Capítulo 18

185 22 0
                                    

JACK

Eu mal posso suportar minha própria dor, mas tenho que servir de rocha para os pais de Emy. É insuportável você ver pessoas que você ama tanto, sofrendo. Pior que isso, é você sofrer pelo mesmo motivo, e todos não terem nada a fazer, a não ser esperar. Duas semanas parece pouco tempo, mas se torna uma eternidade quando você espera dia após dia um sinal, qualquer indício de que tudo vai ficar bem, e tudo que recebe são olhares de compaixão dos médicos e enfermeiras. Nesse período, eu fui até minha casa umas quatro vezes apenas. Não me lembro qual foi a última vez que comi. Que dormi. Que sorri. Quando os pais de Emy estão por aqui, eu finjo não estar extremamente abalado. Na verdade não consigo fazer muita coisa a não ser deixá-los chorar em meu ombro, quando cansam de se apoiar um no outro. Só quando eles vão embora é que me permito demonstrar minhas reais emoções. Minha casa tem sido a capela que tem ao lado do hospital. Quando não estou prostrado ao lado da cama dela, estou na capela implorando para que Deus faça um milagre. Eu não sei se ele pode me ouvir. Se ele ao menos existe, mas todas as minhas esperanças estão depositadas Nele. Eu fico pensando, o que será de mim, se Emilly... bem... se ela.... Não acordar. Os médicos a transferiram para um quarto simples, pois a uti está sempre precisando ser desocupada para novos pacientes. Eles já desistiram de salvá-la. Mas Deus não pode desistir dela. Como eu vou conseguir seguir em frente? Triste mesmo, é o fato de eu só conseguir entender, como eu não sou capaz de viver sem ela, agora que estou a perdendo. O pior, é que eu não estou a perdendo para outro cara, nem nada disso. Eu custo a acreditar que isso está acontecendo. Quando eu perdi minha mãe, foi difícil. Eu sempre achei que eu sentia ódio por ela, por todas as merdas que ela fazia. Mas quando ela morreu.... Eu vi o quanto a amava. Eu sofri muito, mas estou sofrendo muito mais agora. Minha mãe se foi, de uma hora para a outra. Não sei se um infarto fulminante causa muita dor, mas é rápido. Eu sei que ela não sofreu. Mas Emy... Eu não sei o que ela está sentindo, se ela escuta todas as vezes que eu imploro para que ela lute, e fique comigo. Se ela escuta seus pais chorando ao seu lado. Se ela escuta Jéssica se lamentando pelos anos sem sua amizade. Saber que ela pode estar sofrendo, é mais doloroso do que saber que ela pode nos deixar a qualquer momento. Sinto o sono me envolvendo aos poucos. Esses momentos se tornaram raros, pois estou sempre alerta para o caso de qualquer coisa acontecer. Emy continua imóvel na cama, cheia de agulhas em suas veias. Um colar cervical no pescoço. Uma perna engessada. O monitor onde mostra seus batimentos tem sido minha distração. Me proporciona uma felicidade estranha, pois o coração dela está batendo. Está batendo repito sempre para eu mesmo. Enquanto ele bater, eu vou continuar a esperando. Nem que isso demore. Me permito dormir um pouco, com a esperança de que quando eu acordar, tudo isso não tenha passado de um longo e terrível pesadelo.

Estou tocando, num barzinho qualquer. Entre as pessoas, assistindo ao show, localizo Emilly. Fico surpreso, pois ela não está mais aqui. Ela se foi. Mas eu não sei para onde. Tento ir até ela, mas as pessoas me atrapalham. Elas separam cada vez mais nós dois. Emy tenta me estender a mão, mas quando consigo agarrá-la, ela desaparece, depois de gritar meu nome.

- Jack – escuto Emy chamar, como em meu sonho, só que dessa vez, mais alto. Isso não parece mais um sonho.

Abro os olhos lentamente, sentindo toda a canseira se depositar sobre mim de uma só vez. Mas o que vejo, bem a minha frente, faz meu corpo se revigorar. Faz eu acreditar, que milagres existem. Parece irreal, mas está aqui, e eu não estou sonhando. Meu coração bate descompassado em meu peito. Meus olhos, tão acostumados com as lágrimas, ficam marejados instantaneamente, só que dessa vez é diferente. Dessa vez eu choro, de felicidade. De alegria. Me levanto da cadeira, para ir até Emilly que me olha com tamanha ansiedade, lágrimas por seu rosto, e a abraço com toda aquela dor se esvaindo de meu corpo. Enquanto sinto, sua respiração em meu pescoço, tenho a certeza de que Deus existe. E de que Ele não me abandonou.

E se...?Onde histórias criam vida. Descubra agora