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Margot

Minha cabeça gira. Ouço as vozes ao fundo enquanto, aos poucos, recobro a consciência de onde estou.

- Ela está acordando. - alguém cochicha, como se fosse prejudicar a situação se falasse alto o suficiente.

- Como está a cabeça dela, Richard? - acho que é a voz da minha mãe, um tom preocupado? Richard?

Abro os olhos aos poucos, com um pouco de dificuldade pela excessividade de luz no quarto. Sei onde estou. É o meu antigo quarto, na casa dos meus pais. Olho ao meu redor, vendo todos os rostos conhecidos do jantar.

- Nenhuma lesão. - Richard responde. - Ela vai ficar bem, só precisa ficar de repouso... e comer alguma coisa.

Vejo ele se aproximar, me olhando para chamar minha atenção.

- Margot, sua pressão estava muito baixa. Você comeu alguma coisa hoje? - me pergunta devagar.

Tento me concentrar para lembrar do meu dia. Não, minha última refeição provavelmente foi com Clair. Não me lembro de ter comido nada, a não ser pelo gole de café que tomei de manhã. Estava enjoada demais para isso.

- Não... quer dizer, pouco, eu acho. - tento responder e, com algum esforço, me sento na cama.

- Ela é anoréxica ou alguma coisa? - ouço a voz de Miranda cochichando, mas não tenho forças o suficiente para me importar. Clair, por outro lado, sim.

- Cala a boca, se for pra falar merda, garota. - diz com rispidez e altura o suficiente. Miranda parece ofendida, mas antes que possa refutar, John intermede.

- Miranda, por que não vai me esperar na sala? Hm? - ele diz, levando-a do quarto.

Volto a me concentrar em Richard, o médico que morava a umas três casas daqui, que conversa com minha mãe. Se fosse possível diagnosticar culpa, eu provavelmente estaria preocupada agora. Mas ninguém sabia o real motivo disso tudo, ninguém saberia.

- Ei, garota, você nos deu um susto. - Clair sorri ao se sentar na minha cama. Sorrio de volta.

- Desculpa, gente.

- Se você se desculpar mais uma vez por ter passado mal, a gente vai bater em você. - Mad ameaça e eu rio. E então me lembro de que alguém está faltando na quarto.

- Onde está o Ross? - pergunto.

- Saiu pra atender uma ligação. - Clair revira os olhos. - Deve estar voltando daqui a pouco.

Aquilo, por incrível que pareça, não me surpreendeu.

Vejo Mike se distanciar dos meus pais e vir até mim, o rosto preocupado.

- Poxa, Margot, eu não sabia que você estava o dia todo sem comer. - ele diz com ansiedade, e depois começa a tagarelar. - Desculpa, eu devia ter te perguntado, sei lá, feito alguma coisa, te chamado pra almoçar, você estava agitada e...

- Mike, estou bem! - eu o interrompo. - Não foi culpa sua, eu que, sei lá, fiquei ansiosa. Estou bem, de verdade.

Michael não parou de tagarelar sobre como se sentia mal e que não me deixaria mais sem comer, embora aquilo não fosse nem de longe sua função. Em algum momento, eu desisti de insistir que estava bem e só o deixei falando.

Eventualmente, Ross voltou ao quarto e, com o tom preocupado, ouviu tudo o que Dr. Richard tinha a dizer. Eu sabia que não tinha nada demais, mas nada impedia minha família de se assegurar de que isso não acontecesse de novo.

Maldives || l.h. (Completa) Onde histórias criam vida. Descubra agora