Capítulo 19

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Quando abro meus olhos, demoro um pouco para localizar onde estou. As luzes, o cheiro forte de antisséptico... Agora me lembro. Do acidente, de tudo. Estou no hospital. Nunca imaginei que o simples fato de abrir os olhos, pudesse me trazer tanta alegria. É como se eu tivesse acabado de sair de um horrível pesadelo. É como se eu tivesse sido resgatada de um lugar muito ruim. Tento levantar a cabeça, mas esse simples esforço me deixa tonta. Quando desisto e me dou por vencida, me deparo com Jack, dormindo profundamente numa cadeira no canto do quarto. Meus olhos se enchem de lágrimas. Minha vontade é levantar dessa cama, e pular em seus braços. Me pergunto há quanto tempo estou aqui, pois ele está bem magro e com olheiras enormes em seu rosto.

- Jack! – tento gritar, mas tudo que sai é um sussurro.

Fico com receio de acordá-lo, mas eu preciso fazer isso. Eu preciso.

- Jack! – tento mais uma vez. Dessa vez o som da minha voz sai mais alto, o que faz com que Jack abra os olhos lentamente. Por um instante, ele me olha como se eu fosse um fantasma. Mas aos poucos começa a surgir um sorriso em seu rosto, que vai aumentando, enquanto seus olhos ainda vermelhos, começam a ficar marejados. Ele dá um pulo da cadeira, e me abraça, sem se importar com todos os tubos ligados a mim, e o colar cervical que só agora percebi estar em volta do meu pescoço. Ficamos os dois, assim, absortos nesse abraço, chorando, e sorrindo quase debilmente.

- Você conseguiu Emy – ele diz, acariciando meu rosto – Eu não acredito, quer dizer, eu sabia que você iria conseguir, mas, você sabe...

- Jack – eu o interrompo. Engulo em seco, sentindo meu rosto molhado. A dificuldade de falar é enorme. – Quanto tempo eu fiquei... desacordada?

Ele fica com o olhar perdido. Enxuga as próprias lagrimas, para depois enxugar as minhas.

- Tempo suficiente para que todos tivessem perdido as esperanças – ele responde por fim.

Silêncio. Penso em meus pais. Se Jack está abatido assim, como eles devem estar?

- Seus pais acabaram de ir para casa. Eu vou ligar para eles – ele diz, como se lesse meus pensamentos, enquanto irrompe em mais lágrimas. Está prestes a se levantar, quando agarro sua mão, com toda força que consigo reunir.

- Espere – suplico. – Por favor, fique aqui comigo. Estou com tanto medo.

- Medo de que Emy? Você conseguiu! Você acordou...

- Tenho medo de ficar sozinha e.... adormecer. E não conseguir mais acordar. Fica comigo Jack, por favor?

Ele se deita ao meu lado na cama, e me envolve em seus braços. Me encolho como uma garotinha, e tento controlar minhas lágrimas.

- Eu fiquei com medo também – Jack começa. – Eu quase morri de medo Emy. Eu começava a pensar... como ia sentir falta do seu sorriso, de como você revira os olhos quando é contrariada...

Começo a chorar compulsivamente. Jack continua.

- Eu ia sentir tanta falta do seu cheiro. Não do seu perfume, mas o seu cheiro mesmo, sabe? Da sua pele. Por mais que você tenha ficado longe de mim, essas pequenas coisas, ainda estavam presentes. Mas... – ele hesita, sem conseguir falar. – Mas, se você... Se você morresse, tudo isso iria embora com você, não ia me restar nada.

- Mas agora eu estou aqui... – sussurro.

- Eu não quero mais ficar longe de você Emilly Foster... Nunca mais.

- Então não fique – digo, sorrindo por entre as lágrimas.

- Você me dá um minuto? Eu preciso muito fazer uma coisa – Jack dispara.

- Promete que vai voltar rápido? – pergunto, já apavorada pela ideia de ficar sozinha.

Ele assente, e sai em disparada pela porta. Como prometido, ele volta tão rápido quanto saiu, ainda ofegante.

- O que você foi fazer? – pergunto, curiosa.

- Fui chamar um médico para te examinar. E agradecer – ele responde.

- Ao médico?

- Não. Fui até a capela, agradecer a Deus.

Ergo as sobrancelhas.

- Desde quando você acredita em Deus, Jack?

- Desde quando você estava morrendo em meus braços... E.... Não havia mais esperanças. Eu pedi, implorei para ele te salvar... Bom, você está aqui agora. É um milagre. – ele continua, sua voz totalmente embargada.

- Deus me ajudou. Mas foi você quem me salvou – digo apertando sua mão.

- O que você quer dizer com isso? – ele pergunta, surpreso.

- Eu ouvi Jack. Como um eco em minha mente, mas ouvi. Você pediu para que eu ficasse com você. Eu fiquei.

As lágrimas correm livres por meu rosto, enquanto Jack, sorrindo, se abaixa lentamente, e me beija. Ainda tenho muitas incertezas. Eu posso ficar com algum tipo de sequela irreversível. Posso acabar perdendo tudo o que construí até hoje. Podem acontecer tantas coisas...  Mas se existe uma coisa da qual eu tenho total certeza, é que eu amo Jack.

- Obrigada por salvar minha vida.

- Não se sinta tão importante – ele diz sorrindo, as lágrimas correndo por seu rosto tão abatido.  – eu não estava apenas tentando salvar a sua vida. Eu estava tentando salvar a minha própria vida.

Sorrio.

- O que você quer dizer com isso?

- Você é minha vida – ele responde, me abraçando forte.

Um homem vestido de branco, que imagino ser o médico, entra no quarto, e parece muito impressionado.

- Agora, se você não se importa, preciso examinar a nossa guerreira – o homem diz, gentilmente.

Jack assente. Enxuga suas lágrimas e sorri para mim.

- Assim que o doutor terminar aqui, eu volto – ele diz, se virando para sair.

- Jack! – chamo, antes que ele saia. Apesar de minha voz ter saído rouca e baixinha, ele se vira, e me olha nos olhos.

- Eu te amo – digo, por fim.

- Eu também te amo, muito.

E se...?Onde histórias criam vida. Descubra agora