Capítulo 14

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Eu não me permiti chorar. Por mais que as palavras de Jack tenham me ferido absurdamente, eu engoli o choro e constatei que essa foi a segunda pior besteira que eu fiz. Achar que depois de tanto tempo, seria só eu dizer algumas poucas palavras, e todo o sentimento que ele tinha por mim iria ressurgir. Eu sei que o perdi. A primeira pior besteira que fiz, foi abandona-lo. A terceira foi me envolver com Eric. Sinto que se eu enumerasse uma folha com todas as besteiras que já fiz, ainda faltaria espaço. Após nossa despedida, que se resumiu numa troca de olhares vazias, mas cheia de coisas a dizer, entrei em casa e despenquei no colo da minha mãe. Me senti uma garotinha novamente, como se o carinho dela, fosse melhor que qualquer remédio. Criei coragem e pedi, para ela me contar tudo que aconteceu nesse tempo em que tentei fugir das coisas que aos poucos foram me engolindo, fazendo eu chegar nessa situação, onde tenho apenas duas opções, e não sei qual delas é mais terrível. Ficar ou ir embora. Ela então me contou que Jack ia em casa toda a semana, contou como depois de meses, que todos achavam que ele havia se recuperado do nosso rompimento, ele desabou no ombro do meu pai, e chorou como um garotinho. Conforme ela ia narrando esses acontecimentos, que mesmo sem eu estar presente, giravam em torno de mim, fui me sentindo enojada. Nojo, da pessoa que me tornei, capaz de proporcionar tanto sofrimento pra uma pessoa que amei tanto. Amo tanto. Ela contou como Jéssica não deixava o pobre em paz, contou sobre a única relação que ele teve, com uma garota chamada Melissa, e nessa hora eu fiz uma careta, pois minhas suspeitas estavam certas. Eu só não esperava que o telefone tocasse de repente, e que seria Jack me chamando para almoçar. Dormir se tornou uma coisa extremamente difícil de se fazer, pois todo o álcool que ingeri ainda estava fazendo minha cabeça girar. Meu enjoo diminuiu bastante depois de ter comido o sanduíche que minha mãe fez antes de eu ir me deitar. Mas o que tira meu sono é pensar nesse almoço. Pensar no que dizer, e no que ele quer com isso. Já tirei da minha mente qualquer ilusão sobre uma reaproximação. Mas, por que ele quer me ver? Nunca senti tanto medo. É como se minha vida dependesse do que irá acontecer, e de certa forma isso é real, pois eu tenho uma decisão a tomar. A proposta de Paris, está piscando sem parar em um canto obscuro em minha mente. Mas só depois desse encontro eu tomarei a decisão irreversível e derradeira.

Acordo com uma terrível dor de cabeça, prometendo a mim mesma que nunca mais irei beber. Não tanto. Pego meu celular e para meu espanto e satisfação, há cinco chamadas perdidas de Eric. Retornar é uma hipótese que nem passa por minha cabeça. Tomo um longo banho, querendo que a agua leve embora todo o cansaço que sinto, e vou me arrumar. Eu não sei onde Jack irá me levar, mas quero estar bonita, para ele. Coloco uma camisa de seda lilás com manga comprida, e uma saia preta de couro. Faço um make básico que consiste em rímel e batom vermelho, e para finalizar calço uma sapatilha com pequenos cristais swarovski.
Meus pais não estão em casa, pois eles insistem em trabalhar , mesmo não precisando. Mas não tiro a razão deles. Trabalhar é tudo para mim. Ou pelo menos foi na maior parte do tempo. Só que o trabalho não foi capaz de me preencher, por mais que eu ame o que faço. Converso com Rachel pelo Skype para saber como estão as coisas no ateliê, e ela me informa que ligaram de novo de Paris e estão aguardando minha resposta. Isso me deixa angustiada. Desligo, prometendo dar uma resposta até o fim da tarde. Não sei para que esperar sabendo que esse almoço não tem perspectiva alguma. Jack chega meia hora atrasado. Isso nunca foi do seu feitio, deve ser apenas uma das muitas mudanças sofridas desde que nos separamos. Entro no carro e não indago o porquê desse atraso. Ele apenas me olha e sorri. No rádio do carro está tocando Runaways da banda The Killers, e ele aumenta o volume impossibilitando uma conversa. Depois do que eu considero uma eternidade, mesmo que a música ainda nem tenha acabado, sinto que preciso conversar.

- Pra onde estamos indo? – grito, com a música abafando minha voz.

Ele me olha, e abaixa um pouco o volume.

E se...?Onde histórias criam vida. Descubra agora