Capítulo 16

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JACK

Como criar coragem para abandonar alguém que a gente ama? Abandonar não é bem a palavra... Na verdade eu a deixei partir. Isso não é algo que eu possa me orgulhar futuramente por ter feito, é algo que só irá me fazer sofrer, só irá me torturar dia e noite, pois eu nunca vou saber o que poderia ter acontecido se eu tivesse a aceitado. Mas eu sobrevivi da primeira vez, e vou sobreviver novamente. Talvez até consiga ser feliz algum dia. Quando ver Emy estampada em todas as revistas, passando em todos os canais, sei que isso me trará felicidade. Mesmo que não seja a mesma felicidade que eu sentiria ao acordar ao seu lado todos os dias. Existem várias formas de felicidade, aprendi isso. Algumas são mais intensas, outras menos. Algumas te acometem mesmo quando você está despedaçado, mesmo quando uma parte de você está faltando, está em Londres, está em Paris... A felicidade plena é a mais difícil de alcançar, mas eu sou grato por ter tido a oportunidade de senti-la por um tempo. Mesmo que eu aos poucos vá me esquecendo como é essa sensação, eu sei que a tive, e existem pessoas que nunca irão sentir isso. Cancelo o show no pub, e decido ficar em casa essa noite. Arnold me ligou, e disse que Emy iria partir hoje para Paris. Eu não esperava que ela fosse embora tão rápido. Pelo menos eu tive a chance de me despedir. Durante o dia, rodei sem rumo pelas ruas de Brighton, passando em diversos lugares que eu costumava ser feliz com ela. Enquanto revivia cada pequena lembrança, desejava intimamente que ela não desistisse de mim. Eu sei que eu poderia dizer “não” mais uma vez. Só que o fato dela persistir iria tornar esse adeus mais fácil de digerir. Pensei em ir no restaurante de Adam, mas as lembranças de nosso almoço fatídico estavam frescas demais, então resolvi apenas parar numa lanchonete qualquer e comer um lanche mal feito, para não passar o dia com a barriga vazia, afinal fome é uma coisa que não se sente quando o coração está vazio, mas cheio de dor. Sentado na varanda, de frente para meu jardim, e penso em ir até meu refúgio. Eu ainda vou lá as vezes. Costumava ir mais, só que ficar se torturando é algo muito cruel para fazer consigo mesmo, tentando esquecer uma pessoa indo no lugar cheio de lembranças dela. Fumo um cigarro atrás do outro, e penso em como levar minha vida adiante. Emilly fez isso muito bem. Eu também devia fazer isso. Talvez chamar Melissa para sair. Viajar para outros lugares. Não sei, tenho o resto da vida para decidir o que eu vou fazer para me reerguer dessa rasteira que levei. Escuto meu celular tocar. Deve estar na cozinha, mas não me dou ao trabalho de ir ver. Hoje eu quero apenas curtir a minha dor. Mas eu juro, que será a última vez que me permito sofrer por Emilly. Não é uma promessa qualquer como as que faço, de que irei parar de fumar. Essa é pra valer. Eu preciso voltar a viver. Uma inquietação não me deixa em paz. Por mais que eu saiba que não pode ser nada de urgente, eu fico curioso para saber que mensagem chegou em meu celular. Pode ser Jéssica. Melissa. Ou aquela garota que não sei o nome, mas que quase toda noite está no pub. Apesar de ser muito nova, eu acho, ela parece ser legal. Suspiro, e decido acabar com minha curiosidade. Ando a passos lentos até a cozinha, e localizo meu celular em cima do fogão. Quem coloca um celular no fogão? Olho ansioso o número, e não reconheço. Isso me deixa ainda mais agitado. Uma parte de mim, quer que seja Emilly, nem que seja me amaldiçoando por tê-la deixado partir. Outra parte quer que seja qualquer pessoa no mundo menos ela. Isso só tornaria as coisas mais difíceis do que estão. Quando aperto o botão para abrir a mensagem, tenho que me sentar na cadeira mais próxima e reler várias vezes para ver se entendi direito. Mas não tem segredo algum. Ela ainda não desistiu de mim. Pensar que nesse exato momento ela pode estar me esperando, me enche de alegria, e medo. Não posso ir até lá. Não posso rejeitar Emilly mais uma vez. Eu não serei capaz de fazer isso. Ligo para o numero remetente e vai direto para a caixa postal. Ligo 1, 2, 3 vezes e nada. Se ela desligou o celular de propósito, com o intuito de que eu vá até ela, está dando muito certo, porque é quase impossível que eu consiga ficar aqui parado sabendo que ela espera por mim. Uma briga enorme começa dentro de mim. Minha razão me alerta para o fato de que é melhor eu deixar ela agora do que ser abandonado mais uma vez. Mas meu coração... Esse não sabe o que faz. Ele bate tão rápido, ansiando por esse encontro, que eu fico quase sem fôlego. Inconscientemente calço um tênis, visto um casaco, e quando me dou conta, já estou na estrada, acelerando o carro ao máximo, como se a demora fosse algo importantíssimo para decidir que rumo minha vida irá tomar. Não importa o que eu ordene ao meu corpo, meu pé não desgruda do acelerador. Sinto uma urgência crescendo dentro de mim, e conforme vou me aproximando do meu destino, esse sentimento chega a ser quase insuportável. O tempo parece uma eternidade, cada minuto parece uma hora. Acelero ainda mais. Preciso chegar logo até ela, nem que seja para dizer mais um irremediável adeus. Tento ligar mais vezes para o número da mensagem, mas ainda dá caixa postal. Isso é extremamente estranho. Não acredito nessas coisas, mas, se realmente existe algo como um mau pressentimento, é o que estou sentindo agora. Pego a estrada de terra que me separa a poucos minutos de onde Emy deve estar, e piso abruptamente no freio, quando me deparo com uma cena que faz meu corpo inteiro se arrepiar.

E se...?Onde histórias criam vida. Descubra agora