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Margot

Com as mãos fechadas em concha, pego um pouco de água e jogo no meu rosto. Está gelada, mas não me importo. Respiro fundo e me apoio na pia do banheiro.

Tudo está quieto, quieto demais. Os pais de Luke saíram de casa, pude ouvir quando ainda estava acordada, à sete da manhã, deitada na cama e esperando. Não demorei muito a levantar depois que ouvi a porta principal ser batida.

Olho a nécessaire em cima da pia, com minha escova de dentes, pasta, desodorante e prendedores de cabelo. Checo mais uma vez, me certificando de que está tudo ali. Quando termino, fecho e a seguro com uma força desnecessária, caminhando de volta para o quarto.

Passei horas da minha noite e parte da manhã pensando nas minhas opções. Cheguei a pensar em fazer isso enquanto Luke estivesse dormindo, mas concluí que seria ainda pior. Eu só precisava de um tempo e ele poderia me dar isso sem relutar tanto.

Era isso que eu dizia a mim mesma. Tempo.

Eu precisava estar com meus pais, precisava dar apoio. Precisava ser um pouco mais gentil e compreensiva com Ross e precisava aliviar o peso dos ombros de Michael, que permaneceu em Washington enquanto eu me aventurava do outro lado do mundo. Só depois de dois dias imteiros percebi o quão egoísta minhas decisões eram. Elas implicavam na vida de todos e eu as tomei considerando apenas a mim mesma.

Entretanto, não era o fim do mundo. Eu iria voltar à Washington, iria consertar as coisas. Conversaria com minhas amigas, apoiaria meus pais e, quando tudo estivesse mais calmo, resolveria minha situação com Ross. Tudo como deveria ter sido feito desde o princípio.

Luke entenderia isso. Ele tinha que entender. Me prometeu, lá no início, me disse que estaria comigo e me entenderia. Era isso que eu repetia inúmeras vezes para mim mesma enquanto colocava minhas roupas dentro da mala e a fechava.

Fiquei em silêncio dentro do quarto, sentada na cadeira que se encostava na parede, apenas encarando o homem dormindo de bruços na cama. Estava tão tranquilo que cheguei a cogitar a primeira ideia por diversas vezes. Ele acordaria quando eu estivesse no aeroporto, prestes a partir, e quando me ligasse para saber do meu paradeiro, eu já estaria dentro do avião, de volta à Washington.

Mas isso seria injusto com ele. Pensei no seu desespero ao imaginar o pior cenário.

Então, com medo de tomar a decisão errada, eu fiquei, até seus olhos se abrirem pela claridade vinda do lado de fora. Eram nove quando isso aconteceu. Meu coração se apertou ao soar do relógio de cabeceira. Tic tac. Tic tac. Nem mais rápido, nem mais devagar.

Seus olhos percorreram o espaço vazio ao seu lado, erguendo o braço lentamente ao perceber que eu não estava lá. Sua expressão era de absoluta confusão.

Tic tac.

- Margot...? - percebo que sua intenção é me chamar, mas ele diminui o tom quando percebe minha presença no quarto. Se senta na cama, o sol batendo e iluminando seu peito nu ao fazer. Ele sorri para mim.

- Bom dia. - sua voz é rouca em contraste com o rosto suave. A minha fica presa na garganta. Engulo em seco.

Tic tac.

É como se um zumbido ressoasse violentamente nos meus ouvidos e tudo o que eu ouvisse fosse abafado pelo ruído. Eu conseguia ouvir a pressão do meu coração e sentia o gosto amargo na minha boca, como se palavras tivessem gosto.

Tudo vai ficar bem.

- Margot?

Luke está preocupado, é óbvio na expressão que toma seu rosto. Ele se levanta cuidadosamente da cama, analisando minha figura paralisada, em exceção pelos dedos que se entrelaçam e roçam numa tentativa de aliviar minha ansiedade.

Maldives || l.h. (Completa) Onde histórias criam vida. Descubra agora