de meu nascimento. Esse monstro tentou acabar com o planeta inteiro, me criou para ser um portal para esse mundo e quase matou os meus amigos. - Eu juro por tudo o que é mais sagrado que quebro essa pedra e queimo todos os pedaços para que você suma de uma vez.

-Ah, minha querida Ravena... Assim eu posso voltar para ver a minha filhinha.

"Não me chame deste jeito!", era tudo o que eu queria gritar naquele momento, mas Trigon sabia que somente eu poderia ouví-lo. Concentro-me em calar essa voz grossa e aterrorizante que está dentro de mim e começo a meditar. Automaticamente meu corpo se alinha, flutuante sob a cama, em uma posição de relaxamento e concentração da alma. 

-Azarath Metrion Zinthos - repito a frase incessantemente até que a voz some de minha mente e volto a ter o controle total da mesma. Meu corpo fica relaxado e vou descendo até chegar nas macias cobertas.

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De fato, o cansaço me dominou, quando dei por mim, era quase a hora do jantar e percebi que mais um dia foi perdido em vão. É como se eu sentisse a verdade se esvaindo entre meus dedos e eu não conseguisse pegá-la. Estava frustrada.

Sai da cama e coloquei minha capa por cima da roupa como de costume, me olhei no espelho e só conseguia ver a irritante pedra. Tirando minha concentração desta parte de meu rosto, pude notar olheiras ao redor de meus olhos, um rosto já sem vida que não encontrava forças para concluir seus objetivos. Meu cabelo estava bagunçado como eu nunca vira em toda a minha vida. Eu não sou de implorar por ajuda, mas sabia quem poderia me ajudar agora.

We Are Coming - Uma História de Jovens TitãsOnde histórias criam vida. Descubra agora