Capítulo 1

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5 de junho, 2005

Era mais um dia brilhante de verão, e Jéssica minha melhor amiga e eu, estávamos em meu quarto, escolhendo biquínis para descer até a praia.

- Corta essa Jessy, você não vai sair desse jeito comigo – digo, espantada pelo biquíni minúsculo que ela escolheu.

- E por que não? Os garotos ficariam de olhos grudados em você, mesmo se eu estivesse nua.

Fico sem resposta quando alguém me elogia. E isso acontece frequentemente. Meu pai, dono de olhos profundamente azuis, e minha mãe, dona de um cabelo ondulado e negro como a noite, fizeram questão de passar para mim, suas melhores características. Com o rosto corado, coloco um maio bem simples e me olho no espelho. Apesar de ser muito magra, gosto do meu corpo. Olho para Jessy, com seus seios enormes, saltando do biquíni, e penso que, mesmo se eu pudesse escolher, preferiria meu corpo.

- Emilly, você não precisa se vestir como uma freira só porque eu disse isso. Credo, como pode ser tão bonita, e ter um gosto tão ruim para roupas.

Dou risada e a puxo pelo braço.

- Vamos logo menina, antes que meus pais mudem de ideia e não me deixem mais ir.

No caminho, Jessy não parava de falar um minuto sequer de um garoto chamado Jack, que ela conheceu em um pub. Os pais dela eram bem liberais em relação a isso, e ela ia para todo o lugar que chamavam. Mesmo minhas saídas se limitarem a praia, igreja e escola, ela preferia as vezes, ficar na minha casa, só pelo fato da minha companhia. Jessy é uma amiga de ouro, como diz minha mãe. Chegamos a praia e como esperado estava lotada. Arranjamos um lugar para estender nossas toalhas, e deitamos esticadas absorvendo cada raio de sol, tão raros na terra do gelo. De repente, Jessy dá um grito, e sai correndo para o mar. Meu coração quase para, pois ela não é uma pessoa que costuma agir desse jeito estranho. Corro atrás dela, apavorada, mas paro abruptamente, me sentindo tola pela preocupação desnecessária, quando vejo que ela pulou nos braços de um garoto. Seu cabelo armado tampa o rosto dele, mas quando ela finalmente se afasta um pouco, o rosto que vejo, faz eu estremecer. Nunca me interessei por garotos. Eles vivem me mandando recadinhos na escola, me cantando na rua, e fazendo qualquer coisa para chamar minha atenção. Mas eu realmente nunca me encantei por nenhum deles. Minha mãe diz, que para beijar alguém, namorar alguém, você tem que gostar muito dessa pessoa, isso significa sentir um frio na barriga, toda vez que olha para ela. Eu dava risada quando ela me dizia essas coisas, mas agora sinto uma enorme vontade de chorar, pois estou sentindo. O frio na barriga do qual minha mãe tanto me alertava. Estou sentindo. Eu já estava dando meia volta, quando escuto Jessy me chamar. Me viro e vejo ela acenando para eu ir até lá. Considero por um minuto essa decisão, mas quando vejo, já estou andando em direção a minha amiga, e ao garoto que ela está segurando pelo braço. Minhas pernas idiotas tremem sem parar, enquanto ando o mais devagar possível até eles.

- Amiga – Jessy diz, assim que chego. – Esse é o Jack.

Olho para o rosto dele, e seus olhos estão fixos em mim, como se estivessem me analisando. Mas que diabos. Minhas pernas estão tão moles agora, que sinto que qualquer vento idiota irá me derrubar. Ele parece estar se divertindo secretamente com alguma coisa, pela sua expressão, e com toda a coragem que possuo, respiro fundo e o encaro também. Seus olhos... Que cor é essa? Violeta? Mas isso não é possível. Fico tão perdida na profundidade daquele olhar, que não percebo que ele está estendendo a mão para mim. Torço para que ele não tenha feito isso a muito tempo, e aperto sua mão com firmeza. Sinto toda minha autoconfiança se esvair enquanto minha mão extremamente suada, escorrega na dele. Ele sorri, enquanto eu sinto meu rosto corando, uma das desvantagens de ser muito clara.

- Prazer, Jack Lanster – ele diz.

- É, Emy – pigarreio. - Emilly, prazer.

Minha voz sai estranha, esganiçada.

E se...?Onde histórias criam vida. Descubra agora