Querida madrasta

17

Arizona Robbins

Ali, parada naquele corredor, eu intercalava meu olhar entre Marcela e Callie, não sabia o que fazer e muito menos o que responder. Marcela não gostava de mim e eu sabia disso, sempre evitou até olhar na minha cara, nunca trocamos nem um "oi, tudo bem?", mas eu sabia exatamente o que estava acontecendo ali, pelos olhos vermelhos de Callie e a cara de irritada de Marcela, eu estava bem ferrada.

Respirei fundo antes de responder, eu não estava com nem um pouco de paciência pra lidar com a discussão que com certeza iríamos ter.

Eu não fazia ideia de que ficar longe de Callie iria me afetar dessa maneira mas já era um pouco tarde pra voltar arrependida, depois de tudo o que eu havia dito com toda a convicção de que era a coisa certa a se fazer, eu estava enganada.

— Claro. – respondi olhando pra Callie que também me olhava, meu coração estava acelerado por ver aquela carinha triste e saber que era por minha causa.

Eu não havia pensado muito antes de terminar tudo com ela, não havia pensado direito sobre qual era minha real intensão. Quando eu decidi pedir pra terminar eu não estava achando que ia definitivamente terminar.

Eu estava com medo de Eduardo acabar descobrindo, depois de ter transado com ela naquele banheiro eu só fiquei com medo da bomba estourar. Estava tudo tão bom como estava, antes de Eduardo aparecer e decidir passar as férias nessa casa.

Eu queria poder conseguir mentir e esconder o que acontecia entre mim e Callie mas cada vez que encontrava-se Eduardo, eu e ela no mesmo ambiente eu começava e suar de medo, ele podia perceber que eu a olhava diferente e achar que tinha algo fora do normal, eu tinha medo de tudo e não conseguia evitar ou agir naturalmente porque ela me deixava nervosa e ele me deixava apavorada.

Era tão difícil vê-la e não poder toca-la, eu estava ficando sufocada e irritada com a nossa situação, queria gritar pra todo mundo ouvir que era com ela que eu queria ficar, queria dizer ao pai dela que eu estava completamente apaixonada e não me importava com as consequências que aquilo iria me causar, eu queria mais que tudo segurar a mão dela no meio da rua e também dar um beijo de boa noite todos os dias, mas parecia impossível. Eu não parecia ter coragem pra lutar por aquilo por mais que eu quisesse com todo meu coração ficar com ela; eu não tinha força pra enfrentar Eduardo e não sabia se algum dia eu teria.

— Tem que ser rápido. – falei entrando no quarto de Callie, acompanhando as duas. Eu queria ficar o mínimo de tempo possível perto dela.

— Eu não gosto de você. – Marcela começou falando depois de se sentar no puf de frente pra mim, aquilo parecia um interrogatório, ela me encarava parecendo esperar o meu primeiro vacilo. – E só não vou partir pra cima de você agora por causa de Callie que iria me odiar pra sempre se eu encostasse em um fio de cabelo seu. Mesmo não merecendo o que ela sente por você, eu respeito, cada um faz suas próprias escolhas ruins.

— Marcela! – Callie a repreendeu.

— Você não vai fazer minha amiga de idiota, não enquanto eu existir! Eu não vou deixar você fazer o que quiser com ela e depois dispensa-la como fez hoje. Sem motivo nenhum.

— Isso é entre nós duas, acho que Callie é bem grandinha pra precisar que você a diga o que fazer. — resmunguei.

— Não estou dizendo a ela o que fazer. Estou dizendo a você. – eu revirei os olhos respirando fundo e tentando manter a calma. – Não. Magoe. Minha. Amiga. – falou pausadamente e com uma cara que me dava medo, ela parecia uma psicopata que iria me matar a qualquer momento. – Ou eu juro por tudo que é mais sagrado, vou te procurar até no inferno e vou acabar com a sua vida.

— Eu... – ia falar mas ela me interrompeu, além de arrogante ela é sem educação.

— Ainda não terminei. – levantou o queixo, definitivamente não tinha como me irritar mais, eu só queria voar encima dela – Se vocês quiserem ficar juntas, eu vou apoiar, por Callie. Mas se você quer só um passatempo, eu sugiro que procure outra pessoa.

— Eu não quero um passatempo. – me virei pra olhar Callie que estava sentada um pouco longe de mim de cabeça baixa  – E você sabe disso. Nunca menti sobre meus sentimentos pra você. Sempre deixei o mais claro possível que queria ficar com você mas tinha medo do seu pai. Ou estou mentindo, Calliope? – ela me encarou, demorou um pouco pensando mas respondeu.

— Não.

— E você mais do que ninguém deveria ter percebido que eu não estava a vontade com vocês dois na mesma casa, que eu estava surtando e você não fez absolutamente nada.

— Eu te procurei, tentei conversar com você.

— Não, Calliope. Você foi falar de si mesma, me pedir desculpa pelo que fez mas não estava nem aí pra nossa situação.

— Eu não tinha como saber. – ela já estava com lágrimas nos olhos enquanto falava, eu estava quase mas segurei, não podia me deixar afetar.

— Usei a desculpa de nossa briga pra terminar tudo porque não sabia como te dizer que eu era fraca e não estava sabendo lidar com tudo aquilo.

— Precisava ter me dito. Eu poderia te ajudar. Você foi muito egoísta de só pensar em você.

— Eu fui egoísta? – aumentei meu tom de voz. – Você tem certeza que eu só pensei em mim? – ela assentiu lentamente um pouco receosa. – Tudo o que eu fiz foi pensando em você, foi por sua causa, Calliope! Até parece que você não está melhor sem mim.

— Da pra ver pelo meu estado que eu não estou nada melhor sem você. – resmungou revirando os olhos, ela não estava mesmo bem sem mim.

— E só pra te deixar ciente dos seus atos... – Marcela que até então estava calada deixando nós duas nós entendermos resolveu voltar a falar. – Você fez ela ter uma crise de ansiedade e uma crise de pânico. Ela estava aqui sozinha, e foi por sua causa.

Eu engoli seco, voltei olhar pra Callie e mais uma vez ela estava de cabeça baixa; me virei na cama andando de joelhos até onde ela estava sentada, encostei a ponta dos meus dedos no queixo dela fazendo-a olhar pra mim. Algumas lágrimas tinham escapado e a respiração dela estava desregulada, eu estava me odiando por ter feito tão mal pra ela. Passei meus braços por cima dos ombros dela e a abracei apertado. Ela demorou a me abraçar de volta mas acabou descansando os braços na minha cintura.

— Me desculpe. – sussurrei. – Não consigo colocar em palavras o quanto eu estou triste por isso ter acontecido e mais ainda por ter causado isso em você.

— Já passou. – falou tentando não dar muita importância.

— Eu prometo que vou lutar por nós duas, prometo que vou tentar não ter medo.

— Você só está falando isso porque sua consciência está pesada. – ela se afastou tentando limpar as lágrimas. E ela tinha razão, eu só queria tranquiliza-la e limpar a minha barra.

— Mas também porque eu te amo e quero você na minha vida. – segurei a mão dela – Preciso que me ajude, eu sou medrosa e insegura, não consigo fazer isso sozinha.

— Eu vou pensar. – ela suspirou e soltou minha mão.

— Leve o tempo que precisar, ainda estarei aqui quando você decidir e vamos lutar por isso juntas, se você quiser, é claro. – ela assentiu lentamente, dei um beijo na testa dela e sai do quarto.

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