O Líder

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Com a notícia que Slade está de volta e vivo, não consigo pensar em outra coisa a dias. Mutano está muito fragilizado emocionalmente e pode prejudicar o rendimento da equipe. Ciborgue está em um relacionamento com a Abelha e não consegue focar em nada mais além disso. Ravena não conversa com ninguém e está isolada de todos nós. Estelar diz estar apaixonada por mim... Minha cabeça está a mil. Queria poder parar de pensar em todos esses problemas e encontrar logo uma solução que me faça ficar tranquilo.

Ando pelo meu quarto escuro de um lado para o outro, pensando. Como resolver isso tudo? Chego perto do meu saco de boxe pendurado próximo à minha janela e dou um soco. A poeira é visível e me faz querer espirrar. Prendo a respiração para que a vontade passe e olho para minhas mãos. Ontem foi o contato mais sincero entre mim e Estelar, eu pude compreendê-la e ouvir meus sentimentos sem ser os de raiva e angústia que sinto a anos. Dou mais um soco.

Minha responsabilidade principal como líder é manter a ordem da equipe, mas me parece estar ficando cada vez mais complicado. Desde que eu saí de Gotham, me sinto na obrigação de fazer com que todos se tornem uma família, mesmo que para isso eu tenha que ser rígido. Admito que posso não demonstrar meus reais valores e afeições por todos, mas é porque eu fui ensinado a ser desse jeito, e ontem a noite ao saber que Estelar achava que eu não era capaz de ter sentimentos foi a pior coisa que eu poderia ter ouvido.

Me sinto preocupado e responsável por todos, mesmo não sendo o mais velho entre nós, porém eles confiaram e ainda confiam em mim para a tarefa de líder. Preciso ter uma conversa séria com Mutano e Ciborgue, tentar me comunicar com Ravena, encontrar Slade e assim acabar com seus planos que me atormentam a um ano, e ter o encontro com a Estelar...

O céu está ficando de um laranja avermelhado, um tom que me trás muita calma. Olho por cima da cama e lá está meu uniforme, visto-me normalmente mas acrescento um perfume específico com arome adocicado que ganhei certa vez de Bárbara Gordon em uma brincadeira de amigo secreto. Sinto saudades de casa, mas creio que lá já não seja meu lar.

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Pesquisas e mais pesquisas, rastreadores, câmeras pela cidade, buscas incessantes e nada, nenhum sinal de Slade. Ele parece ter sumido da cidade, mas isso é impossível já que nós o vimos logo após Mutano ter falado pela última vez com Terra, ou seja lá quem for a garota que se parecia muito com nossa antiga colega. Porém sei que não posso me ocupar com isso agora, devo me focar com o meu encontro com Estelar e entender esses sentimentos estranhos que surgem sempre que chego perto dela.

Estelar é uma garota forte, com muitos sentimentos e com dificuldade de escondê-los, esse é o ponto fraco dela. Quero ajudá-la e automaticamente me ajudar com esse problema que pode acabar de vez com nossa equipe. Sentimentos sempre atrapalham a vida de pessoas comuns, mas quem os consegue ocultar, vive bem. "Nunca deixe que seus sentimentos o dominem", essas foram as palavras proferidas a mim durante anos por Bruce Wayne, quero fazer jus a elas agora, não posso vacilar.

Abro meu guarda-roupa e não existe nada que eu possa vestir para um encontro casual entre amigos, então decido vestir somente um uniforme limpo. Coloquei a roupa limpa sob a cama e tirei a que eu usava, deixo tudo organizado e vou para o banho. A água quente que saia do chuveiro aliviava meus músculos tensos que não relaxavam a semanas, talvez esse encontro esfrie minha cabeça e melhore meu raciocínio para que eu me concentre totalmente em Slade nos próximos dias. Decido me dar ao luxo de não pensar em nada. As torneiras da banheira se abrem com um toque e coloco um pouco de sabão perfumado. Abro a cortina e ligo o rádio que está por cima da pia de mármore e coloco "Somewhere I Belong" para tocar no CD gravado com "as melhores músicas que o Robin poderia ouvir" feito por Mutano e dado a mim no último Natal. Aumento um pouco mais o volume do que estou acostumado e me sento na banheira cheia. Recosto-me na mesma e retiro minha máscara, a paz que esse momento me trás é indescritível. Escuto um barulho e é alguém me chamando, talvez seja Ciborgue que tenha voltado do encontro e queira me contar como foi, ou talvez seja Mutano querendo algo emprestado, somente os rapazes entram aqui, não que eu permita, mas já me cansei de expulsá-los.

 Escuto um barulho e é alguém me chamando, talvez seja Ciborgue que tenha voltado do encontro e queira me contar como foi, ou talvez seja Mutano querendo algo emprestado, somente os rapazes entram aqui, não que eu permita, mas já me cansei de expu...

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Fecho os olhos e meus pensamentos se vão para longe dali, um Dick de 13 anos correndo de Alfred pela mansão Wayne para não ter que tomar banho e poder jogar video game por mais algumas horas. Tudo era tão fácil. Este Dick com 17 anos não é mais o mesmo garoto prodígio que lutava ao lado de Batman. Olho para minha cicatriz no pulso esquerdo e tento manter longe minha lembrança deste dia infeliz. Lembro quando mostrei-a a Bárbara Gordon e como ela me dera um sermão sobre como eu era privilegiado e sortudo por ter um "pai" como Bruce Wayne e que essa era a pior burrice que eu poderia ter conseguido fazer se Alfred não tivesse me encontrado numa banheira exatamente como essa e com uma lâmina afiada em mãos pronta para acabar com aquele vazio que meu coração não aguentava mais estar. Eu não tinha propósitos para continuar ali, não queria mais ser uma mera sombra do Batman. Alfred era meu verdadeiro pai. Ele me criou, me vestiu, me ajudava com as tarefas do colégio, Bruce só se preocupava comigo quando eu estava vestido de Robin. Meu mordomo foi mais do que um empregado... Talvez se ele tivesse contado a Bruce o que eu tentara fazer, eu não estaria entre os Titans, e sim no hospital psiquiátrico de Gotham.

Uma gota quente desce pela minha bochecha, vindo direto do meu olho direito. A música acabou e em alguns segundos a faixa do CD trocaria. Eu estava concentrado demais neste momento que demorei para perceber que mais alguém se encontrava ali.

-Robin, está tudo bem? - a porta do banheiro se abriu de repente e revelou uma Estelar preocupada e logo depois assustada com a situação. Fiquei paralisado. Ela estava linda com seu uniforme de sempre, seu cabelo estava posto de lado e não usava maquiagem. Estava como sempre a vi, porém naquele momento era a criatura mais linda que eu já havia visto.

-Star... o que você... - mas a garota não olhava para mim. Seu rosto estava vermelho como uma das pimentas de seu planeta e olhava para o outro lado. -DROGA! - eu estava nu na banheira. Minha primeira reação foi esconder partes que não deveriam ser mostradas a outros membros da equipe. Meu rosto queimava e só então percebi que estava sem a máscara. Coloquei meu braço na frente de meu rosto e com a mão livre, tateei o chão do banheiro para pegar a máscara.

-Eu volto depois, me... me desculpe pelo incômodo. - saiu e bateu a porta. Escutei a porta do quarto ser fechada tão rapidamente que imaginei que Estelar saiu voando o mais rápido que pôde.

Como vou conseguir olhar para ela novamente? MALDIÇÃO.



We Are Coming - Uma História de Jovens TitãsOnde histórias criam vida. Descubra agora