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Callie Torres

Arizona e eu estávamos cada dia mais próximas, nós sempre conseguíamos arrumar uma desculpa pra passar mais tempo juntas, muitas vezes quase fomos flagradas aos beijos ou meu pai chegava minutos depois de termos transado em algum lugar arriscado quase descobrindo tudo mas de resto, estava indo ok.

Meu pai estava fazendo as malas, mais feliz do que nunca por ter "conseguido" fazer com que eu e Arizona nos aproximasse e também por finalmente poder voltar aos negócios, ele odiava ficar sem trabalhar e foi uma grande surpresa ele passar dois meses inteiros com a gente.

Eu havia acabado de chegar da faculdade, era sexta feira e no final do dia Eduardo iria pegar o vôo para Miami. Eu não poderia estar mais empolgada. Passei pelo corredor indo em direção ao meu quarto mas parei quando ouvi uma discussão, a voz de Arizona se sobressaía quando ela gritava irritada. Era errado, afinal a briga era deles dois mas eu não consegui não parar e começar a prestar atenção.

— Eu ainda não entendi porque você está gritando, eu só te fiz uma pergunta! – meu pai tentou se defender.

— Você não fez um pergunta, Eduardo! Você ensinuou que eu estou com outra pessoa. – meu corpo gelou, meu coração pareceu errar a batida, merda! Ele sabia de alguma coisa!

— Você não pensaria o mesmo se a situação fosse ao contrário? Você mal deixou eu te tocar desde que eu cheguei. Você acha que eu não sei que você sai no meio da noite e só volta de manhãzinha?

Ela se calou, não tinha uma resposta para aquilo, era verdade. Ela dormia comigo todas as noites enquanto meu pai fazia o papel de corno manso dormindo sozinho. Se ele sabia disso, ele deveria saber de todo o resto, ou pelo menos desconfiava.

— Você deve estar ficando louco! – ela rebateu depois de um tempo.

— Acho que você não está satisfeita com nosso casamento—

— Claro que não estou. Você acha que eu gosto de passar meses sozinha, sem você?

— E quando eu apareço você mal quer dormir na mesma cama que eu.

— Porque eu estou cansada e desgastada, Eduardo! Você não é o mesmo que eu conheci. Se eu soubesse que era pra ser uma esposa a longa distância eu preferiria ter continuado solteira! Eu sinto sua falta e você parece não estar nem aí. – ela gritava, eu estremeci com cada palavra que ela falou. Sabia desde o início que era um péssima idéia ficar de butuca na conversa dos outros.

Eu sinto sua falta.

Respirei fundo tentando achar uma explicação, Arizona me dizia que não sentia nada por ele, só se casou por minha causa, pra ficar perto de mim. Ela não gostava dele, ela não podia sentir a falta dele.

— Isso é uma desculpa pra você esconder o seu casinho? – ele falou em tom debochado.

— Que porra de casinho, Eduardo? – ela gritou mais alto – Você deve estar ficando louco da cabeça se acha que eu teria coragem de te enganar. Eu fiz tudo pra te agradar, eu até me aproximei da sua filha porque você ficava chateado com as nossas brigas! Ela me odeia, mas eu fiz isso por você!

— Em compensação, você corre quando eu toco em um fio de cabelo seu. Tem quanto tempo que nós não transamos, Arizona? Seis meses? Dez? Um ano?

— Então toda essa sua desconfiança é por causa de sexo? Porque eu não estou nos meus melhores dias—

— Você nunca está nos seus melhores dias, Robbins!

Ele chamou pelo sobrenome. Eduardo a chamou pelo sobrenome. Ele estava muito, muito puto.

— Os meus melhores dias são quando você não está aqui. – ela falou de forma fria, a conversa estava acabando e eu precisava sair dali, mas não sem antes saber do final. – Eu não te aguento mais. Estou cansada e no meu limite.

— Isso é só uma crise, todo casamento tem. Vou deixar você pensar com clareza. – ela nada falou, apenas fez um som nasal em tom de deboche.

Ouvi passos, e corri pra porta do meu quarto. Enquanto meu pai abria a porta dele com rapidez, eu abria a minha na maior calma, fingindo com a maior naturalidade que havia acabado de chegar.

— Oi papai. – fingi entusiasmo e me virei para vê-lo. Ele carregada uma mala de rodinhas, rapidamente franzi o cenho confusa. – Achei que fosse viajar só mais tarde.

— Meu vôo foi adiantado, meu amor. – ele inventou uma desculpa com uma expressão meio triste.

Joguei minha mochila no canto do quarto e fui abraça-lo. Todos os dias desses dois meses eu quis que ele fosse embora mas agora que ele estava mesmo indo, eu estava triste. Ele era meu pai e eu sentia a falta dele. Agora demoraria cerca de seis meses pra ele voltar e fazer uma visita de dois dias. Eu odiava o trabalho dele. Talvez seja por toda essa ausência dele que aconteceu o que aconteceu. Se ele estivesse em casa, eu nunca teria coragem de dar encima de Arizona, praticamente me jogar aos braços dela. Eram raros os momentos em que eu me arrependia de algo, mas eu estava me sentindo a pior pessoa do universo por ter desejado que ele voltasse logo pra Miami só pra poder ficar com a mulher dele.

Ele estava triste, isso era nítido. Eu sabia o quanto ele gostava dela. Podia não demonstrar, mas ele gostava. Não mais do que o trabalho dele, por isso ele não havia largado tudo pra ficar com ela, mas uma parte dele gostava mesmo dela.

— Vou sentir sua falta. – eu senti um nó na minha garganta, e por cima dos ombros dele acabei vendo Arizona sentada na cama nos observando. Essa foi a gota d'água pra eu começar a chorar.

Eu era exatamente igual a ela, sentia um medo absurdo dele descobrir, pelas consequências. Era meu pai, minha única família. Ele iria me odiar e eu iria ficar sozinha. Acusei Arizona de ser egoísta e pensar apenas no medo dela mas eu entendia, eu sentia e era real, tão forte que eu sentia vontade de desistir de tudo enquanto ainda tinha tempo. Eu queria acabar com tudo e fingir que nunca aconteceu. Ele nunca saberia de nada, eu não precisaria lidar com a rejeição e a decepção.

— Te amo, filha. Você é tudo o que eu tenho, o melhor presente que sua mãe me deu. – ele me afastou pelos ombros, com os olhos úmidos igual aos meus, ele depositou um beijo na minha testa – Você é o meu maior orgulho.

— Também te amo, volta logo. – perdi engolindo o choro, não era a hora de desabar.

Ele balançou a cabeça e começou a se afastar, desceu as escadas em silêncio enquanto eu o observava.

Você é o meu orgulho.

Eu estava definitivamente me sentindo um lixo, a pior pessoa do universo, uma grande filha da puta e nada e nem ninguém poderia tirar isso de mim. Arizona andou até mim silenciosamente, parou do meu lado e antes que ela abrisse a boca pra falar alguma coisa, eu me joguei nos braços dela deixando as lágrimas caírem.

— Calma, calma. – ela falou passando a mão pelos meus cabelos. – Vai ficar tudo bem.

Ela sabia o motivo pelo qual eu estava chorando e por isso me abraçou ainda mais forte.

— Eu escutei a briga toda. – suspirei – Acha que esse é o fim de vocês dois?

— Eu não sei. Não sinto nada por ele, não faz sentido continuar com isso.

— Eu te amo. – sussurrei me afastando dela mas ainda continuava bem próxima. – E também amo ele. Eu não sei o que fazer se perder um dos dois.

— Vamos dar um jeito nisso, eu prometo.

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Querida madrastaOnde histórias criam vida. Descubra agora