Capítulo 12

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O show em si foi ótimo. Tirando o fato de que eu não conseguia parar de tremer, e consequentemente, não consegui parar de beber. Não costumo ficar bêbada facilmente, mas junte o fato de não ter se alimentado o dia inteiro, e reencontrar depois de anos, o ex-namorado que ainda faz suas pernas tremerem, o resultado não poderia ser diferente. Quando o show acabou, e as luzes do palco se apagaram, eu deveria sair correndo e aproveitar o pouco de lucidez para conseguir chegar em casa. Mas Jack não sai da minha mente. Seu olhar tirou todas as minhas forças, e eu fiquei grudada como um imã no banco do bar. Ele cantou todas as músicas olhando para mim. Foi algo tão intenso, tão íntimo. Havia momentos em que eu queria chorar, outros eu queria subir naquele palco e fazer qualquer coisa para apenas toca-lo, mas eu fiquei apenas retribuindo seu olhar, com o rosto corado, tremendo, e derramando um punhado de bebida em meu vestido. Droga. Uns vinte minutos depois do show, eu ainda estou aqui, sentada bebericando meu sexto... Ah, já não sei quantos Martinis tomei. O Barman está me olhando estranho, acho que se eu pedir mais um drink, ele não irá me servir. Atrás de mim, se reuniu um grupo de rapazes, e pelo jeito como se movem estão falando sobre mulheres. Sobre mim. Pego meu celular, e retiro do papel de parede minha foto com Eric. Não sei porque isso agora, mas é como se eu tivesse excluindo ele mais uma vez da minha vida, já que ele sequer me ligou. Sinto que tivesse jogado esses anos da minha vida fora. Estremeço ao pensar como ficarão os negócios entre nós, uma vez que não somos mais namorados.

- Emilly Foster, é uma honra te receber em meu humilde estabelecimento.

Olho para o lado, trêmula, e derrubo metade do meu Martini que provavelmente será o último da noite, quando dou de cara com Jack. Sua barba está por fazer, seus cabelos, antes longos, estão bem curtos, um pouco despenteados, e seus olhos... Espera, ele disse “meu estabelecimento?”. Olho ao redor, atenta a cada detalhe, e me sinto orgulhosa por ele ter um pub tão bonito, e tão cheio. Mas, institivamente olho para Melissa, a bela moça do caixa com a pele bronzeada e sorriso encantador. Jack acompanha o meu olhar, e sorri. Sinto que devo falar alguma coisa, para tentar ao menos disfarçar minha demonstração ridícula de ciúmes. Isso não tem cabimento, pois eu expulsei Jack da minha vida, como posso me sentir enciumada depois de tanto tempo? E daí se ele saísse com ela? Se eles estivessem namorando? 

- Que nome diferente. Desolation?  - pergunto, e minha voz sai esganiçada e rouca. Meu estômago ronca, enquanto sinto como se houvesse uma espécie de neblina em meu cérebro. Me sinto lenta. Me sinto totalmente embriagada.

- É o que acontece com algumas pessoas, quando sofrem. Ficam desoladas. Há lugar melhor para se distrair que num bar? – ele diz sorrindo, mas há algo sombrio em seu olhar. Eu sei que ele está se referindo a mim. Isso me deixa enjoada. Talvez seja a bebida também, eu não sei.

- Hum. Belo show. Belo pub. Como vai a vida? – pergunto, me sentindo tola.

Ele me olha com reprovação e suspira.

- Emilly, dá para parar de agir como se fossemos apenas grandes amigos que estavam sem se ver a anos? O que você faz aqui?

Percebo que ele está irritado. Talvez até com raiva. E eu estou cada vez mais enjoada. Meus batimentos cardíacos estão me ensurdecendo. O cheiro do perfume de Jack preenche todo o ar, de repente, tudo começa a escurecer, Jack está falando comigo, gesticulando, e eu sinto meu corpo ficar mole. O resto de Martini cai sobre o meu vestido, escuto o copo batendo no chão e se quebrando. Antes que meus olhos se fechem, eu consigo focar em Jack, e uma constatação me atinge em cheio. Eu ainda o amo. 

Sinto que estou flutuando. É uma sensação tão boa. Mas eu tenho que ir. Algo está me puxando para baixo, eu começo a me afogar, a gritar, é quando tudo fica claro e eu escuto uma voz bem familiar me chamar.

- Emilly, você está bem? Emilly?

Abro meus olhos, e vejo Jack, aparentemente preocupado, sentado ao meu lado. Estou com a cabeça em seu ombro, o que me dá vontade de chorar. Sinto um cheiro estranho, e quando olho para o chão, vejo algo que me deixa envergonhada, pois deve ter provido de mim. Há vomito para todo o lado, e quando passo a mão em meu cabelo, vejo que nem ele escapou.

- Me desculpe – sussurro.

- Pelo que, por ter vomitado em todo o depósito, ou por ter me feito sofrer a maior parte dos últimos anos?

É engraçado ele dizer essas coisas sorrindo. Mesmo que seja um sorriso triste, algo que eu nunca imaginava ver numa pessoa como Jack. Eu gostaria de dizer tantas coisas, mas me sinto fraca, tudo o que quero, é que ele continue com os braços ao meu redor.

- Pelos dois – respondo, e acho que isso basta. Um silencio constrangedor se espalha no lugar, e eu percebo que deve ser bem tarde, visto que não há barulho algum adiante.

- Se isso te servir de consolo – começo, sem jeito. – Eu também não tive anos maravilhosos.

Jack se levanta abruptamente quase me fazendo cair. Ele me encara, parecendo furioso, mas quando fala, sua voz soa bem calma.

- Não foi isso o que as revistas e a internet mostraram. E seu namorado Eric, não veio com você?

A ideia de Jack procurando notícias sobre mim na internet, ou comprando revistas que contenham meu nome, me deixa agitada.  Por mais que eu imaginasse que ele soubesse do meu namoro, ouvir ele pronunciar o nome de Eric me parece muito errado.

- Ele não – pigarreio – Ele não veio, aliás, eu não estou mais com ele.

Se não fosse por um leve arquear de sobrancelhas, eu diria que essa notícia não causou efeito algum em Jack. Meu estomago ronca alto, e eu desejo ardentemente ir para casa, arrependida dessa decisão estúpida de ter vindo até esse lugar. Me levanto, mas perco o equilíbrio, o que me faz cair na cadeira novamente.

- Acho que você precisa de uma carona para casa – ele diz, e suspira. Enquanto ele me ajuda a levantar, a sensação do seu corpo contra o meu, faz eu pensar como teria sido minha vida com ele. E se eu não tivesse ido para Londres? E se eu não tivesse conhecido Eric? E se eu não tivesse abandonado Jack? Ainda estaríamos juntos? Eu seria feliz? E se ...?   

- Por que você está chorando? – Jack pergunta. Chegamos onde está estacionado meu carro. Passo a mão em meu rosto, e as pontas dos meus dedos ficam molhadas. Estou mesmo chorando. Eu não respondo nada. Não quero falar. Jack propõe que eu vá na frente com meu carro, e ele me segue com o dele, para se certificar de que eu não vou provocar algum acidente. Como se houvesse alguém na rua além de nós. Eu apenas faço que sim com a cabeça, e me encaminho lentamente para o meu carro. Jack caminha em direção a um Jeep que eu imagino ser seu. Só que não é como aquele que ele tinha antigamente, pois não é velho e acabado. É o contrário. Sinto que preciso responder a pergunta de Jack. Mesmo que não faça sentido algum, pois eu tenho uma vida maravilhosa, eu sei porque estou chorando. E preciso dizer isso a ele.

- Jack! – grito. Ele se vira, e me olha como se já esperasse por isso.

- Não sei se isso faz alguma diferença – digo, e as lágrimas brotam sem parar, embaçando minha visão. – Mas, se eu pudesse voltar atrás, eu faria tudo diferente. Eu teria ficado com você.

Jack abaixa a cabeça. Estamos a poucos metros de distância. Eu poderia correr para os braços dele, como quando ele fez aquela serenata na porta da minha casa. Mas a resposta dele, destrói qualquer resquício de felicidade que nosso reencontro tenha gerado. Com um brilho impassível em seus olhos, ele me fita e diz:

- Não Emy. Isso não faz diferença alguma. Não mais.

E se...?Onde histórias criam vida. Descubra agora