O quão diferente pode estar sua vida em apenas três anos? A resposta é muito, muito diferente. Deitada nessa cama, com uma camada de suor pelo meu corpo, a visão levemente embaçada, uma dor quase insuportável pelo corpo, e desesperada de preocupação, tento pensar em tudo o que aconteceu desde que me casei com Jack, não só para me distrair, mas para aquietar essa sensação horrível dentro de mim. Logo que voltamos de nossa lua de mel na Itália, que não poderia ter sido mais romântica, decidimos recomeçar. Tornamos real uma ideia absurda que se instalou em nossa mente, e atravessamos o oceano, nos mudando para o Canadá. Jenn tomava conta dos negócios em Londres, enquanto Adam se tornou um administrador exemplar gerenciando o pub e a gravadora de Jack. Devo admitir que no começo foi difícil para nós dois. Pudera, não conhecíamos ninguém. Mas, graças a fama que conquistei em Londres, consegui abrir um ateliê, e fechar alguns contratos com grifes importantes em Québec. Em questão de meses, eu havia ganho muito mais dinheiro e fama do que nos anos em que fiquei ao lado de Eric. Porém, como as coisas não costumam ser só flores, Jack não teve a mesma sorte que eu. Enquanto eu trabalhava, ele passava dia após dia ora cuidando do jardim de nossa nova e confortável casa, ora consertando algum móvel... Eu sabia que ele só iria ficar totalmente feliz, quando conseguisse assumir uma ocupação que trouxesse dinheiro, e prazer para ele. Por meses tentamos comprar um pub para ele assumir, ou ao menos conseguir que ele tocasse em algum lugar, mas sem sucesso algum. Ele só ficava feliz a noite, quando eu chegava do ateliê ou de alguma reunião, e o enchia de beijos enquanto elogiava a belíssima refeição que ele havia preparado. Ficávamos até tarde assistindo a filmes, namorando, e nessas horas ele parecia se esquecer de que eu estava praticamente mantendo a casa sozinha. Eu não me importava, mas eu sabia que ele não estava feliz com isso. Só não enlouqueceu porque Adam depositava periodicamente em sua conta uma porcentagem da renda de seus negócios. Quando ele sacava o dinheiro, parecia uma criança, comprando coisas para a casa, joias e sapatos caros para mim. Quando eu estava cogitando voltar para Brighton, pois Jack demonstrava sentir cada vez mais falta de sua autonomia, uma luz se acendeu. Foi no dia em que fomos a um coquetel, onde seria lançada minha oitava coleção. Ambos estávamos deslumbrantes, e Jack não parava de me elogiar, ou de me olhar com aqueles olhos violetas, demonstrando uma malícia que já denunciava o que iria acontecer quando chegássemos em casa. Enquanto eu tentava dar atenção a todas as pessoas presentes, Jack estava em um canto, conversando sem parar com um senhor. Ao final da noite, quando já estávamos indo embora, depois de o desfile ter sido um verdadeiro sucesso, Jack me olhou com um sorriso enorme, e anunciou que eu estava olhando para o mais novo proprietário do Madison Pub, o maior e mais famoso pub do estado. Lembro de naquela noite, estarmos com a cabeça cheia de álcool e felicidade que comemoramos a novidade na garagem mesmo, nem conseguimos esperar para entrar em casa. O senhor com que Jack havia conversado, era nada menos que o dono do lugar, onde nunca cogitamos ir, com alguma proposta de compra, a não ser para beber ou curtir um show. Jack com seu jeito que cativa a todos, logo encantou o Sr. Linton, que secretamente pensava em se desfazer do local que fez sua fortuna, mas não sabia para quem, já que seus filhos não se interessavam nem um pouco por qualquer espécie de trabalho. Ele viu em Jack a pessoa ideal para não deixar o local morrer quando ele se aposentasse, e não precisou fazer a proposta duas vezes para Jack aceitar.
Uma enfermeira com passos discretos entra no quarto, me distraindo. Mede minha pressão, e verifica os medicamentos que estão sendo administrados pela minha veia, com uma agilidade que parece mecânica.
- Será que eu poderia... – começo.
- Por favor senhora – ela diz, me interrompendo. – Apenas repouse. Logo logo receberá visitas, mas por ora, precisa repousar. Sua pressão ainda está baixa.
Ela sai, sem dar tempo para minha resposta.
Volto a pensar em como as coisas se ajeitaram, quando Jack começou a administrar o pub, e posteriormente tocar lá. O local já vivia lotado, mas quando passou para as mãos de Jack, as pessoas faziam fila do lado de fora para entrar. Foi uma loucura. Estávamos tão felizes, que ás vezes dava até medo, de que algo pudesse acontecer para estragar nossa felicidade. Foi no natal do ano passado, enquanto visitávamos meus pais, que descobrimos algo que nos deixou atônitos, sem saber se ficávamos felizes ou tristes. Minha cabeça dói tanto com essas lembranças que fecho os olhos já queimando pelas lágrimas, e cedo ao sono que me envolve, na esperança de que quando eu acordar, Jack esteja comigo, e tudo esteja perfeitamente bem.
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E se...?
Non-FictionQuem nunca pensou sobre o que poderia ter acontecido se tivesse feito escolhas diferentes na vida? Emilly Foster é uma designer bem sucedida, e seu namorado Eric é a personificação da perfeição. Porém, ela se sente incompleta, sente que algo falta e...