Não desci para jantar, e quando escutei minha mãe subindo as escadas fingi imediatamente que estava dormindo. Não que ela acreditasse nessas coisas que eu faço, mas, era uma dica, para que ela entendesse que eu não queria papo.
- Emy querida – ela diz, sentando em minha cama – eu não sei o que aconteceu, mas sei que você não está bem. Sei também que tudo isso gira em torno do Jack. Eu e seu pai estávamos conversando, e decidimos que apesar de você ser muito nova, se você quiser, ter Jack como... como seu namorado, apoiamos sua decisão.
Ela havia se levantado, e escutei ela abrir a porta.
- O jeito, como vocês se olham, lembra de como aconteceu comigo e seu pai. Como aconteceu, o amor. Pense nisso, minha filha, queremos o melhor para você, mas essas coisas não costumam acontecer duas vezes. Amo você. E agradeça a ele pelas flores. Eu as encontrei na soleira de nossa porta, são lindas.
Esperei ouvir os passos dela descendo a escada, antes de responder, baixinho.
- Obrigada mãe. Também amo você.
Os dias seguintes, se passaram sem notícias de Jack. Embora fosse esse meu objetivo, toda vez que alguém batia na porta de casa, eu ia correndo atender. Teve um dia que até cai da escada, o que me rendeu um dedo quebrado, e duas horas de conversa com testemunhas de Jeová, que eram, na ocasião, as pessoas do outro lado da porta. Toda vez que meu celular tocava, eu começava a suar, achando que fosse o Jack, sendo que na maioria das vezes, senão todas, era apenas Jessy, querendo falar sobre Jack. Uma coisa que me confortou, foi que ela me disse que ele havia sumido, e não tinha retornado as mensagens dela. Nessas horas, quando um sorriso secreto se formava dentro de mim, eu me sentia uma amiga horrível. Mas, é tão difícil lutar contra o que vem de dentro. Houve um dia, mais apropriadamente quinta feira, quase três dias sem qualquer vestígio de Jack, que eu resolvi ligar para ele. Ele disse que não ia desistir de mim, então, porque desistiu tão rápido? Eu achava que ele iria ficar me ligando, indo em minha casa, mas ele simplesmente sumiu. Isso fez eu me sentir abandonada. Como se ele tivesse me rejeitado, não o contrário. Disquei, e esperei. O telefone chamou, mas ele não atendeu. Comecei a inventar mil desculpas, para o fato de ele não ter atendido, crente de que ele iria retornar a ligação, assim que a visse. Mas, um dia se passou, e nada. Na escola, Jessy estava extremamente alegre, pois a banda de Jack, iria tocar a noite em um dos pubs da cidade. Tentei sorrir, demonstrar a minha felicidade, mas tudo o que eu queria, era afundar em minha cama, e esquecer tudo que tivesse a ver com Jack. Ele iria ceder aos encantos de Jessy, iriam beber (coisa que eu nunca fiz), iriam ficar felizes, juntos, curtindo a noite por aí. Que perfeito. Para ajudar, meus pais que quase nunca saiam, resolveram ir jantar fora, e me deixaram em casa, sozinha, para curtir a grande sexta feira em que minha amiga iria conseguir fisgar o garoto por quem eu estava apaixonada. Chega de esconder de mim mesma. Eu estou apaixonada por Jack.
Acordo, com o som de um violão. Olho no relógio, e são nove e meia. Meus pais ainda não chegaram, pois das raras vezes em que saem, chegam no mínimo de madrugada. Sem vontade de sair da cama, continuo deitada, ouvindo aquele som, aquela melodia que parece estar perto, mas ao mesmo tempo longe. Se é que isso é possível. Decidida a voltar a dormir, fico extremamente chocada, quando escuto alguém começar a cantar.
I've been here before a few times
(Eu já estive aqui antes, algumas vezes)
And I'm quite aware we're dying
(E eu estou ciente de que nós estamos morrendo)Não é possível. Essa voz é a de Jack, e está vindo do lado de fora da minha casa, assim como a melodia do violão.
And your hands they shake with goodbyes
(E suas mãos, elas acenam com despedidas)
And I'll take you back if you'd have me
(E eu traria você de volta, se você me recebesse)Coloco o travesseiro em cima de minha cabeça, tentando abafar o som. Tentando não ouvir. Tentando não chorar. Tentando esconder meu sorriso, de ninguém.
So here I am I'm trying
(Então aqui estou eu, estou tentando)
So here I am
(Então aqui estou eu)
Are you ready?
(Você está pronta?)Não me contenho, e vou até a janela. Ele está lá em baixo, e olha para cima, cantando, seu sorriso se abre quando me vê. Fecho as cortinas, arrependida, pois eu poderia simplesmente fingir não estar em casa.
Come on let me hold you
(Vamos, me deixe abraçar você)
Touch you
(Tocar você)
Feel you
(Sentir você)
Always
(Sempre)Como ele pode ser tão ousado, a ponto de vir a porta de minha casa e fazer essa espécie de serenata? Sem perceber, já estou descendo a escada, parando ao lado da porta. Meus olhos estão marejados, e um sorriso não quer se desfazer dos meus lábios.
Kiss you
(Beijar você)
Taste you
(Provar você)
All night
(A noite inteira)
Always
(Sempre)Estou com a mão na maçaneta, decidindo se farei a maior loucura de minha vida. As coisas que Jack está dizendo nessa música, fazem todo o sentido para mim. De repente, percebo, que tudo o que eu quero fazer, é abraça-lo, não consigo rejeitar esse garoto mais uma vez. De qualquer jeito, nunca consegui fazer isso de verdade.
And I'll miss your laugh your smile
(E eu sentirei falta da sua risada, do seu sorriso)
I'll admit I'm wrong if you'd tell me
(Eu admitirei que estou errado, se você me disser)
I'm so sick of fights I hate them
(Eu estou tão cansado de brigas, eu odeio elas)
Let's start this again for real
(Vamos começar isso de novo, de verdade)Abro a porta, e ando lentamente até Jack, que canta com tanta intensidade, olhando ainda descrente para mim.
So here I am I'm trying
(Então aqui estou eu, estou tentando)
So here I am are you ready
(Então aqui estou eu, você está pronta?)
Come on let me hold you
(Vamos, me deixe abraçar você)
Touch you
(Tocar você)
Feel you
(Sentir você)
Always
(Sempre)
Kiss you
(Beijar você)
Taste you
(Provar você)
All night
(A noite inteira)
Always
(Sempre)Poucos metros no separam, e como se eu não pudesse mais aguentar, corro em direção a Jack, que jogou seu violão para o lado, e abre os braços, me esperando. O choque de nossos corpos, me deixa até tonta. Sinto cada musculo seu, num abraço apertado, que eu nunca vou entender, como pude viver tanto tempo sem. Nos encaramos, e ele avança sobre mim, me beijando como se tivesse esperado por isso, durante muito tempo. Eu retribuo, e cada segundo a mais desse beijo, parece acender algum ponto de meu corpo, que até hoje, pareciam desconhecidos.
- Você não presta Jack Lanster – digo, recuperando o folego – fez uma música para mim, só com o intuito de me tocar.
Ele sorri.
- Quantas vezes terei que dizer para você não se sentir tão importante? Essa música já existe, você que não conhece.
- Não conheço muitas coisas – respondo envergonhada, ainda presa em seus braços.
- Posso te mostrar muito mais. É só você dizer, que aceita namorar comigo – seus olhos estão brilhando. Ele segura uma caixinha, que deve conter uma aliança dentro. Esqueço tudo ao redor, e sinto que existe apenas eu e Jack, no mundo.
- Sim. Sempre foi sim Jack – digo, não contendo minha felicidade.
Ele me entrega a caixinha, e quando abro, para minha surpresa, o que encontro lá dentro é uma bala. Fico um pouco brava, mas olho para ele, sorrindo, esperando uma explicação.
- Ah – ele diz, dando de ombros – nunca se sabe, se a pessoa vai acordar com mal hálito, ou algo do tipo.
Dou um tapa de leve em suas costas, e percebo, que eu gosto muito mais do que imagino, desse garoto. Ele é único. E a partir de agora, ele é meu.
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E se...?
Non-FictionQuem nunca pensou sobre o que poderia ter acontecido se tivesse feito escolhas diferentes na vida? Emilly Foster é uma designer bem sucedida, e seu namorado Eric é a personificação da perfeição. Porém, ela se sente incompleta, sente que algo falta e...